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Demitido do COB, Bichara recebe apoio de atletas e convite do governo
O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley Teixeira, conseguiu desagradar a gregos e troianos com uma postura adotada a salas fechadas ontem (22). Ao demitir o diretor de Esportes Jorge Bichara de forma repentina e sem uma justificativa clara, ele gerou incômodo entre atletas, presidentes de confederação, membros do Conselho de Administração e até no governo federal.
"Nós do governo não nos metemos e jamais iremos interferir nas questões internas das confederações, mas a dois anos das Olimpíadas perder uma pessoa com a capacidade do querido Jorge Bichara é lamentável. Bichara, as portas do governo federal estão super abertas para o que você precisar", escreveu, em sua conta fechada no Instagram, o secretário nacional de Esporte, Marcelo Magalhães, acrescentando as hashtags "força Bichara" e "o esporte olímpico sai perdendo".
Referência no mountain bike e um dos atletas de ponta do esporte olímpico brasileiro que menos depende do COB, Henrique Avancini foi um dos que recorreu às redes sociais para reclamar. "Chocante" Beira o absurdo! Jorge Bichara é uma das pessoas mais competentes com quem tive a oportunidade de trabalhar. Muita gente 'entende' de esporte no Brasil, mas grandes gestores esportivos são raríssimos e para mim ele era um dos melhores, se não o melhor".
No Twitter, Poliana Okimoto, membro da Comissão de Atletas, também protestou. "A saída do Jorge Bichara do COB é uma grande perda ao esporte olímpico do Brasil. O cara era competente, tinha expertise no que estava fazendo e tinha acabado de fazer um resultado histórico pro Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Uma perda? uma pena?"
Conhecido por ter poucas papas na língua, Isaquias Queiroz falou com todas as letras, ao jornal O Globo, o que outros atletas têm dito em particular: "Espero que o presidente do COB tenha vergonha na cara e vá a público explicar o motivo da demissão. Não tem, né? Eu não posso me esconder agora. E espero que não seja punido por isso. Quando fui ouro no Japão, o presidente nem me deu um abraço. O Bichara chorou comigo." De fato, Bichara chorava de soluçar ao ver Isaquias campeão olímpico.
Desde que foi demitido ontem à tarde, em reunião que contou apenas com Paulo Wanderley e o CEO Rogério Sampaio, Bichara já recebeu centenas de mensagens de apoio, em lista que conta com boa parte dos atletas que subiram ao pódio em Tóquio. Na despedida da seleção de ginástica, que treina no CT do COB e era um xodó dele, o choro correu solto.
No grupo de Whataspp de presidentes de confederação, ninguém se colocou ao lado de Paulo Wanderley na decisão de demitir Bichara sem explicar por que, nem apontar um substituto. Quem se posicionou o fez de forma contrária, ainda que alguns tenham dito que respeitam a postura adotada pelo comandante. Mas muitos se incomodaram de terem passado o fim de semana todo com Paulo Wanderley no Congresso Olímpico e não terem sido informados que uma grande mudança estava por vir, ainda que a decisão estivesse tomada há algum tempo e já fosse de conhecimento de funcionários subordinados a Bichara.
Duda Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skate, expressou no Twitter a preocupação de muitos: "Ao tomar essa decisão no meio de um ciclo olímpico atípico e curto, sem ter o planejamento claro e divulgado sobre o que vai acontecer, entendo que é um erro estratégico e que pode custar caro ao esporte olímpico nacional. Inclusive nós do skate já tínhamos discutido o planejamento com o departamento de esportes para esse ciclo 2024 e agora não sabemos como ficará", escreveu. "Quero estar errado, mas essa saída no momento e da forma como foi conduzida não contribuirá em nada com o sucesso desse ciclo."
Entre os membros da Comissão de Atletas, a decisão também pegou muito mal. Na sexta, em conversa com jornalistas em Salvador, Yane Marques, presidente do colegiado, disse que o grupo estava 100% alinhado com a gestão Paulo Wanderley. Mas muito desse apoio estava lastreado pela boa relação que Bichara tem com atletas e ex-atletas. Tanto que ele foi determinante para que a comissão votasse em peso em Paulo Wanderley nas eleições de 2020, dando a ele a reeleição.
Também foi determinante, naquele momento, a atuação do vice Marco La Porta, escanteado depois dos Jogos de Tóquio. Com a demissão de Bichara, sobre a qual ele não foi informado, La Porta assumiu publicamente que é candidato nas eleições de 2024, agora como oposição a Paulo Wanderley, que pretende se candidatar de novo. Para ele, a demissão do diretor de Esporte, de quem era próximo, foi uma forma de atingi-lo.
Bichara não vai dar entrevistas por enquanto. Paulo Wanderley também não vai falar com a imprensa, se limitando à nota burocrática, publicada no site do COB, informando o desligamento. A expectativa é que, amanhã cedo, em uma reunião extraordinária do Conselho Administrativo, o presidente seja cobrado a dar explicações.
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