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Alison Piu é campeão mundial nos 400m com barreiras em conquista inédita
Alison 'Piu' dos Santos se tornou, nesta terça-feira (19), o primeiro corredor brasileiro campeão do Mundial de Atletismo. Bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado, ele repetiu a disputa acirradíssima contra os outros dois dos três melhores de todos os tempos dos 400 m com barreiras, mas, desta vez, chegou na frente de Karstem Warholm, da Noruega, e Rai Benjamin, dos Estados Unidos, que corria em casa no Mundial do Oregon, na cidade de Eugene.
Warholm liderava até o fim da última curva, mas bateu em uma barreira e ficou para trás, deixando a disputa entre Piu e Benjamin. O brasileiro tem como padrão acelerar na reta, e o americano não conseguiu alcançá-lo. Vitória para Piu, com 46s29, novo recorde do campeonato. Prata para Benjamin, 46s89, melhor marca dele na temporada. E bronze para o também norte-americano Travor Bassitt, com 47s39, melhor marca da vida.
O resultado também é recorde sul-americano e, naturalmente, melhor tempo da carreira de Piu. Com 46s29, ele passa a só não ter marcas melhores do que Warholm (45s94) e Benjamin (46s17) fizeram na incrível final olímpica de Tóquio, prova tida como a mais forte de todos os tempos do atletismo.
Piu já havia chegado ao Mundial como favorito: líder do ranking mundial, dono de quatro das cinco melhores marcas do ano, invicto, e com quatro vitórias em etapas da Diamond League. Benjamin, porém, correu bem menos vezes e chegou a liderar o ranking com a marca que fez na seletiva americana, nesta mesma pista. Warholm, por sua vez, é o recordista mundial e não perdia desde setembro de 2018. Neste ano, só havia corrido uma vez, quando se machucou, perdendo o restante da temporada, até o Mundial.
Em Eugene, os três se pouparam nas duas primeiras fases da competição: eliminatória e semifinal. Sem ninguém capaz de correr perto deles, venceram suas séries com o pé no freio, escondendo o que eram capaz de fazer na final. Até hoje, o Brasil só tinha mais uma outra medalha de ouro em Mundiais de Atletismo, disputados ao ar livre, de Fabiana Murer, no salto com vara, em 2011.
Em provas de pista, o título só não é totalmente inédito porque no Mundial Indoor, que é outro evento e tem menor relevância no cenário internacional, Zequinha Barbosa foi campeão dos 800m em 1987. Na época, o melhor do atletismo brasileiro estava em Eugene.
Foi para lá que Joaquim Cruz se mudou com o técnico Luiz Alberto de Oliveira quando deixou o Brasil, sendo seguido de Zequinha e Agberto Guimarães. Luiz Alberto faleceu ano passado, mas Zequinha e Joaquim, seus pupilos, estão em Eugene como chefes da delegação brasileira e atuando como guias do Brasil no Mundial.
O resultado de Piu, porém, até aqui é exceção em uma campanha decepcionante do atletismo brasileiro no Mundial. Atletas cotados a brigarem por pódio terminaram pouco abaixo (Darlan foi quinto no peso, Caio sexto na marcha e Danielzinho o oitavo na maratona), quem tinha boas chances de fazer final não chegou lá (Rafael Pereira e Eduardo de Deus pararam na semi dos 110m com barreiras, e as três brasileiras do lançamento do disco ficaram na primeira fase), e, do grupo que tinha poucas expectativas, a maior parte terminou suas provas entre os últimos colocados.
Entre as exceções está Vitória Rosa, que melhorou em 15 centésimos de segundo o melhor da carreira e bateu o recorde sul-americano na semifinal dos 200m, com 22s47, melhorando um centésimo o antigo recorde, de Ana Cláudia Lemos, que vinha desde 2011. Vitória, porém, não conseguiu vaga na final, e terminou em 12º. Isso porque as semifinais de hoje foram em um nível extraordinário. Com 22s47, Vitória teria sido, por exemplo, líder da semifinal do Mundial de 2017 e terceira da semifinal de 2019, ganhando bronze com este tempo na final. Mas, nesta edição de 2022, ela ficou a expressivos 42 centésimos de uma vaga.
O Mundial, que começou na sexta-feira passada, vai até domingo, e o Brasil ainda tem diversos atletas para competir. A maior chance de pódio é com Thiago Braz, que vem em alta na temporada e tem histórico de crescer em grandes competições. Ele salta eliminatórias na sexta e final, se avançar, no domingo. O 4x100m masculino, que tem tradição de medalhas, compete eliminatórias na sexta e, se passar, final no sábado. Almir Junior, que já foi medalhista em Mundial Indoor no salto triplo, estreia na quinta.
Histórico brasileiro
Ainda que esteja presente nos Jogos Olímpicos modernos desde sua primeira edição, o atletismo só realizou seu primeiro Campeonato Mundial em 1983. Isso explica por que João do Pulo, morto em 1999, e Adhemar Ferreira da Silva, aposentado na década de 1960 nunca sequer disputaram um Mundial.
Outro astro do atletismo brasileiro, campeão olímpico dos 800 m em Los Angeles-1984, Joaquim Cruz foi bronze na edição inaugural de 1983, mas acabou prejudicado pelo fato de que, até 1991, os Mundiais ocorriam a cada quatro anos —em 1987 ele foi desclassificado e, em 1991, já estava em fim de carreira. Nessas duas edições, Zequinha Barbosa foi ao pódio, com bronze e prata.
Depois disso, o Brasil levou quase 20 anos para formar, de novo, atletas que chegassem ao ouro em eventos globais. O tabu foi quebrado com Maurren Maggi, campeã olímpica do salto em distância em Pequim-2008, que nunca foi dominante na prova internacionalmente. Em Mundiais, fez quatro finais, mas nunca passou do sexto lugar.
Na mesma época, Jadel Gregório dominava as competições internacionais no salto triplo. Mas ele encerrou a carreira sem tão sonhado ouro. Em 2007, liderava o ranking mundial, não conseguiu repetir o desempenho no Mundial e acabou com a prata. Dois anos antes, ele também havia chegado ao Mundial como favorito, mas terminado apenas em sexto.
O primeiro ouro veio com Fabiana Murer, em Daegu (Coreia do Sul), em 2011. Na época, a russa Yelena Isinbayeva vinha de seis anos de enorme domínio no salto com vara, enfileirando recordes mundiais, mas teve uma temporada ruim em 2010, quando perdeu o título mundial indoor para a brasileira, e resolveu trocar de treinador no início de 2011. Com a estrela em baixa, Fabiana dominou aquela temporada e se consagrou no Mundial, batendo recorde sul-americano e faturando o ouro enquanto Isinbayeva era só a sexta colocada.
A partir dali, o Brasil nunca mais teve chances reais de uma medalha de ouro. Darlan Romani foi aos últimos dois Mundiais como candidato ao pódio, mas muito atrás, no ranking, dos americanos Crouser e Kovacs, que ainda dominam o arremesso de peso. Campeão olímpico em 2016, Thiago Braz alegou lesão para não disputar o Mundial de 2017, quando estava em péssima forma, e foi quinto em 2019, um resultado melhor do que indicava sua temporada.
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