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Falta de jogadoras faz basquete repetir atletas na quadra e no 3x3
Quando a seleção feminina de basquete 3x3 foi convocada para a fase de treinamentos para o Mundial de modalidade, que começou hoje (22) estavam na lista as três cestinhas da Liga de Basquete Feminino (LBF), as três líderes em rebotes, a líder em assistências e todas as quatro jogadoras mais eficientes do torneio, mesmo sem que a maioria delas tivesse uma carreira na nova modalidade olímpica.
O 3x3 é tão diferente do basquete de quadra quanto o vôlei de praia é do vôlei de quadra. Mas, no feminino, por falta de mão de obra, o Brasil tem tido que aproveitar as mesmas atletas em duas modalidades distintas e com calendário concomitante, tanto na base quanto no adulto.
Na quadra, o momento da seleção feminina é delicado há algum tempo. Pela segunda vez seguida, não conseguiu nem se classificar para o Mundial e também não alcançou vaga para os Jogos de Tóquio. Desde 2014 não vence um jogo internacional contra um time que não das Américas. No 3x3, por ser um esporte novo, no qual todos os países partem quase do zero, o caminho até a elite seria, em tese, mais curto. Mas falta investimento no país.
A diferença é vista pela convocação final para o Mundial de 3x3, que começou ontem (20) na Bélgica. Os quatro jogadores da seleção masculina que venceu um jogo e perdeu outro ontem são especialistas nesta modalidade e três têm emprego fixo em clubes de 3x3. Só Fabrício Veríssimo joga basquete de quadra, e no equivalente à segunda divisão nacional.
No feminino, todas as quatro inscritas jogam a LBF, na quadra, e estão entre as protagonistas do torneio. Das cinco jogadoras mais eficientes da liga, três vão jogar o Mundial: Sassá (Santo André), Gabriela (Sampaio) e Vitória (Blumenau), e as demais foram cortadas por lesão: Thayná (LSB, que também é a cestinha do torneio) e Mari Dias (Ituano).
A CBB, porém, diz não haver relação direta entre o sucesso no principal torneio de basquete de quadra do país e a convocação para a seleção de 3x3. "O desempenho na LBF não foi um critério, e sim apenas reflete a qualidade e polivalência dessas atletas para, no cenário atual, se destacarem em ambas as modalidades", disse a confederação, que não indicou um porta-voz para a matéria e só respondeu questionamentos por escrito, via assessoria de imprensa.
Exceto Sassá, que joga 3x3 com regularidade, nenhuma das convocadas tinha histórico relevante na modalidade antes de chegarem à seleção. Vitória só jogou dois torneios na carreira, ambos pela seleção — um deles, a Copa América do ano passado, que classificou ao Mundial. Luana e Gabriela sequer aparecem entre as 30 mil primeiras colocadas do enorme e detalhado ranking mundial de 3x3 da Fiba, que dá pontos até para campeonato municipal. Enquanto isso, as jogadoras que mais somaram pontos jogando por seus clubes no 3x3 não foram lembradas nem na convocação para treinamentos pré-Mundial.
Desde cedo
Essa utilização de atletas da quadra no 3x3 tem vindo desde a base, onde as convocações se repetem em duas modalidades distintas. Das quatro atletas que foram bronze no 3x3 nos Jogos Sul-Americanos da Juventude, em maio, três foram titulares do Brasil no quarto lugar da Copa América Sub-18, de basquete de quadra, disputada na semana passada. No masculino, que teve o mesmo calendário, nenhum jogador se repetiu entre as duas seleções, nem nas fases de treinamento.
Segundo a CBB, isso acontece no feminino porque não há mão de obra farta. "Mundialmente, assim como no basquete 5x5, há uma diferença de nivelamento de crescimento entre o basquete masculino e o feminino. Hoje, por diversos fatores, incluindo técnico, planejamento e competitividade, o basquete 3x3 feminino ainda precisa buscar atletas no 5x5 para competir de igual para igual no cenário internacional", diz a entidade.
"Com a entrada na Olimpíada, mais projetos que investem no 5x5 estão entrando no universo 3x3, e nosso trabalho é o de ampliar a quantidade de campeonatos e calendário, para que possamos, da quantidade, tirar a qualidade, observar atletas, descobrir talentos e prepará-los para que um dia possamos ter uma seleção com atletas exclusivamente que treinam o 3x3 desde a base e que tenham o basquete 3x3 como prioridade", continua a confederação.
Apesar de as duas modalidades terem a mesma raiz, elas exigem características diferentes dos atletas que, para competir em alto nível, precisam se especializar. No vôlei de praia, por exemplo, é raro um atleta que migrou já formado em uma modalidade ter sucesso na outra. No futsal, a mesma coisa. No basquete feminino, o Brasil não tem outra alternativa. E, aí, a prioridade da CBB é da quadra.
"A prioridade é do basquete 5x5, e dentro desse planejamento interno das comissões técnicas, avaliamos caso a caso, torneio a torneio, e buscamos sempre a melhor saída técnica para ambas as modalidades. Trabalhamos com os departamentos das duas modalidades em conjunto, neste instante, já que a quantidade de atletas com nível para representar bem o Brasil no 3x3 ainda não é o necessário para o cenário internacional. Com o trabalho na base, detecção de talentos e torneios nacionais que vêm sendo realizados, temos certeza que no futuro próximo buscaremos cada vez menos atletas no 5x5", acredita a confederação.
Com Sassá, Vitória, Gabriela e Luana, a seleção brasileira de 3x3 começou sua trajetória no Mundial hoje contra a Áustria, na Antuérpia, vencendo a Áustria por 16 a 14. Depois, perdeu por 22 a 11 da França, uma das favoritas ao título. Na sexta, fecha a primeira fase diante de EUA e Nova Zelândia, único rival que tem ranking pior que o do Brasil.
No masculino, a equipe de Wil Weihermann, Fabrício Veríssimo, Renato Scholz e André Ferros estreou perdendo para Porto Rico, por 20 a 16, e surpreendeu ao ganhar da França, 16 a 15, vingando a derrota no ano passado que a tirou da Olimpíada de Tóquio. Na quinta, joga contra a Sérvia, maior potência do esporte e bronze em Tóquio, e depois encara a Nova Zelândia. O primeiro de cada chave avança direto para as quartas de final e quem ficar em segundo e terceiro no grupo joga uma repescagem.
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