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Capitão Chateaubrian: Militar de carreira é 1º brasileiro em Paris-2024
A delegação brasileira que disputou os Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado, tinha 92 atletas militares. Todos, porém, só foram contratados pelas Forças Armadas, de forma temporária, depois de alcançarem sucesso no esporte. Para as Olimpíadas de Paris, o país tem somente um classificado individualmente por enquanto. Ele também é militar, mas de carreira.
Philipe Chateaubrian, o capitão Chateaubrian, venceu a pistola de ar 10 metros no Campeonato das Américas de Tiro (CAT) em Lima (Peru), no fim de semana passado, e depende só dele para estar em Paris. A vaga é do país, mas, pelos critérios estabelecidos pela Confederação Brasileira de Tiro (CBTE), permanecerá com o responsável por conquistá-la, a não ser que ele tenha queda acentuada de nível técnico até a convocação.
O carioca de 33 anos, porém, não vislumbra essa possibilidade, ainda mais agora que conquistou protagonismo inédito na carreira esportiva e, espera, deverá ter mais apoio. "Não tenho um técnico meu. A confederação tem um técnico, mas não é pessoal. Eu tenho equipe disciplinar, mas por conta própria, e espero ter recursos em relação a equipamentos esportivos de ponta, melhores do que eu uso hoje em dia", contou ao Olhar Olímpico.
No Exército, apesar de estar oficialmente lotado no 20º Batalhão de Infantaria, em Curitiba (PR), pode se considerar um atleta profissional. Fica 95% do tempo cedido à Comissão Desportiva do Exército (CDE), que serve como clube verde-oliva. Seu trabalho é treinar diariamente no centro de tiro de Deodoro, construído para o Pan de 2007 e ampliado e reformado para a Rio-2016.
Filho de um militar que passou a maior parte da carreira como pracinha, chegando ao oficialato só depois de 28 anos, Philipe é mais conhecido pelo segundo nome, Chateaubriand, que o pai achava bonito e incluiu no registro de nascimento. Cresceu em Realengo, na zona Oeste do Rio, e estudou (e não gostou) em uma escola militar quando criança. Fruto que caiu perto da árvore, na própria definição, seguiu o pai e optou por tentar carreira nas Forças Armadas, passando no disputado vestibular da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN).
Foi ali que conheceu o tiro esportivo, depois de um ano jogando, sem sucesso, no time de futebol dos cadetes. "Eu não era nenhum Neymar, e um amigo me convidou para fazer tiro. Fiz o teste e passei. Até achei um pouco chato esse treinamento, é esporte de muita repetição, e tive que me adaptar a isso. Mas consegui pegar vaga na equipe titular dos cadetes e fui disputar uma competição entre as academias militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. Logo no primeiro ano, fiquei em segundo lugar".
Chateaubrian tem, portanto, um perfil raro no esporte brasileiro. O mais comum é que os atletas iniciem suas carreiras na escola e/ou no clube. O atirador iniciou em torneio no que pode ser comparado a Jogos Universitários, e, ainda mais raro: das Forças Armadas. Chegou a ser bicampeão do NAVAMAER, mas precisou dar um tempo do esporte quando foi incorporado à tropa e passou a trabalhar como oficial de tiro de uma unidade no Rio.
"Depois de dois anos, fui convidado a ser instrutor de tiro na AMAN, e tive mais oportunidades, porque trabalhava no estande de tiro e podia usar o tempo de almoço, ficar mais à noite, para me dedicar ao meu treinamento", conta. Foi assim que chegou à seleção brasileira civil, ganhando o bronze em 2018 no mesmo torneio pan-americano que viria a vencer este ano, e terminando em sexto no Pan de Lima.
Salto até Paris
O sucesso no tiro esportivo fez Chateaubrian ser cedido à CDE, o que permitiu a ele passar a se dedicar quase que exclusivamente ao esporte e seguir os passos de outros três militares de carreira que recentemente disputaram os Jogos Olímpicos, todo no mesmo esporte: a coronel Ana Luiza Ferrão, que foi a Londres, ao agora coronel da reserva Emerson Duarte, que competiu na Rio-2016, e ao coronel da reserva Julio Almeida, atleta olímpico em Pequim-2008.
Julio segue em atividade e é, hoje, o terceiro do ranking nacional da pistola de ar 10m. É, portanto, um dos concorrentes à vaga olímpica conquistada por Chateaubrian. Pelas regras definidas pela CBTE, o capitão vai a Paris se conseguir se manter entre os três melhores do ranking nacional — atualmente é o segundo, atrás de Felipe Wu — e se tiver ao menos dois resultados acima do "índice mundo" da CBTE em um ano. Em 2022, ele atingiu esse índice quatro vezes.
"O regulamento prestigia o atleta ganhador da cota, mas força a se manter em competição, em alto nível para que consiga representar o país. O risco sempre existe, eu não controlo o resultado dos outros atletas, só o meu. Mas estou bem seguro, bem tranquilo de que vou continuar desenvolvendo o trabalho que tenho feito e a vaga vai ser minha", afirma. Se a vaga escapar da mão dele, será recolocada em jogo em uma seletiva nacional.
O atirador espera, a partir de agora, receber mais apoio, inclusive para trocar de pistola. Ele conquistou a vaga olímpica e o título pan-americano com um modelo tido como intermediário, competindo contra atletas que tinham uma versão avançada, que custa cerca de 3 mil euros. Valor alto para um atleta, mas uma pechincha para o COB, considerando o aumento de possibilidades de resultado que um investimento do tipo pode trazer.
Evangélico, Chateaubrian diz que não teria chegado onde chegou sem a fé e sem o apoio que recebe da esposa e dos dois filhos. Disputando a mesma prova que deu medalha de prata a Felipe Wu em 2016, ele sonha alto, mas ainda com os pés no chão. "Minha expectativa até a Olimpíada é é criar condições para que eu possa fazer o melhor possível. Sei que tenho plenas condições de ter um excelente resultado."
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