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Olhar Olímpico

OPINIÃO

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Nicholas se aposenta campeão mundial aos 42 e vira lenda da natação

Nicholas Santos com a medalha de ouro dos 50m borboleta no Mundial de piscina curta - William WEST / AFP
Nicholas Santos com a medalha de ouro dos 50m borboleta no Mundial de piscina curta Imagem: William WEST / AFP

14/12/2022 11h30

Quantos atletas podem dizer que chegaram ao fim da carreira como melhores do mundo? E quantos podem dizer que fizeram isso aos 42 anos, quando todos os seus antigos adversários já pararam faz tempo? Só Nicholas Santos, que confirmou hoje (14) sua aposentadoria depois de ganhar o ouro nos 50m borboleta no Mundial de Natação em Piscina Curta de Melbourne, na Austrália.

Pensando do ponto de vista do esporte de alto rendimento, é fato que um Mundial de Piscina Curta vale menos (ao meu ver, bem menos) do que um Mundial disputado na piscina de 50 metros. Também é indiscutível que uma prova de 50m borboleta (ou 50m peito, ou 50m costas) é menos relevante do que as demais, que fazem parte do programa olímpico.

Independente de quem o conquiste, o título dos 50m borboleta neste Mundial é incomparavelmente menos importante que o título dos 50m livre no Mundial de Natação. Digo isso porque o que torna Nicholas Santos uma lenda não é ele ter chegado a mais essa medalha de ouro, a quarta de sua coleção. É a forma como isso aconteceu.

Nicholas é um nadador, pratica um esporte que demanda força e explosão. Seja na natação ou em outras modalidades que exigem perfil atlético semelhante, são raríssimos os casos de atletas que seguem competindo em alto nível aos 40 anos. Muito menos aos 42, a dois meses de fazer 43. E o brasileiro não só faz isso — ou fazia, até horas atrás —, como o faz em altíssimo nível.

Os 50m borboleta é disputado em Mundiais de Piscina Curta desde 1999. São em média 100 atletas inscritos na prova por edição, os melhores de seus países. De toda essa galera, ninguém nunca nadou a prova tão rápido quanto o que Nicholas conseguiu aos 42 anos. Porque o brasileiro não só ganhou o tetra em Melbourne como o fez batendo o recorde do campeonato: 21s78.

Nicholas criou uma forma de continuar se tornando mais rápido em sua prova apesar do avanço da idade até um nível onde a regra é estar aposentado. E encerrou essa trajetória chegando ao ápice, em Campeonatos Mundiais, exatamente na sua despedida. Isso é incrível, é inédito, é histórico.

A impressão é que se Nicholas quisesse ir a mais um Mundial, brigaria por medalha de ouro de novo. Se quisesse ir a mais dois, também. Mais três? Mas ele escolheu descansar. Já provou tudo que poderia provar, e agora deverá seguir na natação de outra forma, fora da piscina. Dentro dela, seguirá como uma lenda.