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Pai quer Paulo André no Mundial de atletismo em julho. Dá tempo?
Quando o pagamento das últimas três parcelas do Bolsa Atleta 2021 de Paulo André foi suspenso, o pai dele, Camilo Oliveira, avisou ao governo que ele não deixou de ser corredor por estar participando do BBB e que, em junho, alinharia para o Troféu Brasil. E disse mais: iria correr para ganhar e se classificar para o Mundial de Atletismo em julho, nos EUA.
Faltam 77 dias e algumas horas para o primeiro tiro de 100 metros rasos do Mundial programado para acontecer na cidade de Eugene, no quintal da Nike, marca que agora tem em Paulo André, segundo colocado no reality da Globo, o seu atleta de atletismo com mais seguidores no mundo todo. O problema é que PA está, em tese, no estágio zero de um ciclo de treinamento que costuma levar no mínimo 100 dias para dar algum resultado. E queimar etapas é como queimar um bolo.
"O processo de treinamento do atleta é como a forma de um bolo que está no forno. Não tem como colocar a massa e ligar o forno no máximo para o bolo ficar pronto em 10 minutos. O bolo vai queimar", opina Sandro Viana, medalhista de bronze olímpico em Pequim-2008 com o revezamento brasileiro e bicampeão dos Jogos Pan-Americanos.
"O treinamento tem um processo de maturação, que demora. E, nesses dias, os treinamentos vão de quatro a seis horas diárias, sem contar fisioterapia. Se você acelerar o processo de cozimento, a comida ou não fica boa ou fica com a consistência errada, que é o que mais acontece. Se você não respeita as fases de treinamento, a consistência não vai ser boa", continua Sandro.
Zequinha Barbosa, medalhista em quatro campeonatos mundiais nos 800m e hoje treinador nos EUA, compara o ciclo de treinamento com um carro. "Tem que alinhar a máquina antes de botar para funcionar", diz ele. Máquina desalinhada pode quebrar e causar problemas ainda maiores.
A temporada do atletismo costuma acabar em setembro, quando os atletas entram de férias, voltando em outubro. A partir daí, para os velocistas, são quatro meses de base, até fevereiro, mais ou menos. É o tempo de preparar a receita, de o carro ficar no mecânico. Nas primeiras semanas são treinados fundamentos básicos (resistência, equilíbrio). No segundo mês, o atleta já faz musculação, com pouco peso e muita repetição. Os tiros são de 300 metros. Só na etapa seguinte começam saltos horizontais, verticais, corrida de barreira.
Treino de bloco, com corridas em distâncias mais próximas a 100 metros, só a partir da quarta etapa desse período de base, depois da nona semana. "Aí você começa a ficar parecido com um velocista. Você começa a tirar um ingrediente e coloca o outro", explica Sandro Viana.
Paulo André sempre respeitou esse ciclo, fazendo um trabalho de base consistente, sem interrupções para participar de competições nos primeiros meses do ano. Entre as temporadas 2017 e 2019, ele só estreou entre a segunda quinzena de março e a primeira de abril. Em 2020, nem chegou a correr antes da pandemia. Em 2021, só participou da primeira competição em abril, para uma fase "pré-competitiva" que seguiu até junho, visando o auge em julho e agosto, na Olimpíada.
Mas houve duas exceções, e são nelas que Paulo André deverá se apoiar para tentar chegar ao Mundial. Em novembro de 2018, nas primeiras semanas do período de base para a temporada 2019, ele correu os Jogos Universitários Brasileiros (JUBS) em Maringá (PR) para cumprir um compromisso com a UNIP de Vila Velha, onde estudou Educação Física. E venceu com excelente marca: 10s07.
Em 2020, a história se repetiu. Ainda no começo do período de base para a temporada 2021, ele disputou em dezembro o Troféu Brasil, porque tinha compromisso com o Pinheiros. Longe da melhor forma, fez 10s16, 10s12 e 10s13 nos três tiros, tempos ótimos para o padrão brasileiro, e se sagrou campeão nacional.
Agora, o desafio é correr rápido daqui a oito semanas, quando será realizado o Troféu Brasil, por enquanto marcado para o Estádio Nilton Santos —o governo do Rio prometeu patrocínio, que até agora não saiu, e, por isso, o GP Brasil, no próximo domingo, já foi transferido do estádio do Botafogo para o Centro Olímpico, em São Paulo.
Paulo André tem índice para o Troféu Brasil, feito no segundo semestre do ano passado, e pode se inscrever. Lá, o objetivo será entrar na equipe do revezamento 4x100m no Mundial, que terá cinco atletas. Se tudo der muito certo, PA ainda pode tentar o índice individual para os 100m no Mundial, que é 10s05.
Erik Cardoso, que fez 10s01, em Bragança Paulista (SP), em setembro, e 10s13 em um torneio anteontem em São Paulo, é o único brasileiro classificado nos 100m até agora. Assim, por enquanto são quatro vagas em aberto no revezamento, que serão preenchidas pelo resultado da final dos 100m no Troféu Brasil. Em 2021, o quarto colocado do torneio fez 10s29. Em 2020, 10s37. Em 2019, 10s16 —nos três casos, Paulo André foi o campeão.
Levando em consideração o ranking nacional deste começo de temporada, os principais rivais de Paulo André por vaga no revezamento devem ser Rodrigo do Nascimento (10s20 no ano, 10s15 em 2021), Felipe Bardi (10s23 no ano, 10s10 em 2021), Derick Souza (10s30 no ano, 10s28 em 2021), o jovem Lucas Rodrigues (10s30 no ano, 10s27 em 2021) e um surpreendente Petrucio Ferreira, que correu este ano para 10s29, melhor marca da história do esporte paralímpico, e entrou na briga por uma vaga na seleção olímpica.
Tudo isso, porém, leva em consideração apenas a hipótese — que vinha sendo defendida pela equipe de Paulo André quando ele ainda não tinha 8 milhões de seguidores e era vice-campeão do BBB— de ele retomar a rotina normal de treinamento depois do programa. Ainda não está claro se ele vai topar voltar a essa rotina.
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