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Demitida, Behar avalia que foi 'usada' para modernizar imagem da CBV

Adriana Behar, CEO da CBV - Divulgação/CBV
Adriana Behar, CEO da CBV Imagem: Divulgação/CBV

10/11/2022 10h00

Em sua primeira declaração assim que foi contratada para ser a primeira CEO mulher da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Adriana Behar disse estar pronta para ajudar a diretoria no "processo de modernização e reestruturação da CBV". Um ano e meio depois, de fato a confederação tinha uma imagem mais moderna, até decidir ceder à pressão de federações estaduais e demitir a CEO.

"Acho que eles me usaram para trazer uma 'cara' de inovação e modernidade, mas que no fundo não era a intenção", disse Adriana ao Olhar Olímpico, ontem (8), pouco depois de ser informada de uma demissão que já era certa há algum tempo.

Sua "cabeça" foi prometida pelo presidente Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, a presidentes de federação, durante uma reunião há cerca de um mês em Maceió (AL), de onde o cartola não sai. Depois desse encontro, federações que foram fundamentais na reeleição de Toroca produziram uma carta pedindo a demissão dela por, entre outros motivos, Adriana trabalhar parte do tempo em home office. Um dos signatários comanda uma federação estadual desde a Itália, onde mora.

Entre as alegações, também críticas à forma de ela se relacionar com as federações, o que não estava no escopo do seu trabalho, executivo, e ao fato de os campeonatos nacionais entre seleções estarem cada vez mais na mão do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), um processo que começou antes da gestão de Adriana e tem ocorrido em todas as modalidades.

"A prioridade em algum momento passou a não ser mais o motivo do convite para que eu trabalhasse na CBV. Houve uma mudança de prioridade, de foco, para aquilo que talvez eles entendam que é mais importante, que é talvez a politica, talvez o voto, em detrimento aos resultados alcançados dentro da CBV", disse ela.

Adriana chegou a enviar uma carta a Toroca e ao vice-presidente Radamés Lattari, que é quem comanda a confederação na prática, rebatendo ponto por ponto da carta dos presidentes de federação, que ela disse ter recebido por terceiros.

"Na primeira reunião que a gente teve, você perguntava: 'Quem é a cara da CBV?'. E não tinha essa cara. Esse trabalho foi feito, para a gente ter um ambiente mais integrado. Esse caminho trouxe prejuízo para a CBV? Não identifico isso. Foi tomada decisão que trouxe risco de perda de patrocínio? Também não. Renovamos patrocínios e trouxemos novos contratos. A gestão não trouxe risco, não trouxe mídia negativa, prejuízos financeiros, perdas, rompimentos de contrato por qualquer questão de governança, de gestão, de transparência. Nitidamente não foi isso, foi o inverso", avaliou a agora ex-CEO.

Algumas das mudanças implementadas por Adriana geraram repercussão negativa, como o novo formato de competições de vôlei de praia, e, nas últimas semanas, a distribuição de aparelhos de arbitragem de vídeo. Mas nada disso consta na carta que pressionou pela demissão da CEO. Pelo contrário: essas críticas vinham da "oposição" à atual diretoria da CBV, mais próxima ao vôlei profissional, mas a saída dela cai na conta da "situação", formada por federações sem times profissionais.

Adriana era a mulher com mais importante cargo executivo no esporte brasileiro, ainda que não fosse a única CEO — a confederação de rúgbi, muito menor, também tem uma mulher no cargo. A carta em que 11 dirigentes pedem sua saída é assinada por 10 homens, que cobram a demissão de Adriana e criticam a gerente de seleções, Julia Silva, mulheres em cargos mais proeminentes na confederação. O presidente e o vice, homens, são poupados.

"Vejo que ainda é um desafio muito grande mulher em cargo de chefia e fazendo um bom trabalho. Tem uma dificuldade, acho que tem. Mas não dá para generalizar. Tem federações que trabalham bem, mas de certa forma o foco fica muito direcionado a duas mulheres."

A CBV não justificou publicamente a demissão de Adriana, citando apenas sua saída e agradecendo pelo trabalho na confederação. Internamente, foi informado que Radamés Lattari, que era CEO até ser eleito vice-presidente, vai ocupar interinamente o cargo novamente.

Procurada para comentar as declarações da ex-CEO, a confederação disse: "Em seus quase dois anos como CEO da CBV, Adriana Behar conquistou importantes resultados e cumpriu com muita competência as funções de seu cargo. A opção neste momento foi seguir outra linha de gestão interna, sem nunca deixar de reconhecer e valorizar o trabalho realizado pela Adriana e por outros gestores que já passaram pela entidade. A CBV continuará trabalhando pela excelência do voleibol nacional e para ser reconhecida como uma entidade transparente, inclusiva e sustentável."