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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Garoto que subiu a rampa conquistou Lula com carta e quer ser como Cielo

Kikinho, nadador do Corinthians - Divulgação
Kikinho, nadador do Corinthians Imagem: Divulgação

02/01/2023 12h00

Kikinho queria contar a Lula (PT) o quanto o admirava. Aos 10 anos, decidiu fazer isso escrevendo uma carta, que faria chegar ao então presidente eleito nem que fosse por intermédio de algum segurança. Não imaginava que, duas semanas depois, subiria a rampa do Palácio do Planalto de mãos dadas com o novo presidente da República.

Um dos protagonistas da já icônica cena da faixa presidencial sendo entregue ao presidente por populares, Francisco Carlos Nascimento da Silva é um garoto doce de 10 anos, preto, morador da periferia de São Paulo. Todos os dias, acompanhado da avó, passa duas horas no transporte público de Itaquera até a sede do Corinthians, seu clube do coração, onde é um jovem e talentoso atleta de natação.

"Eu escrevi que as crianças acreditam nele, que eu gosto muito dele, que eu já fui para Curitiba gritar 'bom dia, presidente Lula' e fui ver ele jogar bola no MST", disse Kikinho, por telefone, à coluna, depois de chegar ao hotel onde está hospedado em Brasília, ontem à noite.

A mãe dele, a assistente social Telma Nascimento, conta que Kikinho adora o presidente, briga defendendo Lula na escola, e queria encontrá-lo na campanha. Ela mesma participou de alguns eventos com a presença do então candidato, mas considerou que todos estariam muito lotados para levar o filho. Abriu exceção quando foi chamada para o Natal dos Catadores, categoria com a qual trabalhou.

"Quando o Francisco soube, disse que queria escrever uma carta para dizer o quanto gosta dele [Lula]. Eu expliquei que talvez ele não conseguisse entregar a carta, que os seguranças poderiam não deixar, mas ele disse que então entregava para o segurança, e o segurança entregava para o Lula. Mas o próprio Lula recebeu e se encantou com a carta e com ele, chamou ele no palco e disse que queria dar um abraço depois que fosse empossado", conta Tânia.

Kikinho, ela e o marido, o advogado Francisco Carlos da Silva, o Kiko, foram convidados para a posse, com a informação de que o garoto participaria da cerimônia, mas só pouco antes é que eles foram informados que ele subiria a rampa.

"Pretendo mostrar para ele a importância do que foi o dia de hoje [ontem]. As pessoas passando a faixa, o que simbolizou um menino preto, de periferia, educado, gentil, que tem uma luz muito bonita, estar lá com todas aquelas pessoas. É um presidente do povo, que a gente espera que governe o povo", comenta Telma, que é militante do PT.

Kikinho com o mosqueiro, mascote do Corinthians - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Espelho em Cesar Cielo

Kikinho entrou na natação aos três anos, inscrito pelos pais em uma escolinha de Itaquera, visando sua segurança na água. Mas os professores logo identificaram nele um potencial nadador e sugeriram aos pais que o garoto passasse a treinar de forma mais séria. Aos 7 anos, foi aprovado em uma peneira do Corinthians, um dos principais clubes formadores da natação brasileira.

Em 2022, teve ótima temporada. Foi campeão do Circuito Mirim da 1ª Região da Federação Aquática Paulista ( FPA), tanto de verão quanto de inverno. Em outras palavras, foi o nadador mais completo da capital tanto no primeiro quanto no segundo semestres, entre os atletas de 10 anos, em um circuito que contou com mais de 500 jovens nadadores. Também ganhou o 'Torneio Timão', que elege o melhor nadador do clube do qual é também Fiel Torcedor. Kikinho já sabe que quer ser um velocista, nadar os 50m livre, prova mais rápida da natação:

"Eu pretendo ser nadador profissional, me inspiro bastante no Cesar Cielo".

A mãe completa: "Ele quer bater o recorde do Cielo".

Pergunto se ele sabe qual é o tempo que precisa fazer, e Kikinho responde de cabeça: "20s91". Aos 10 anos, tem muito tempo para melhorar 13 segundos suas marcas e chegar lá.

O jovem nadador, porém, sabe que a vida de atleta olímpico no Brasil não é fácil. E, se pudesse pedir uma coisa ao novo presidente, seria exatamente para mudar essa realidade.

"Eu acho que ele tem que tentar buscar quem foi eleito ministro do Esporte, para dar mais apoio para a natação. Para todos os esportes, inclusive a natação, porque a natação também tem poucos patrocinadores", afirmou.