Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com Lula, esporte tem a chance de voltar a ser política pública
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Vai chegar ao fim, no dia 1º de janeiro, o pesadelo que foi, para o esporte, o governo Jair Bolsonaro — não só para o esporte, convenhamos, mas é sobre isso que escrevo. Nunca ninguém fez tanto para destruir o trabalho que tantos levaram anos para construir.
Desde a primeira eleição direta para presidente da República, o esporte vinha ganhando espaço como política pública no país. Collor transformou o que era uma secretaria ligada ao Ministério da Educação em uma pasta subordinada à Presidência, e chegou a ter Zico no comando da área. O Esporte virou ministério com FHC, ainda junto com o Turismo, chegando a ter como comandante o ótimo Lars Grael.
Mas foi Lula quem criou um ministério exclusivamente do Esporte. É verdade que nunca seguiu a vontade de parte da comunidade esportiva, de ter um esportista à frente da pasta, entregando-a ao PCdoB. Hoje, entendo que foi uma escolha acertada.
Não só porque política é feita por políticos, mas especialmente porque foi na mão desses políticos que o Esporte se consolidou como política pública no país. Hoje, quase tudo que funciona no nosso esporte (exceção ao futebol, um mundo a parte) foi criado nos governos de Lula ou de Dilma Rousseff, sua sucessora.
Foi com Lula e Dilma que o Brasil trilhou o caminho para se tornar o embrião de potência olímpica que é hoje, seja pela construção de equipamentos públicos, seja pelos programas que financiam o treinamento de alto rendimento.
Para Bolsonaro, o esporte nunca foi prioridade. Basta ver que sua primeira atitude na área foi acabar com o ministério. Os primeiros escolhidos para cuidarem da secretaria que sobrou, os militares, não faziam trabalho ruim, apesar da minha crítica pessoal à postura até hoje golpista de vários deles.
Mas, quando teve que escolher entre centrão, família e pessoas que tinham interesse genuíno em fazer alguma coisa pelo esporte, ficou com os dois primeiros. Fez a vontade do então secretário Osmar Terra, exonerou os generais, e nomeou para o seu lugar Marcelo Magalhães que, ainda que tivesse alguma atuação no esporte, como intermediador de contratos de patrocínio para atletas, só chegou ao cargo por ser amigo de Flávio Bolsonaro.
Magalhães nunca arregaçou as mangas. Escondeu sua agenda e passou mais tempo no Rio do que em Brasília, trabalhando. Como o chefe (Bolsonaro) não se importava muito e o amigo garantia as costas quentes, foi levando com a barriga. Organizou uma edição mequetrefe dos Jogos Escolares, mas, quando as coisas deram errado, tirou o dele da reta.
Seu maior feito foi ter tietado um monte de atleta. Bom para ele, que ganhou um belo arquivo de fotos pessoais; ruim para o esporte brasileiro. Vai embora sem ter construído uma obra, sem poder ser orgulhar, no futuro, de ter papel preponderante no sucesso de qualquer atleta.
Depois de quatro anos de Bolsonaro e quase três anos de Magalhães, sobrou muito pouco do antigo ministério do Esporte para contar a história. A estrutura terá que ser repensada quase do zero, com recriação de cargos, novos contratos de prestação de serviço, novo espaço. E, claro, dinheiro que hoje não existe, e não está no Orçamento de 2023.
Não acho que isso deva ser uma prioridade de Lula, em um país com tanta gente passando fome e tão destruído por Bolsonaro. Mas confio que os escolhidos pelo presidente eleito para a função entendam que, hoje, é necessário fazer muito mais do que pensar no esporte de alto rendimento. É preciso, com urgência, ampliar a prática de atividade física, em todas as faixas etárias. O esporte pode fazer muito pela saúde, pode fazer muito pela educação, pode fazer muito pela segurança.
Da minha parte, depois de expressar publicamente meu apoio à chapa de Lula em oposição a Bolsonaro, só posso prometer fazer o que venho fazendo desde que comecei a atuar no jornalismo esportivo: uma cobertura crítica, buscando apontar falhas e acertos.
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