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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Pivô de demissões no COB é acusado de assédio moral

Christian Trajano, gerente de educação antidoping do COB - Divulgação
Christian Trajano, gerente de educação antidoping do COB Imagem: Divulgação

06/04/2022 04h00

Pivô da demissão de dois desafetos nas últimas semanas no Comitê Olímpico do Brasil (COB), o gerente da área de antidoping da entidade, Christian Trajano, está sendo acusado de assédio moral por Vinicius Loyola, ex-superintendente da entidade. Loyola era o único subordinado de Trajano e diz que seu antigo gestor costumava gritar em reuniões, socar a mesa e ofendê-lo. Por isso, entrou na semana passada com processo por assédio moral e danos morais contra o COB na Justiça do Trabalho.

"Ele me xingava em particular, chamando de mobral, no sentido de burro, chamando de incompetente. A vida inteira eu fui atleta. Em algumas situações em que eu dava minha opinião na visão de atleta, ele dizia que não tinha coerência, que era pensamento de gente burra", afirma Loyola, demitido uma semana antes de Jorge Bichara, que deixou o cargo de diretor de Esporte.

Segundo ele, os episódios de assédio moral nunca aconteciam em reuniões com outras pessoas, ainda que a reportagem tenha ouvido fontes do COB descrevendo Trajano como rude ao tratar com outras pessoas. "Ele só fazia isso em sala fechada. Gritava várias vezes, de dar soco na mesa. Aconteceu em ocasiões diversas. E varias vezes ele falava que fazia isso porque tava pressionado e descontava em mim", diz Loyola. Trajano alega que as acusações são infundadas.

Trajano e Loyola eram amigos e chegaram a dividir um apartamento. Também trabalharam juntos, antes do COB, na Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), ligada ao governo federal. Na ABCD, eram subordinados a Sandro Teixeira, o Sandrão, filho do presidente do COB Paulo Wanderley. Na mesma época, Rogério Sampaio, hoje CEO do COB e braço direito de Paulo Wanderley, ocupava um cargo no Ministério do Esporte.

Quando o grupo foi desligado do governo federal, Loyola e Trajano foram contratados pelo COB para criarem uma área de educação antidoping. Em uma equipe de duas pessoas, Trajano foi nomeado gerente e Loyola, superintendente. Ao longo dos últimos dois anos, a relação entre os dois se deteriorou.

Loyola diz que pensou em procurar a área de compliance do COB, mas tinha medo que a denúncia acabasse se virando contra ele, diante da influência de Trajano. "É aquela situação: os mais fracos são os que mais se prejudicam. Tinha medo de falar qualquer coisa e ser recriminado. Eu tinha um certo medo de ser mandando embora", explica ele, que protocolou processo na Justiça do Trabalho na semana passada. A ação corre em segredo de Justiça.

Procurado pela reportagem, Trajano disse ter sido instruído a só responder por intermédio da assessoria de imprensa da entidade, que respondeu que ele "limitava-se a informar que sempre cumpriu com zelo e rigor ético suas funções na liderança do setor de educação e prevenção à dopagem no esporte".

No fim do mês passado, o presidente do COB, Paulo Wanderley, também mandou embora o diretor de Esporte da entidade, Jorge Bichara, que tinha amplo apoio entre confederações e atletas. Bichara e Trajano vinham batendo de frente há algum tempo. O diretor era contra o COB investir tanto dinheiro em educação antidoping, entendendo que essa função não é do comitê, que nem tinha força de trabalho para fazer um trabalho efetivo, e sim da ABCD. Só em vídeos de educação antidoping foram gastos quase R$ 1 milhão.

A recusa de Bichara em aceitar dividir a diretoria de esporte em duas, para que Trajano fosse promovido, foi o argumento usado pelo COB para a demissão. Bichara foi o diretor responsável pelo recorde de medalhas obtido pela delegação brasileira tanto no Pan quanto na Olimpíada. A ideia foi apresentada a Bichara no fim de dezembro, ele discordou, e colocou seu cargo à disposição.

Paulo Wanderley demitiu Bichara em 23 de março. A coluna apurou que a ideia era promover Trajano para o cargo, mas o plano não foi levado à frente depois que Loyola contratou advogado para processar o COB por assédio moral. Na semana retrasada, o comitê informou à reportagem que, uma vez informado pela coluna sobre o episódio, encaminharia a questão para o Compliance Officer "para o devido processo interno visando apurar as denúncias". A coluna voltou a entrar em contato nessa semana, após a denúncia na Justiça do Trabalho, mas o COB disse que não havia sido informado sobre o assunto.