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Por que Paulo André não tem apoio de colegas do atletismo na final do BBB
Os mutirões de votos puxados por Rayssa Leal, Gabriel Medina e Letícia Bufoni e o apoio declarado de Neymar e Gabigol deixam a impressão de que Paulo André tem o apoio do esporte para ser campeão do Big Brother Brasil. Mas essa é uma meia verdade. Porque, apesar de ter a ajuda de famosos, PA não pode contar com o engajamento de seus colegas do atletismo.
No momento no qual "cada voto importa", como costumam dizer os perfis dos finalistas nas redes sociais, quase ninguém do atletismo fez qualquer demonstração pública de apoio a Paulo André nas últimas 24 horas. Não é só não puxar mutirão, como fizeram as celebridades do esporte. Também são raros os posts citando a presença de PA na final de hoje à noite que pode render a ele o prêmio de R$ 1,5 milhão.
A coluna passou pelas páginas de Instagram de dezenas de atletas de nível de seleção brasileira e só encontrou apoio explícito em quatro: na de Aldemir Gomes, corredor de 200m e várias vezes colega de Paulo André no revezamento 4x100m (os dois reclamaram juntos de terem tido seus técnicos cortados de Tóquio-2020), na de Gabriel Constantino, melhor amigo de PA no atletismo, e nas de Núbia Soares e Altobeli Silva que marcaram na postagem o ex-velocista Basílio de Morais, que administra a carreira deles e de PA.
Mesmo outros atletas agenciados por Basílio, como Erica Sena e Thiago André não fizeram posts sobre o BBB nas últimas 24 horas — e nem vinham fazendo nos últimos meses. Darlan Romani (416 mil seguidores), Thiago Braz (559 mil) e Alison dos Santos, o Piu, (159 mil), atletas que se destacaram nas Olimpíadas de Tóquio no ano passado, também não acionaram seus fãs para apoiarem PA nesta reta final de programa — Piu até compartilhou uma mensagem dizendo que torce por Paulo André, mas ela já sumiu dos seus stories.
Antes de entrar no programa, Paulo André passava longe de ser amado por seus colegas de esporte, e isso não parece ter mudado depois do sucesso no BBB. Pelo contrário. O atletismo é um ambiente conservador, onde prevalece a lógica de que o melhor é quem treina mais. Vide as falas do fundista Altobeli Silva em Tóquio, primeiro reclamando de quem 'treina meio período' e ouve funk no alojamento, e depois criticando quem "vai para festinha", carapuças que serviam em PA.
Radicado no Espírito Santo, Paulo André já não fazia parte da "panela' do atletismo, baseada em São Paulo, estando poucas vezes no ano em contato com a chamada 'comunidade atlética'. Quando ele começou a trabalhar como modelo e foi um dos protagonistas de uma série do Esporte Espetacular, a 10s, que acompanhava atletas que tentavam correr os 100m abaixo de 10 segundos, passou a ser visto como deslumbrado. E o fato de PA ser marrento não ajudou nem um pouco.
Isso ficou claro em um episódio no Troféu Brasil de 2020, já contado pela coluna. Felipe Bardi havia vencido Paulo André no GP Brasil, dias antes, e PA estava mordido. Na semifinal, Bardi venceu sua semifinal com um tempo melhor do que PA havia feito na série anterior e a "torcida" (atletas e treinadores, já que havia proibição de público) fez muita festa. PA sentiu-se provocado e, mesmo longe da melhor forma, venceu a final. Na reta de chegada, fez sinal de silêncio.
Naquele dia, muita gente do atletismo o chamou de "desumilde" nas redes sociais. PA ficou muito chateado, passou a noite em claro, triste por perceber que não tinha o apoio da comunidade na qual vivia. É essa mesma comunidade que agora não faz esforço para ele vencer o Big Brother.
Cada um por si
Mesmo se fosse outro nome do atletismo na final do BBB, a reação da comunidade talvez não fosse muito diferente. Até pela forma como entrou no BBB, sem avisar o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) que daria uma pausa nos treinos e que sonhava com o dinheiro para dar uma vida melhor para o filho, PA não recebeu, logo de cara, o apoio explícito das entidades que representa.
COB e CBAt avaliaram, juntos, que o ideal era não colar na imagem de Paulo André. A ponto de não terem feito uma defesa pública de PA quando governo federal cortou a Bolsa Atleta do corredor, como queria o estafe do corredor. Todo mundo entendeu que o corte era injusto, mas ninguém defendeu Paulo André publicamente — a CBAt alega que o fez, mas a portas fechadas. Sem PA poder se defender por estar na casa e sem o apoio das entidades, ficou para o público a imagem de que PA burlou as regras do Bolsa Atleta.
No sábado, quando PA se garantiu na final, os dois perfis até fizeram um post juntos pedindo votos em PA, mas não passou disso. O silêncio nos quase 100 dias anteriores foi lido por diversos atletas como um aviso de que a CBAt não apoiava a aventura de Paulo André. E muitos deles entenderam que qualquer manifestação em contrário poderia ensejar uma retaliação.
Isso explica, para pessoas ouvidas pela coluna, porque PA não recebeu apoio explícito nem de atletas mais jovens e mais progressistas, que acompanham o programa e torcem pelo velocista. Na dúvida, é melhor ficar quieto.
Ao mesmo tempo, parte da elite da modalidade não tem a mesma visão estratégica que os atletas de skate e surfe que deliberadamente colaram suas imagens na de PA. Em um esporte onde há cada vez menos dinheiro de clubes e patrocinadores, a prioridade é garantir a própria sobrevivência, não oferecer um trampolim para um companheiro com quem pode acabar dividindo a atenção de um mesmo filão de mercado.
Na final de hoje, uma vitória de Paulo André será considerada uma zebra. A enquete do UOL mostra no momento uma boa vantagem para Arthur Aguiar ganhar o programa.
- Assista ao UOL News Esporte e veja comentários de colunistas sobre a participação de Paulo André no reality show:
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