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Brasileiro entra na elite do golfe, mas não pode brigar por R$ 89 milhões

Fred Biondi - Divulgação/PGA Tour
Fred Biondi Imagem: Divulgação/PGA Tour

16/06/2022 04h00

Quando o US Open de golfe começar nesta quinta-feira (16), 156 jogadores estarão em busca da maior premiação já distribuída em um torneio Major do golfe: US$ 3,15 milhões (quase R$ 16 milhões) para o campeão. Entre os participantes deste evento equivalente ao Grand Slam do tênis está um brasileiro. E ele não poderá receber nenhum centavo dos US$ 17,5 milhões (R$ 89,4 milhões, aproximadamente) que estarão em jogo.

Isso porque Fred Biondi, de 21 anos, é um dos 12 atletas amadores que irão ao campo no The Country Club em Brookline, Massachusetts, até domingo. Jogador da Universidade da Flórida na NCAA, a principal liga universitária dos Estados Unidos, ele não pode receber premiações em dinheiro, nem salário, para continuar elegível para competir pelos 'Gators', mas mostrou talento suficiente para jogar entre os melhores profissionais do mundo.

Entre uma temporada e outra do golfe universitário americano, é comum que os jogadores disputem competições fora deste circuito. E foi como Fred conseguiu sua vaga no US Open. Na semana passada, ele foi quarto colocado de uma seletiva na Flórida e pegou a última credencial em jogo no torneio.

"Era difícil de imaginar que eu ia conseguir. É um negócio que você sonha a vida toda. Mais cedo eu estava andando ao lado dos jogadores que cresci assistindo, pessoal que eu sempre quis ser", disse Fred, ontem à noite, por telefone, depois dos treinos oficiais do US Open.

Ele sonhava com esse momento há muito tempo. Seu primeiro contato com o golfe, conta, foi aos quatro anos, no campo particular que o avô tinha dentro de casa. Depois, só voltou a jogar aos 8 e logo se tornou a grande promessa da modalidade no Brasil.

"Eu só podia jogar uma vez por semana, porque estudava em tempo integral. Só treinava de quarta-feira, que era o dia que eu podia sair mais cedo do colégio. Eu era o único da escola que jogava golfe. Eu também jogava futebol, mas ao invés de jogar um torneio de futebol eu ia para o campo [de golfe] no fim de semana. Sempre tive essa paixão diferente", conta.

Tão logo fez 15 anos, Fred foi para os Estados Unidos para um intercâmbio de seis meses e nunca mais voltou. "Convenci meus pais para ficar um ano e quando estava acabando esse prazo eu disse que queria jogar golfe na faculdade e que, se voltasse, sabia que não ia ter mais a oportunidade. E meus pais me ajudaram, me deixaram ficar."

A aposta tem valido a pena. Por causa dos bons resultados nos últimos meses, Fred deve abrir a próxima temporada no segundo lugar do ranking da PGA Tour University, que dá vaga no PGA Tour, o circuito de elite do golfe mundial, aos cinco melhores formandos universitários. O modelo é uma forma de acelerar a transição entre a NCAA, principal celeiro de golfistas dos EUA, e o topo da cadeia profissional.

Na história, só três brasileiros tiveram cartão de acesso do PGA Tour; Jaime Gonzalez, na década de 1980, Alexandre Rocha, em 2011/12, e Lucas Lee, em 2015/16. Desses, quem mais teve sucesso foi Jaime, que participou seis vezes do The Open, o major britânico, e chegou a ser 20º colocado em 1985. Rocha jogou o US Open de 2011, passando o corte e terminando em 68º lugar.

Um major tem quatro dias de disputas. Passada a metade do torneio, depois de duas rodadas de 18 buracos, os 70 primeiros continuam, superando o corte, e os demais são eliminados. Passar o corte é o objetivo de Fred no US Open, que ele vai encarar sem pressão.

"Minha expectativa não é zero, mas vou bem relaxado. Vou com o mindset de fazer o que eu sempre faço. Vai ter a pressão, tem mais de 100 mil pessoas aqui. Mas é fazer o que eu fiz esse ano inteiro. Continua sendo um campo de golfe no fim das contas", diz o brasileiro, que terá como caddie (uma espécie de assistente/treinador) o veterano Dudley Hart, que tem 16 participações como jogador no US Open.

Na história, só quatro brasileiros jogaram o US Open. Em 1941, Mario Gonzalez e Walter Ratto chegaram atrasados para a seletiva e o então presidente Getúlio Vargas conseguiu que eles entrassem direto no torneio. Em 2008, o profissional Philippe Gasnier se classificou via seletiva, mas não passou o corte. A última participação foi a de Rocha, em 2011. O torneio acontece cada ano em um campo diferente.