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Governo banca Pan de Ginástica e aceita pagar R$ 2,40 por uma banana
O governo federal assinou dois termos de fomento (o antigo convênio) com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) para bancar a organização e a participação do Brasil no Campeonato Pan-Americano da modalidade, no Rio de Janeiro, repassando R$ 4,2 milhões à entidade. O montante é lastreado em orçamentos que, em diversos casos, apresentam valores mais altos do que os praticados pelo mercado.
O projeto aprovado pela Secretaria de Esporte de Alto Rendimento, comandada pelo ex-jogador de handebol Bruno Souza, prevê, por exemplo, a compra de 20 mil bananas e maçãs por R$ 2,40 cada. As passagens aéreas são cotadas, em média, por quase três vezes o preço do varejo, e pelo dobro do valor de projeto semelhante do atletismo. A confederação alega, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que ao executar o projeto já está fazendo contratações mais baratas.
O Pan de Ginástica terá três fases, com o torneio de trampolim entre hoje e 29 de junho, de rítmica entre 4 e 11 de julho e de artística, principal atrativo, entre 11 e 18 de julho. Só nesta última etapa serão distribuídas 7,2 mil frutas, sendo 900 por dia. Em uma rede de supermercados em uma área nobre de São Paulo, a reportagem pagou R$ 1,15 por unidade de banana prata e R$ 0,90 por maçã fuji. O governo autorizou a CBG a pagar mais do que o dobro disso, sob a justificativa de que elas serão entregues "higienizadas".
O preço das bananas, porém, é um detalhe em um projeto que tem diversos itens expressivamente mais caros do que os do termo de fomento entre a mesma secretaria com a CBAt, do atletismo, para o Troféu Brasil que começou ontem (22), também no Rio.
Para a alimentação de atletas e membros da comissão técnica, a CBG apresentou como melhor orçamento uma proposta de R$ 69,90 por refeição, mesmo valor que a CBAt alcançou para almoço e jantar no Troféu Brasil. O COB, que tem pago por campings de treinamento da seleção de ginástica no Parque Olímpico, mesmo local onde vai acontecer o Pan, pagou R$ 54,90 por refeição em fevereiro. A CBG diz que, após renegociação, vai pagar R$ 61 por refeição e que o excedente será devolvido à União.
Indícios de superfaturamento
Ainda que a delegação esportiva do Brasil no Pan tenha a previsão de ter 139 pessoas, o projeto prevê a compra de 206 kits com três agasalhos, cinco camisetas e três camisas polo, para que atletas e funcionários administrativos do evento tenham a mesma vestimenta. Contando também as camisetas distribuídas a voluntários, serão gastos R$ 250 mil em roupas.
Em termos de fomentos, o convenente (no caso, a CBG) precisa apresentar três orçamentos, pedidos por ela para empresas escolhidas também por ela, para justificar um valor a ser pago. No caso dos materiais esportivos, o mais baixo, usado como referência, é de uma empresa aberta no mesmo dia em que enviou o orçamento à CBG. Trata-se da DEI Bellator Sports, registrada em 2 de maio e que funciona em um prédio residencial de alto padrão em Londrina (PR).
Questionada sobre ter procurado uma empresa que até um dia antes não existia, a CBG disse que "efetuou pesquisa de mercado referente a cada demanda necessária para a realização do evento, objetivando apresentação do projeto e sua aprovação".
Os valores cotados, porém, são mais altos do que os praticados em outros eventos. No projeto do Troféu Brasil de Atletismo, uma camiseta da equipe de trabalho é cotada a R$ 25. No Troféu Brasil de Natação, pago pelo COB e realizado há dois meses, o material custou R$ 44,90. A partir do orçamento de uma empresa recém-aberta, o governo autorizou a CBG a pagar R$ 54,28.
Também chama atenção no projeto aprovado pelo governo a compra de 600 medalhas para um evento que vai distribuir cerca de 400, apenas. É comum a produção de medalhas extras, mas dentro de uma margem que geralmente não excede 15%. Desta vez, o governo aceitou comprar pelo menos 140 medalhas a mais do que o necessário.
Questionada pela coluna, a CBG disse que, quando enviou o projeto, não sabia quantos atletas participariam da competição e que segue uma cartilha da União Pan-Americana de Ginástica. Segundo a confederação, o projeto não será realizado na íntegra e só serão efetivamente compradas 450 medalhas.
O governo federal não respondeu a nenhuma das perguntas enviadas pela reportagem no começo da semana passada.
Passagens e hospedagens
A CBG tinha a garantia de que teria R$ 1,5 milhão para o evento, destinado por uma emenda da deputada bolsonarista Major Fabiana (PL-RJ). E, apesar das restrições do orçamento da Secretaria Especial do Esporte, conseguiu outros R$ 2,7 milhões para um segundo termo de fomento, para pagar o restante das despesas do evento.
Para justificar o recebimento da totalidade do valor da emenda, a CBG apresentou ao governo valores de passagens aéreas muito acima do mercado. Foram orçadas, por exemplo, 15 viagens de ida e volta entre Curitiba e Rio de Janeiro por R$ 2,2 mil cada uma. A CBAt também previu viagens neste trecho para o Troféu Brasil, por R$ 970. No trecho Campinas/Rio/Campinas a diferença também fica clara: R$ 1 mil no projeto do atletismo, R$ 1,8 mil no projeto da ginástica.
À coluna, a CBG alegou que apresentou esses valores porque temia que a verba fosse liberada em cima da hora e as passagens já estivessem muito mais caras. Segundo a confederação, como o dinheiro já foi repassado, as contratações serão muito mais baratas e o que sobrar será futuramente devolvido aos cofres públicos. "O que não for utilizado será devolvido, como de praxe, e o que for utilizado somente será dentro do necessário", afirmou a entidade.
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