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Vôlei: Hoje nos EUA, Weber explica demissão no Mundial e dívida da Funvic

Javier Weber com taça de campeão da Superliga - Wander Roberto/Inovafoto/CBV
Javier Weber com taça de campeão da Superliga Imagem: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Técnico campeão da Superliga Masculina na temporada 2020/2021, o argentino Javier Weber fechou aquele ano desempregado. A demissão dele do Funvic, antigo Taubaté, aconteceu de forma repentina. De uma hora para outra, foi João Conceição quem apareceu treinando a equipe no Mundial de Clubes, enquanto Weber assistia ao jogo na arquibancada.

Em entrevista ao Olhar Olímpico, o agora auxiliar da seleção norte-americana, que hoje enfrenta a seleção brasileira às 15h pela Liga das Fações, pela primeira vez deu detalhes do episódio mais humilhante de sua carreira, ocorrido em dezembro.

"Chegamos a Betim (MG) dois dias antes do Mundial. Dei um treino no primeiro dia, e quando cheguei no treino da véspera do jogo, o supervisor me comunicou que o presidente da Funvic havia me deixado de fora da relação de inscritos para o Mundial, colocando outro treinador. Isso não se faz. Ele não me avisou que faria isso, claramente fez de propósito. Não discutiu rescisão de contrato, só depois que já tinha inscrito outro no Mundial", contou.

Medalhista de bronze nas Olimpíadas de 1988 e com cinco Jogos Olímpicos na carreira enquanto jogador, Weber encerrou a carreira na quadra jogando pelo Ulbra e, depois, estreou como técnico exatamente pelo clube do Rio Grande do Sul. Em 2020, voltou ao país para substituir Renan Dal Zotto no comando do Taubaté, equipe que levou ao bicampeonato da Superliga em 2021.

Durante a campanha do título, porém, aconteceram as eleições municipais e o então prefeito Bernardo Ortiz Júnior (PSDB) não conseguiu eleger sucessor, dando lugar a José Antônio Suad (MDB), que não demonstrou interesse na continuidade do time, um projeto muito ligado a Júnior. O clube ficou sem pagar salários, perdeu seus principais jogadores e passou a ser administrado pela Funvic, que antes era somente patrocinadora.

Weber aceitou renegociar o que o clube devia para ele e ficou na equipe, que treinou dois meses em Taubaté antes de se mudar para Natal, onde a Funvic dizia que teria apoio para o clube jogar. Não foi o que aconteceu. "A gente encontrou dificuldade em treinamento, que foi mudando de um ginásio para outro. A musculação também era cada hora em um ginásio. Não tínhamos material de treino adequado, não jogamos amistosos. Passamos por muitas dificuldades, e minha reação com o pessoal da Funvic foi desgastando", admite.

Mesmo assim, ele considera que fazia uma boa campanha quando foi demitido. "Depois de 20 anos, eu conheço a regra do jogo, Se o resultado não é bom, o técnico paga a conta. Até aí tudo bem. Mas os resultados eram bons, estávamos na primeira semana de dezembro e estávamos em sexto na Superliga, com um time completamente novo, indo disputar o Mundial de Clubes", argumenta.

No primeiro jogo do Mundial, já sem Weber, o Funvic venceu o UPCN da Argentina, por 3 a 2, e os jogadores foram até a arquibancada abraçar o antigo treinador. "Fui do momento mais humilhante da minha carreira para o mais bonito da minha carreira em 24 horas", diz.

Quando acertou a rescisão contratual, acertou com o Olsztyn, da Polônia, clube com o qual já renovou por uma temporada. Mas a Funvic, segundo ele, parou de pagar o acordado. "Tem salário atrasado da temporada 2020/21 e 2021/22. Tem cinco parcelas a pagar ainda da temporada retrasada e mais uma da temporada passada. Era para eles pagarem em março, e não pagaram. Assim como eu, tem muita gente para receber", conta.

A crise financeira é confirmada pelo clube, que soltou nota à imprensa na semana passada dizendo que "ainda não conseguiu receber nem os patrocínios anunciados para a temporada que já acabou". "Ainda acreditamos nas palavras das pessoas, e que vão honrar o compromisso assumido perante nosso testemunho em muitas reuniões e retribuir o amor do povo natalense, do Rio Grande do Norte e do Nordeste. Esperamos que isso se resolva o mais rápido possível", reclamou Luís Otávio Palhari, presidente da Funvic.

A Superliga tem um sistema de fair play financeiro que não aceita inscrição de equipes que não apresentem carta de todos os profissionais que atuaram na temporada anterior dizendo que o clube está em dia com suas obrigações. Para conseguir essa carta no ano passado, a Funvic negociou o parcelamento de dívidas da temporada 2020/2021, o que até agora não foi quitado, segundo Weber.

Se quiser jogar a próxima temporada, o Funvic vai ter que conseguir de novo essas cartas, de profissionais, como o treinador, que têm dívidas de mais de dois anos. O clube diz que, assim que a situação com os apoiadores de Natal forem resolvidas, vai focar na formação do elenco para a próxima Superliga. O time terminou a competição passada na oitava colocação.

Enquanto isso, Weber realiza um sonho da carreira. Nesta semana, ele estreia como auxiliar técnico da seleção dos Estados Unidos, com contrato até os Jogos Olímpicos de Paris. "Tinha outros projetos melhores, financeiramente falando. Mas que talvez não me trouxessem tanta realização profissional. Então, estar em uma seleção, com potencial, para disputar os Jogos de Paris é um grande projeto de carreira e de vida. Estou muito contente com a minha escolha."

Outro lado

Procurada, a Funvic disse que os termos do contrato com Weber são sigilosos. "Por contrato, tanto o mesmo quanto à Funvic são impedidos de discorrer sobre os detalhes do término do contrato sob pena de multa, sendo que tal não pode ser veiculado pelas partes ou seus representantes, podendo porém informar que a sua saída foi consensual e sem pendências", comentou a instituição.

Em nota, a Funvic relacionou o início de seus problemas financeiros à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) por ter encerrado a temporada 2019/2020 da Superliga sem um campeão no início da pandemia (o então Taubaté liderava a fase de classificação quando a competição parou) e reclamou que é alvo de fake news.

"Já na capital norte-riograndense, tendo de recomeçar o projeto do zero, enfrentando inclusive com atividades absolutamente ilegais, como divulgações, por parte de membros de fake news por alguns péssimos membros da imprensa, ocasionando novamente descumprimento de diversos patrocinadores, ressaltando que existe previsão contratual bilateral de adequação proporcional nas obrigações ante a tal", explicou, sem responder sobre as dívidas com jogadores.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, a Ulbra é do Rio Grande do Sul, e não Santa Catarina. O erro foi corrigido.