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COB diz que não consultou atletas sobre mudanças na diretoria de Esporte
Reeleito para a presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB) em 2020 graças aos votos da Comissão de Atletas, Paulo Wanderley Teixeira não consultou o órgão colegiado, eleito pelos atletas olímpicos brasileiros, antes de fazer grande reformulação na área de Esporte. Diretor responsável pelo sucesso do Time Brasil no Pan de Lima e na Olimpíada de Tóquio, quando foram batidos recordes de medalhas, Jorge Bichara foi demitido na terça-feira para que, na quinta, um afilhado de Paulo Wanderley se tornasse diretor.
Em reformulação detalhada ontem (24), Ney Wilson, que ficou 21 anos como coordenador técnico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), assume a diretoria de alto rendimento, voltada à preparação olímpica, enquanto Keiji Saito, muito próximo a Paulo Wanderley e sua família, vira diretor de desenvolvimento esportivo.
"Não foi feita nenhuma consulta aos atletas. Também não foi feita consulta às confederações e a ninguém", explicou Rogério Sampaio, CEO do COB, em entrevista coletiva da qual participaram Keiji e Ney. Paulo Wanderley, responsável pela decisão, não falou com a imprensa. "Essa foi uma decisão da diretoria, da gestão do COB", reforçou o campeão olímpico. No fim de semana, diretoria, comissão de atletas, atletas e cartolas estiveram reunidos em Salvador, no Congresso Olímpico, sem que isso fosse discutido e com a Comissão de Atletas dizendo estar "100% alinhada" ao presidente.
Sem Paulo Wanderley na coletiva, coube a Rogério explicar por que a gestão optou por demitir um diretor que era adorado pelos atletas — especialmente os mais vitoriosos, a que dedicava maior atenção. "A gente já vem debatendo a divisão da área de esportes há algum tempo. Já houve divisão na área administrativa e financeira, já houve divisão em comunicação. Já havia entendimento que deveria haver divisão na área de esportes para atender melhor as confederações e os atletas", argumentou.
Como havia publicado o Olhar Olímpico ontem, o COB usou como justificativa o fato de Bichara não ter aceitado, durante conversa em dezembro, que sua área fosse dividida em duas, sendo uma de alto rendimento, que em tese seria comandada por ele, e uma de ciências do esporte, que seria comandada por Christian Trajano, que é médico, é amigo do filho de Paulo Wanderley, e hoje é gerente da área de antidoping.
"O COB entende a importância da divisão da área. Queremos contar com as melhores cabeças. Precisamos reforçar nossa equipe a todo momento e todo instante, porque os desafios são grandes, enormes. Naquela reunião, ao dizer que não aceitava isso, ele pediu demissão, pediu desligamento. O presidente pediu que ele repensasse aquela situação", contou Rogério Sampaio.
Bichara, porém, também disse na reunião, pelo que apurou o Olhar Olímpico, que aceitava dividir a diretoria com Keiji Saito, porque na prática isso já acontecia. Apadrinhado por Paulo Wanderley, Keiji, que também veio do judô, era em tese subordinado de Bichara enquanto gerente, mas na prática respondia ao presidente. Ele e Bichara não se falavam. A nova composição da diretoria anunciada ontem era exatamente o que Bichara aceitava: ficar como diretor de esporte ao lado de Keiji.
Quando demitiu Bichara na terça, Paulo Wanderley pretendia promover Keiji e Christian, duas pessoas próximas a sua família. Mas a repercussão foi tão grande que ele foi aconselhado a procurar um nome "de peso" para estancar uma crise para a qual não tinha aliados. Todo o movimento olímpico havia ficado contra a diretoria do COB. E foi aí que surgiu o convite a Ney Wilson, segundo o próprio.
"Eu fui procurado essa semana para vir aqui e conversar. Conversamos um pouco e ele (Paulo Wanderley) me convidou, me surpreendeu. Falei: 'me dá 24 horas para pensar, dividir com minha família, ver se realmente estou pronto para isso'", contou Ney Wilson, anunciado ontem pela manhã.
Ele, que era presidente da federação de judô do Rio, e Paulo Wanderley, que comandava a entidade do Espírito Santo, foram os principais articuladores da queda da família Mamede na CBJ em 2001, junto de Aurélio Miguel. Na época, dividiram o poder com Paulo ocupando a presidência, eleito por unanimidade (e depois reeleito três vezes, permanecendo no poder por 16 anos), enquanto Ney, professor de educação física na UFRJ, se tornou coordenador técnico. Ficou no cargo por 21 anos.
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