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Governo dá R$ 2,1 mi para América-MG Vôlei organizar mundial de skate no RJ
O governo federal repassou R$ 2,1 milhões ao clube Montes Claros/América-MG Vôlei para que ele organize o Super Crown da SLS (Street League Skateboarding), a etapa final do circuito mundial de skate, que acontecerá neste fim de semana no Rio de Janeiro. O mesmo clube, que em oito anos de história só organizou jogos de vôlei, e somente em Montes Claros (MG), também foi beneficiado pelo governo com R$ 1,5 milhão para realizar um campeonato de esportes eletrônicos, o Multiplatform eSports Games (MEG), também no Rio, no mês passado.
Ambos os termos de fomento se distinguem muito do padrão da secretaria. O usual é o repasse de dinheiro a uma entidade de administração do esporte. Para o Pan de Ginástica, a beneficiada foi a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Para o Brasileiro de Boxe, a Confederação Brasileira de Boxe (CBB). Para o Pan de Badminton, a Confederação Brasileira de Badminton (CBBd).
Mas, para financiar a SLS e o MEG, a secretaria topou repassar R$ 4,1 milhões à Associação Educacional, Esportiva e Social do Brasil (AEESB), um clube fundado em 2014 e que tem seu site hospedado no registro "América Vôlei (com.br)", uma vez que joga a Superliga com a camisa do América-MG. No vôlei, o clube é conhecido como "Montes Claros".
Até a assinatura do repasse de R$ 2,1 milhões por parte do governo, o vínculo entre AEESB e Super Crown inexistia, inclusive no material de divulgação do evento, que vem sendo organizado e promovido pelo menos desde agosto pela empresa de marketing esportivo 213 Sports, uma das principais do país neste ramo.
Era isso que constava em comunicados à imprensa até a publicação do termo de fomento no Diário Oficial, no fim da semana passada. Desde então, a 213 Sports deixou de ser a "organizadora" do evento, nos materiais de divulgação, e se tornou só a "produtora", com a AEESB, que até então nunca havia sido citada na divulgação, passando a ser a "organizadora".
Apesar disso, não consta que a AEESB tenha participação efetiva na organização do evento. Uma entrevista coletiva com os organizadores foi convocada para hoje (4), com a participação de dois representantes da 213 Sports, que para o mercado é a responsável pelo Super Crown no Rio, e um da SLS. A AEESB não é nem citada no convite enviado à imprensa e o responsável pelo convênio por parte do clube não soube dizer por quê.
Já Pedro Dau, diretor-executivo comercial da 213, diz que sua empresa foi convidada pela SLS para "realizar e viabilizar" o evento no Brasil e que ela "entendeu que era necessário buscar um parceiro que possuía os mesmos propósitos da SLS e da 213 Sports, para fomentar o skate como esporte de inclusão social e de alto rendimento", encontrando no clube de vôlei de Montes Claros este parceiro.
Segundo ele, a 213 e a AEESB são "co-realizadoras" do evento. Uma atua perante o mercado e outra capta dinheiro público — por lei, a secretaria não pode fomentar empresas privadas. "Assim como a 213 Sports trouxe marcas privadas para o Super Crown 2022, a AEESB aprovou um termo de fomento para viabilizar parte deste evento", explica. Nos documentos enviados ao governo, só a AEESB é apresentada com organizadora e a 213 é somente uma das muitas empresas que enviaram orçamento para serem contratadas como terceirizadas.
O homem por trás
Tomás Mendes, presidente da Federação Mineira de Voleibol (FMV), é o homem por trás do apoio do governo federal à ONG de Montes Claros, sendo o gestor técnico dos convênios. Para conseguir os R$ 4,1 milhões da Secretaria para os dois eventos no Rio, a entidade apresentou dois atestados de capacidade técnica. Um, dela própria. Outro, da FMV, assinado por Tomás.
Com relação próxima a Marcelo Magalhães, secretário de Esporte, e André Alves, secretário-executivo de Esporte, Tomás é o beneficiário de 86% das verbas liberadas pela Secretaria de Esporte de Alto Rendimento desde que Thiago Fróes assumiu a pasta, em agosto. Além das verbas para a AEESB, ele conseguiu mais R$ 750 mil para sua federação organizar uma etapa do Circuito Mundial de Vôlei de Praia em Uberlândia.
À coluna, Tomás admitiu que tem relação próxima, "mas não de amizade" com a cúpula da Secretaria de Esporte, mas alegou que não foi ele a conseguir o recurso para o SLS, e sim Andrey Souza, que aparece, no site do América, como "gestor do projeto Montes Claros Vôlei".
Apesar do cargo, e de ser entendido no meio do vôlei como o "dono" do time de Montes Claros desde a criação da equipe em 2014, Andrey não tem nenhum vínculo legal com a entidade, que já foi comandada pela esposa dele e hoje é presidida pela nutricionista Tamirys Caroline Silva Souza, sua irmã.
Tomás Mendes alega que a entidade não é só um time de vôlei. "É uma associação esportiva que está se rejuvenescendo, trazendo algumas situações para o mercado que são importantes até mesmo para não ficar hoje só com vôlei. Fomos nós que fizemos algumas pontes para eles conhecerem algumas pessoas e oportunidades foram surgindo. Tem outras oportunidades, não só com recurso federal, mas também privado, leis de incentivo."
A coluna procurou a Secretaria Especial do Esporte na manhã de ontem (3), por e-mail enviado à assessoria de imprensa do Ministério da Cidadania, mas não obteve resposta, como tem sido padrão da pasta, que não responde nenhum questionamento deste repórter desde abril. A coluna questionou por que a Secretaria escolheu financiar os eventos da AEESB, quais os critérios de escolha, por que três eventos ligados a Tomás Mendes foram beneficiados desde a chegada de Thiago Fróes, e qual a relação pessoal entre eles. Caso haja resposta, este texto será atualizado.
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