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Olhar Olímpico

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Recorde de medalhas no Mundial de ginástica deixa gostinho de 'quero mais'

Rebeca Andrade é bronze no solo no Mundial - Ricardo Bufolin/CBG
Rebeca Andrade é bronze no solo no Mundial Imagem: Ricardo Bufolin/CBG

07/11/2022 14h12

As três medalhas obtidas pela equipe brasileira no Mundial de Ginástica Artística fazem da campanha em Liverpool (Inglaterra) a melhor da história do país. Pela primeira vez, o Brasil tem uma campeã do individual geral, um posto disputado pelas maiores potências do esporte e da economia mundial. Mas ficou a sensação de que o desempenho no quadro de medalhas poderia ter sido melhor.

Não que vencer o individual geral, prova mais nobre da ginástica, com um ponto e meio de vantagem sobre a segunda colocada, seja pouco. Não é. Em Liverpool, Rebeca vestiu a coroa que, potencialmente, era dela já desde o ano passado: a de melhor do mundo. Não tivesse sido poupada no solo no Mundial realizado no fim de 2021, ela já poderia teria sido campeã naquela ocasião.

Desta vez, até onde se sabe, ela chegou 100% em Liverpool, e Rebeca, em 100% de suas condições físicas, é ginasta para ganhar, pelo menos, três medalhas individuais. Ganhou duas na Inglaterra.

Das duas provas em que era muito favorita ao ouro, ganhou uma só —ok, a mais importante. Mas, no salto, ficou fora até da final, apesar de ter a melhor série da competição, incomparável com as rivais. Em outras duas provas, era favorita ao pódio: paralelas e solo. Dessas, ganhou só uma medalha, de bronze, no solo, em apresentação pior do que está acostumada a fazer. Nas paralelas, errou e terminou em oitavo.

Na prova em que era cotada à medalha, mas não exatamente favorita, a trave, também caiu e terminou em oitavo. Em três finais por aparelhos, foram duas quedas e uma apresentação abaixo do usual, que mesmo assim rendeu medalha. Rebeca pode mais, e todo mundo sabe disso. Era a chance de fazer uma competição 'arrasa quarteirão, para entrar na história da ginástica mundial. E isso não aconteceu.

O Mundial, para ela, foi extenuante, e isso pode ter impactado nas apresentações finais. Rebeca fez cinco séries nas eliminatórias (quatro do AA, e um salto extra), quatro na final por equipes, carregando nas costas a responsabilidade de levar o Brasil à Olimpíada, e mais quatro na final do individual geral, com a expectativa de ser consagrada campeã. E depois ainda teve as finais por aparelhos. É muita coisa para oito dias de competição.

A comissão técnica da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e toda a equipe do COB que trabalha com Rebeca e a seleção de ginástica já devem estar pensando como melhorar isso para o Mundial do ano que vem, na Bélgica, e principalmente para a Olimpíada. Em Liverpool, as duas medalhas que escaparam não fazem falta para ninguém, exceto para ela. Nos Jogos Olímpicos, poderão ser fundamentais para atingir a meta da delegação. É um fardo pesado, mas que só é depositado nos ombros de quem pode carregá-lo.

Ainda que Rebeca não tenha subido ao pódio tantas vezes quanto poderia em Liverpool, a brasileira comprovou, mais uma vez, todo seu potencial. Os ajustes são para conseguir se apresentar no pico desse potencial em um maior número de vezes durante uma grande competição. Uma solução "fácil" seria poupá-la na final por equipes, visando ganhar mais medalhas nos aparelhos. Mas isso vai contra a cultura da ginástica artística mundial.

Força do conjunto

No Mundial, o Brasil mostrou que é candidato à medalha também por equipes. E só não chegou lá pela ausência de Flávia Saraiva, que, pela segunda vez seguida, perde uma grande competição por lesão no tornozelo, repetindo Tóquio. Com Flavinha inteira, o Brasil possivelmente iria ao pódio por equipes —assegurando vaga em Paris—, e ela brigaria por medalhas no individual geral (a nota do Pan, pouco inflada, a deixaria com a prata), no solo (seu 14,200 das eliminatórias valeria ouro) e na trave.

Apesar de todos esses problemas, é importante voltar ao começo do texto: estamos falando da melhor campanha da história, com três medalhas, e que rendeu a melhor posição do Brasil por equipes no feminino. Isso apesar das ausências de Arthur Zanetti, sempre candidato a medalha nas argolas, e de Jade Barbosa, a carta na manga da seleção feminina para Paris. Com ela no time, a chance de uma medalha olímpica por equipes fica maior.

Além de Rebeca, o Brasil também ganhou medalha com Arthur Nory, bronze na barra fixa. E comprovando a velha máxima de que para chegar ao pódio é preciso estar na final, Nory pegou a sétima vaga, fez uma apresentação correta na final e acabou com a medalha, repetindo o que aconteceu na Rio-2016.

Caio Souza tem potencial para fazer o mesmo no salto, mas ainda não conseguiu. Desta vez foi quinto, seu melhor desempenho em Mundiais, apesar de chegadas ruins em seus saltos na final.

Novidade na equipe masculina, Yuri Guimarães mostrou potencial para tentar esse mesmo caminho. Com a nota que fez no solo na final por equipes, ele teria sido bronze na final do aparelho. Potencial para isso ele mostrou. Agora falta seguir o rito que Nory já conhece bem. Tomara dê certo.