Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mundial mostra que sarrafo subiu no skate street depois da Olimpíada
O Mundial de Skate Street, encerrado ontem (5) nos Emirados Árabes Unidos, mostrou um nível técnico muito superior ao de um ano e meio atrás, quando a modalidade estreou nos Jogos Olímpicos. O sarrafo subiu e, entre os brasileiros, até agora só Rayssa Leal acompanhou.
Historicamente, é sempre assim. Quando uma prova entra no programa olímpico, a evolução é acentuada. Mais países passam a procurar talentos, investir em treinamento, e tentar brigar por medalhas. Exemplo clássico incluiu literalmente o sarrafo. Quando o salto com vara feminino virou olímpico, o ouro saiu a 4,60m. Na Olimpíada seguinte, Isinbayeva saltou 4,91m.
Assim, já era esperado que o skate passasse por essa evolução. A visibilidade olímpica deu dinheiro ao skate e aos skatistas, que é reinvestido em treinamento e equipe multidisciplinar. A chegada de novos atletas acirra a concorrência, mostra caminhos, e exige que a caixinha de manobras seja aberta.
A manobra que era suficiente há dois anos agora precisa ser acompanhada de um flip, uma base trocada, um giro. E isso vale tanto no masculino quanto no feminino.
Rayssa Leal não só tem acompanhado essa evolução, como é responsável por puxá-la. Não foi bem no torneio de Roma, primeiro a contar com as regras do skate olímpico para 2024 (agora, obrigatoriamente vale para a contagem a volta de uma das duas voltas), mas se recuperou na SLS. Venceu as três etapas regulares e o Super Crown, que tem peso de Mundial.
Junto dela, toda uma garotada. Momiji Nishiya, japonesa de 15 anos ouro em Tóquio, Chloe Covell, australiana de 12 anos, e Rizu Akama, japonesa de 14. Tanto na semifinal quanto na final do Mundial, foi bem menor a distância entre a primeira a quarta do que da última da turma para a quinta colocada. Comparando com o salto com vara: é como se todas saltassem 4,80m, e as demais não passassem de 4,60m.
Outras duas japonesas parecem estar na mesma briga, ainda que não o tenham feito no Mundial. Yumeka Oda, 15, e a medalhista de bronze olímpica Funa Nakayama, 17, tiveram, uma na semifinal e outra na final, uma soma de notas de manobras que só não foi melhor que de Rayssa. Se cravarem as voltas, o que não fizeram em Sharjah, vão disputar pódio. Questão de se adaptar à nova regra, que exige que uma das notas consideradas seja de uma volta — antes, valiam três manobras.
Gabi Mazetto foi sexta, o que é um ótimo resultado, está em nítida evolução depois de se afastar do skate para ser mãe, mas terminou a 30 pontos de Akama, a última do grupo da frente. Ao longo de toda a competição, só teve uma nota acima de 80, e não há briga por pódio sem no mínimo três notas nesse patamar.
O mesmo para Pâmela Rosa. Com o atenuante de estar voltando de lesão e de ter competido também o Super Crown machucada, a brasileira não brigou pelas primeiras colocações como fazia até 2021. Mesmo somando sua melhor nota em volta, na semifinal e na final, e suas duas melhores manobras, chegaria a 243 pontos, dez a menos do que fez a medalhista de bronze.
No masculino, a briga também foi de altíssimo nível. Nas manobras, a melhor nota de Kelvin Hoefler, um 87,32, foi só a só a décima melhor do dia. O francês Giraud conseguiu um 93,36 e um 91,48. O português Gustavo Ribeiro, um 90,20. O japonês Ginwoo Onodera, de só 12 anos, dois 88. E todos ainda tiveram boas voltas.
Kelvin foi quarto, mas a 15 pontos da briga por medalha. E os norte-americanos Jagger Eaton e Chris Joslin terminaram abaixo dele porque foram para o tudo ou nada em busca de um manobra que valesse o ouro, e acabaram com nada. Com uma manobra de 70 pontos, básica, passariam à frente do brasileiro.
Esta semana acontece, no mesmo emirado, o Mundial de Skate Park, o primeiro evento oficial do novo ciclo olímpico. Será a chance de ver observar o tamanho da evolução de Tóquio para cá, e que brasileiros participam da briga. Pedro Barros parece estar entre os favoritos. Luiz Francisco, outro top brasileiro, está fora por lesão.
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