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Por que o atletismo brasileiro tem tudo para fazer seu melhor Mundial

Alison dos Santos, bronze em Tóquio-2020, favorito ao ouro em Eugene-2022 - Christian Petersen/Getty Images
Alison dos Santos, bronze em Tóquio-2020, favorito ao ouro em Eugene-2022 Imagem: Christian Petersen/Getty Images

Colunista do UOL

11/07/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (11/7) da newsletter Olhar Olímpico, que analisa as possibilidades de medalha do Brasil no Mundial de Atletismo que começa na sexta, traz a excelente atuação do armador Yago Mateus em torneio pela seleção brasileira sub-23 de basquete e outros resultados do vôlei, judô, ciclismo, entre outros. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui. Para receber outros boletins exclusivos, assine o UOL.

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Começa na próxima sexta-feira, em Eugene (EUA), na pista da Universidade do Oregon, a 18ª edição do Mundial de Atletismo. E o Brasil, mesmo com crise financeira vivida pela redução de investimentos de clubes e prefeituras, tem grandes chances de fazer a melhor campanha da história.

Apesar da tradição da modalidade no Brasil, que já ganhou cinco ouros olímpicos, o país tem um só título mundial: o ouro de Fabiana Murer, no salto com vara, em Daegu-2011. Esse tabu pode cair em Eugene. Pela primeira vez, o Brasil vai ao Mundial com duas chances reais de ouro, e cinco candidatos fortes a medalha.

Alison dos Santos, o Piu, medalha de bronze em Tóquio nos 400 m com barreiras, é a maior delas. Se a prova — que tem eliminatórias às 17h20 (de Brasília) de sábado, semifinal às 22h03 de domingo e final às 23h50 de terça (19) — não tiver nenhuma grande surpresa, o ouro será disputado entre o brasileiro e o norte-americano Rai Benjamin, com favoritismo de Piu.

Os dois já correram, nos Jogos de Tóquio, abaixo do que era até então o recorde mundial, mas foram superados pelo fenômeno Karsten Warholm, norueguês que já ocupa outra prateleira na história do esporte. Como Warholm se machucou na única prova que disputou esse ano, Piu e Benjamin dominam a temporada. O brasileiro tem quatro das melhores marcas de 2022. O americano, a outra, segunda do ranking. No único confronto entre eles no ano, deu Piu.

No peso, Darlan Romani não é favorito ao ouro, nem sequer é favorito ao pódio, mas tem boas chances de chegar lá. Diferente de Piu, que foi a todas as etapas possíveis da Diamond League, o catarinense ficou boa parte da temporada no Brasil. Sua melhor marca, 21,70m, que valeu o ouro do Ibero-Americano, daria o quarto lugar na Olimpíada de Tóquio, posição que ele ocupou com 21,88m.

O problema é que os três medalhistas do Japão estão em ótima fase. O americano Ryan Crouser tem incríveis 23,12m na temporada — nos últimos dois anos, ele fez oito das 10 melhores marcas de todos os tempos. Também americano, Joe Kovacs já fez 22,87m e o neozelandês Tom Walsh aparece com 22,31m no ranking. É uma boa distância para Darlan tirar. Mas o brasileiro já fez isso no Mundial Indoor, em março, quando foi ouro vencendo Crouser e Walsh. O arremesso de peso terá eliminatórias às 22h55 de sexta e final às 22h27 de domingo.

A terceira chance real de medalha é na maratona. Daniel Nascimento, como revelou o Olhar Olímpico, chegou a se oferecer para se naturalizar chinês, mas o processo não avançou. A CBAt e o COB acertaram um apoio mensal a ele, que vai ao Mundial para representar o Brasil.

Mesmo sendo o mais jovem entre os inscritos na maratona masculina, Danielzinho não deve nada a nenhum dos rivais. Mais rápido atleta não nascido na África (fez 2h04min51 em Seul este ano), ele deve duelar contra corredores da Etiópia e do Quênia, países que não selecionaram seus melhores para o Mundial, mas terão times de respeito.

A Etiópia levará Tamirat Tola (2h03 como melhor da carreira, foi segundo em Boston), Mosinet Geremew (2h02, atual vice-campeão mundial, venceu Daniel em Seul), Deso Gelmisa (2h04, campeão em Paris este ano) e Seifu Tura (2h04, vem de vitória em Chicago). O Quênia escalou Geofrey Kamworor (2h05, tem cinco pódios em Majors), Barbanas Kiptum (2h04), Lewrence Cherono (2h03, foi quarto na Olimpíada).

Em Mundiais, assim como em Olimpíadas, a maratona costuma ser mais tática do que rápida, o que pode aumentar as chances de medalha de Danielzinho. Basta ver que, em Tóquio-2020, o holandês (nascido na Eritréia) Hiskel Tewelde, e o belga Bashir Abdi (nascido na Somália) foram prata e bronze, mesmo sem nunca terem sido nem top 5 de uma major. Ambos também estão inscritos no Mundial, em prova marcada para as 10h15 de domingo.

Thiago Braz também é boa aposta. Medalhista nas últimas duas Olimpíadas (ouro na Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020) e no Mundial Indoor deste ano (conquistou a prata), Thiago cresce na hora certa. Ele fez o segundo melhor salto da carreira ao ar livre em Estocolmo, na última competição preparatória para o Mundial — no Oregon, deverá brigar pela prata. Mondo Duplantis, sueco, tem enorme favoritismo pelo ouro (é o maior saltador da história), mas as outras posições no pódio estão abertas.

Desde o início do ano passado, só Duplantis, muitas vezes, e o americano Christopher Nilsen, duas, saltaram acima dos 5,93 m que Thiago fez na Suécia. Sam Kendricks, americano que também poderia ser uma ameaça, está machucado. Se o brasileiro fizer o que está acostumado em grandes eventos e saltar acima de 5,85 m, deve chegar ao pódio, brigando diretamente com o filipino Ernest Obiena, seu colega de treino em Fórmia, na Itália. A prova terá eliminatórias na sexta, às 21h05, e final no domingo, às 21h25.

Na marcha, Caio Bonfim já tem uma medalha em Mundial, (bronze em 2017), e vai buscar outra. O brasiliense vem de boa temporada, tendo ido ao pódio de todos os três eventos internacionais que disputou. Na República Tcheca, ganhou com a segunda melhor marca do ano, apenas um segundo atrás do que tem o japonês Koki Ikeda, prata em Tóquio. A prova, na sexta, às 19h10, não terá o atual campeão olímpico, o italiano Massimo Stano, nem o atual campeão mundial, o japonês Toshikazu Yamanishi,

Nos 110 m com barreiras, o Brasil tem chance real de colocar pelo menos um atleta na final — mas podem ser três, o que seria um feito histórico. No Troféu Brasil, as marcas de Rafael Pereira, Eduardo de Deus e Gabriel Constantino teriam valido vaga na final olímpica de Tóquio. Mas uma medalha é improvável, ainda que possível. Rafael tem o melhor tempo de classificação (13s17), mas cinco americanos e um jamaicano têm marcas melhores que a dele. A prova tem eliminatórias no sábado às 15h25, e semifinal e final no domingo, às 21h05 e 23h30.

Até hoje, em 17 edições do Mundial, o Brasil só ganhou mais de uma medalha em Sevilha-1999, quando trouxe duas pratas — com Claudinei Quirino, nos 200 m, e Sanderlei Parrela, nos 400 m — e um bronze com o revezamento 4x100 m masculino. Qualquer conquista além de uma medalha já será a segunda melhor campanha da história.

Yago Mateus mostrou na quadra por que não disputou as Eliminatórias

O armador Yago Mateus foi o MVP do Global Jam - Divulgação/CBB - Divulgação/CBB
O armador Yago Mateus foi o MVP do Global Jam
Imagem: Divulgação/CBB

Escrevi na semana passada que não entendia por que Yago Mateus havia sido liberado de jogar as Eliminatórias do Mundial de basquete para disputar um torneio amistoso com a seleção sub-23. Mas ele me explicou na quadra, sendo protagonista da conquista do Global Jam, um torneio amistoso que reuniu Canadá, EUA e Itália.

O título dá moral para os jovens jogadores brasileiros, para o técnico estreante Tiago Splitter, e tende a abrir portas para Yago. Mas, antes de festejar duas vitórias sobre os EUA, é importante destacar que não estava em quadra uma seleção americana, mas o time da Universidade Baylor, que não foi nem semifinalista do NCAA na temporada passada, e que estava desfalcado de cinco jogadores.

Vôlei masculino avança na Liga das Nações, apesar de campanha ruim

Quatro derrotas em 12 jogos é uma campanha ruim para a seleção brasileira masculina de vôlei. Basta lembrar que, nas últimas duas temporadas da Liga das Nações, em 30 jogos de fase de classificação, haviam sido apenas três derrotas. No século, a campanha é a segunda pior, só atrás de uma vez em que o Brasil caiu em um "grupo da morte" e perdeu metade dos jogos.

Dito isso, ao menos o Brasil passou, e vencendo um jogo difícil na última rodada, contra o Japão. Ganhar dos EUA nas quartas de final será determinante para o futuro da seleção. Se avançar à semifinal, pode, na pior das hipóteses, disputar o bronze. Se perder, será a segunda derrota para os americanos (para quem perderam em Brasília), e uma campanha que não condiz com o vôlei brasileiro. Será difícil justificar a permanência de Renan Dal Zotto.

Duas brasileiras no circuito mundial do ciclismo de pista

Fato raro no esporte brasileiro: duas mulheres participaram da etapa de Cali (Colômbia) da Copa das Nações de ciclismo de pista. Wellyda Rodrigues e Alice Melo ficaram em sétimo lugar no madison, uma prova em duplas. O Brasil nunca teve uma mulher competindo no ciclismo de pista em Olimpíadas e, desde 1992, só disputou uma vez a modalidade, na Rio-2016, com Gideoni Monteiro.

Em Paris, todos os 10 países classificados para competir na prova de perseguição por equipes entram também no madison. Depois, mais 5 vagas são distribuídas pelo ranking olímpico, que começou justamente com esta Copa do Mundo em Cali. O torneio só contou com uma dupla da Europa, continente que domina a modalidade.

Em Budapeste, judô começa bem a corrida do ranking olímpico

O judô brasileiro começou bem a corrida olímpica. Depois de ficar fora do Grand Slam disputado na Mongólia, caro demais para o bolso apertado do esporte brasileiro na atualidade, o time abriu a corrida no forte Grand Slam de Budapeste (Hungria) com três medalhas, campanha só pior que do Japão. Rafaela Silva foi prata, perdendo de uma japonesa, Mayra Aguiar conquistou bronze, e o ótimo Guilherme Schmidt, da categoria até 81kg, venceu seu segundo Grand Slam seguido.

Ele tem só 21 anos, já tinha ganhado ouro na Turquia, e é o atual bicampeão pan-americano. Hoje, já aparece no quarto lugar do ranking mundial, depois de ser campeão superando o azeri Saeid Mollaei (iraniano que disputou Tóquio-2020 pela Mongólia e agora defende o Azerbaijão). Se continuar nessa pegada, será forte candidato a medalha em Paris-2024.

E mais bons resultados na alta temporada dos esportes olímpicos...

Com os esportes olímpicos em alta temporada, falta espaço para escrever sobre todos os bons resultados brasileiros (e que bom!). Neste fim de semana, Ana Marcela Cunha ganhou uma etapa da Copa do Mundo de águas abertas em Paris; Martine Grael e Kahena Kunze foram campeãs do Campeonato Europeu da classe 49er; e Duda/Ana Patrícia venceram a tradicional etapa de Gstaad do Circuito Mundial de vôlei de praia, ganhando de Bárbara/Carol na final. São grandes as chances de essas medalhas se repetirem na próxima Olimpíada.