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Olhar Olímpico

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Alerj cede ao Botafogo e tira de pauta o tombamento da pista do Engenhão

24/08/2022 17h49

O presidente da Assembleia do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT), retirou de pauta o projeto de lei, que estava programado para ser votado nesta quarta-feira (24), e que visa o tombamento como patrimônio histórico da pista olímpica do estádio Nilton Santos, o Engenhão. Uma decisão deste tipo impediria o plano do clube de transformar o equipamento em uma arena com arquibancada mais perto do gramado.

Em reunião nesta quarta na sede da Alerj, na qual participaram representantes do Botafogo, incluindo o presidente Durcesio Mello, Robson Caetano, medalhista mundial, e o presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Carlo Caiado, foi discutida uma proposta alternativa, apresentada pelo próprio Ceciliano.

Por ela, a pista do Engenhão, construída para o Pan de 2007 e reformada para as Olimpíadas de 2016, poderia ser demolida pelo Botafogo, concessionário do estádio, desde que o clube construa uma nova no Célio de Barros, que faz parte do Complexo do Maracanã. Assim, a cidade continuaria tendo uma pista pública para competições de alto rendimento. O investimento seria de cerca de R$ 9 milhões. Durcesio Mello ouviu a sugestão e disse que o Botafogo estudaria a possibilidade.

Ceciliano, que é coautor do projeto com Chiquinho da Mangueira (SDD) e também presidente da Alerj, ameaçava levar o PL para discussão em plenário já nesta quarta-feira, com possibilidade de aprovação. Isso frustraria os planos da SAF do Botafogo, uma vez que o dono dela, o norte-americano John Textor, já expressou seu incômodo com o modelo do estádio, olímpico.

"Qualquer estádio construído com uma pista olímpica em volta não é um estádio de futebol", disse Textor em junho, adicionando que estava olhando terrenos para construção de uma arena e que aquela era sua principal meta a longo prazo.

Depois disso, em reunião com o empresário, o prefeito Eduardo Paes (PSD) indicou concordar com a possibilidade de remodelação do estádio, que é municipal e está concedido ao Botafogo até 2051. Caso o clube construa uma arena e devolva o Engenhão, o estádio viraria um Elefante Branco para a cidade.

Mas a possibilidade de destruição do legado olímpico revoltou a comunidade do atletismo, que já quase não usa as duas pistas do Engenhão — além da interna, há uma externa, de treinamento. Seis anos depois da Rio-2016, elas só voltaram a ser utilizadas no Troféu Brasil de Atletismo deste ano, que teve baixíssimo público e alto custo de operação.

A SAF não queria disponibilizar o estádio, mas teve que ceder porque o contrato de concessão prevê o empréstimo dele para a prefeitura para a realização de competições de atletismo. A empresa, porém, cobrou um custo de operação muito alto para a realidade do esporte olímpico brasileiro: R$ 318 mil por três dias e meio de ocupação.

No atletismo, são raros os casos de eventos em estádios do porte do Engenhão. O mais comum, mesmo em competições importantes do calendário internacional, é a utilização de estádios menores. Daí a lógica de reformar o Célio de Barros, quase todo destruído durante as obras para a Copa do Mundo de 2014.

Os protestos de junho de 2013 paralisaram a demolição completa do estádio, mas tudo o que restou dele foi uma arquibancada. Com o Botafogo pagando pela obra, o Célio de Barros poderia voltar a receber competições e servir de local de treinamento de atletas, o que hoje não acontece no Engenhão.

"Retiramos o projeto da pauta para chamar audiência pública envolvendo toda a sociedade nessa importante discussão. Tenho certeza de que chegaremos a um bom termo em relação à única pista de atletismo olímpica que temos atualmente, no Engenhão", comentou Ceciliano, via assessoria de imprensa. "Vamos ter o cuidado para que os interesses privados não se sobreponham aos da coletividade", afirmou.

"O Rio de Janeiro sempre foi celeiro de grandes atletas, principalmente de velocidade, e isso acabou porque o Rio de Janeiro perdeu as pistas e a liderança do atletismo brasileiro. Estamos lutando para que isso não aconteça mais. A gente entende a necessidade do Botafogo, que quer fazer do Nilton Santos um estádio com o torcedor mais próximo da área de jogo, como um 'caldeirão', mas também precisamos pensar no atletismo brasileiro", disse Chiquinho da Mangueira.

Presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Wlamir Motta Campos, porém, se diz contrário à alternativa. "A CBAt não está de acordo com esse encaminhamento e não é avalista disso. Não faz sentido escolher entre dois filhos. Queremos a manutenção da pista do Nilton Santos, a única que poderia receber um Mundial, por exemplo, e queremos o Célio de Barros para o treinamento do dia a dia, Estadual e para receber projetos de formação e sociais. Somos contrários a isso que está colocado. Pode até ser feito, mas a CBAt não é avalista disso", destacou. Nenhuma entidade do atletismo foi convidada para a reunião.