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Olhar Olímpico

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Ginástica feminina controla expectativas por chuva de medalhas em Mundial

Rebeca Andrade em treino de pódio do Mundial de Ginástica - Ricardo Bufolin/CBG
Rebeca Andrade em treino de pódio do Mundial de Ginástica Imagem: Ricardo Bufolin/CBG

Enquanto o Brasil estiver com quase todos os olhos voltados para as eleições presidenciais, no domingo (30), cinco brasileiras vão começar a escrever aquele que pode ser o capítulo mais vitorioso da história da ginástica artística no país. Liderada por Rebeca Andrade e Flávia Saraiva, a seleção feminina disputa o Mundial em Liverpool (Inglaterra) com os pés no chão de quem sabe que tem oito chances de medalha e a probabilidade de um recorde.

Para o Brasil, a competição começa às 15h30 (no horário de Brasília), por enquanto sem transmissão. Tanto o SporTV quanto o Canal Olímpico, ligado ao COB, têm os direitos do Mundial, mas a Federação Internacional de Ginástica (FIG) não vai gerar imagem da fase de classificação.

Uma pena para o torcedor que vai ter que controlar a ansiedade em um teste histórico para a ginástica brasileira. O desempenho na classificação vai mostrar, afinal, quão longe o Brasil pode chegar neste Mundial. Se a equipe de fato pode brigar por medalha com China, Itália e Grã-Bretanha na prova em equipes na terça (1), se Flávia Saraiva é candidata a se juntar a Rebeca Andrade no pódio do individual geral na quinta (3) e as chances de as duas somarem cinco medalhas nas finais por aparelhos entre sábado (5) e domingo (6).

"Acho que a gente já passou por essa situação no passado e a gente tem que aprender com tudo que aconteceu. A gente fez uma boa preparação, mas a internet não é o dia da competição. A gente sabe o que a gente treinou e o que a gente pode fazer", diz Franciso Porath, o Chico, técnico da seleção, citando a expectativa alta de fãs em fóruns virtuais.

Ele se refere ao Mundial de 2019. Sétimo no campeonato de 2018, o Brasil visualizou a chance de "estourar" na competição seguinte, acabou forçando demais as ginastas nos treinamentos, e o "estouro" veio no físico delas. Desfalcado, o Brasil foi só 14º no Mundial de 2019 e não conseguiu vaga por equipes em Tóquio. Um fracasso histórico.

A dura lição foi aprendida. Tanto que o Brasil vai fortíssimo para o Mundial, mas não com força máxima. Veterana da equipe, com 31 anos, Jade Barbosa tem sido poupada este ano todo, visando o Mundial do ano que vem e a Olimpíada de Paris." A gente não precisa ter força total em 2022. Esse Mundial é parte do ciclo, que é até mais curto. A gente está planejando para estar forte em 2023", afirma Chico.

A presença de Carol Pedro, e não de Jade, mostra o pé no chão da comissão técnica. O Mundial deste ano distribui três vagas em Paris e o Brasil é um dos três ou quatro países que brigam por duas dessas vagas - a outra não deve sair da mão dos EUA. Em vez de apostar tudo nessa chance, o Brasil prefere assegurar que nada saia do controle para pegar uma das nove vagas que estarão em jogo no Mundial do ano que vem.

O planejamento da próxima temporada, aliás, já está desenhado pensando na briga por essa vaga olímpica. Se ela for antecipada com um pódio em Liverpool, melhor. "Eu nem gosto de falar disso, porque é um problema para depois do Mundial. Se a gente conseguir, a gente consegue usar o calendário de outra forma. Isso [a vaga] seria a cereja do bolo", admite Chico.

Mais forte do que nunca

O site Balance Beam Situation, especializado em ginástica artística, fez uma projeção para o Mundial apontando que, se todas as ginastas fizerem mais ou menos o que costuma fazer em suas apresentações, os EUA devem ganhar ouro por equipes, com pontuação na casa de 166 pontos, e o Brasil ficar com a prata, com 165. China (164,9), Itália (163) e a dona da casa Grã-Bretanha (162) viriam depois.

Mas o time brasileiro sabe que essa possibilidade depende de uma apresentação perfeita tanto de Rebeca e Flávia, que competem nos quatro aparelhos, quanto de Julia Soares no solo e na trave, de Lorrane Oliveira nas assimétricas e de Carol no salto. Diferentemente das eliminatórias, em que quatro ginastas se apresentam por aparelho e uma nota é descartada, na final são só três por aparelho.

Rebeca é favoritíssima ao ouro no individual geral, tendo as norte-americanas Shilese Jones e Jordan Chiles como principais rivais. Flávia Saraiva foi campeã do Pan e corre por fora se conseguir fazer uma final perfeita.

Por aparelhos são outras cinco chances. Rebeca, atual campeã olímpica e mundial, é favoritíssima no salto, tem boas chances nas assimétricas, e pode brigar por medalha no solo, sua prova mais irregular. Flávia Saraiva é apontada como candidata no solo, principalmente, e na trave.

Se Rebeca, por exemplo, conseguir se classificar para três finais por aparelho, ela terá que fazer 15 apresentações em alto nível em oito dias. No caso de Flávia, seriam 14. Isso transforma o Mundial também em uma oportunidade de testar a preparação da equipe, do ponto de vista físico e mental, já simulando o que poderá acontecer nos Jogos de Paris.

"Se essa possibilidade acontecer, a gente vai poder testar nossa preparação. Se tudo der certo até o fim, a gente pode falar: 'acertamos aqui, erramos ali'. Serve de experiência para equipe como um todo, tempo de aclimatação, deslocamento", explica Chico.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado no texto, Rebeca Andrade não foi ouro no individual geral no Mundial de 2021. O erro foi corrigido.