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Rebeca Andrade festeja título com brilho próprio e longe da sombra de Biles
Os aplausos efusivos vindos das arquibancadas da Liverpool Arena, na Inglaterra, quando Rebeca Andrade foi chamada a subir ao topo do pódio da prova mais nobre do Mundial de Ginástica Artística, demonstram que a modalidade tem uma nova rainha: uma brasileira de 23 anos, que desde a adolescência é apontada como uma das melhores do mundo, e que só agora, sete anos após chegar à categoria adulta, estava em forma física para disputar pela primeira vez em um Mundial a prova que escolhe a ginasta mais completa.
Durante todo o período em que o mundo se perguntava "e se Rebeca não estivesse machucada?", a ginástica feminina foi dominada por outra mulher preta como ela, Simone Biles. Por anos, o esporte se questionou se Rebeca não viria a ser exatamente a "nova Simone Biles". E, agora que a brasileira chegou lá, o mundo entendeu que cada estrela tem seu brilho.
"Por incrível que pareça, ninguém me perguntou dela, ninguém tentou ficar me comparando", contou Rebeca, por telefone, ao Olhar Olímpico, depois de passar por um batalhão de cerca de 50 jornalistas de todos os cantos do mundo, que queriam falar com a nova melhor do mundo.
"Acho muito legal. Todo mundo tem ela como base. Ela é uma estrela, tenho ela como ídolo, mas acho que a ginastica não é só ela. Cada pessoa tem seu potencial, fiquei feliz de não ser comparada. Virou a Rebeca Andrade. Virou a ginastica do Brasil", continuou.
O ouro conquistado ontem (3) é o terceiro de Rebeca em alto nível. Ela ganhou a prova de salto nos Jogos de Tóquio, depois de ser prata no individual geral naquela competição, e faturou seu primeiro título mundial no ano passado, em um torneio esvaziado após a Olimpíada, também no salto. Essa é a primeira conquista internacional de Rebeca, porém, nesta que é a prova mais nobre da ginástica.
Para a brasileira, contudo, uma conquista não é mais importante que outra. "Hoje foi um dos dias mais importantes, a gente pode colocar na nossa listinha", disse.
A diferença, segundo ela, está não no peso da medalha, mas na forma como a conquista é vista internacionalmente. "Nas Olimpíadas, as pessoas não esperavam o que eu ia mostrar, hoje elas tinham o entendimento. Mostrei uma ginástica muito forte. Na Olimpíada, a gente impressionou, hoje a gente conseguiu concretizar, mostrando uma ginastica difícil, leve, com alegria."
Depois de se classificar à final somando 1,6 pontos a mais do que qualquer rival, Rebeca chegou à decisão de ontem (3) como ampla favorita, algo que não tinha em Tóquio, por exemplo. Mas ela disse que não encarou isso como um peso. "Na ginastica tudo pode acontecer. Eu não posso controlar o que as pessoas esperam de mim. Se eu focar nisso, não vou fazer o que eu preciso fazer. Venho para a competição para, independentemente do que acontecer, mostrar o que eu posso fazer."
O erro nas paralelas, aparelho com o qual disse ter tido um "arranca-rabo", contornado com sabedoria, não deixou Rebeca triste, mas com mais garra para a fila do aparelho, no sábado. "É o aparelho que mais gosto. Queria ter conseguido fazer melhor. Estou preparada para o que der e vier e vou fazer meu melhor para conquistar os resultados", afirmou a brasileira, que ainda disputa as finais da trave e do solo no domingo.
Rebeca se classificou em terceiro nas assimétricas, aparelho na qual foi prata no Mundial do ano passado, em oitavo na trave, apesar de uma série com falhas nas eliminatórias, e em segundo no solo, empatada com Flávia Saraiva, que ficou em primeiro nos critérios de desempate. Neste último aparelho, fará, no domingo, a última apresentação da série embalada pela música Baile de Favela. Além de Flávia, deverá ter como rival a britânica Jessica Gadirova, que compete em casa. As duas tiraram 14,400 na final de ontem, melhores notas da competição.
No salto, aparelho em que é atual campeã mundial e olímpica, Rebeca ficou fora da final de forma surpreendente. Depois de executar ótimo salto na apresentação que valia para a classificação geral, ela falhou feio na segunda tentativa, que só vale para a classificação deste aparelho. Ela errou a entrada, apoiou só uma mão na mesa, e mais conseguiu evitar um acidente do que realizar um salto competitivo. Na final de ontem, foi quase perfeita no salto, melhorando 0,4 pontos a execução na comparação com a apresentação que deu a ela o ouro olímpico.
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