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Olhar Olímpico

OPINIÃO

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Rio quer brigar para ter os maiores eventos do esporte mundial

Fogos de artifício marcam início da Cerimônia de Abertura da Rio-2016 - Clive Mason/Getty Images
Fogos de artifício marcam início da Cerimônia de Abertura da Rio-2016 Imagem: Clive Mason/Getty Images

06/02/2023 13h00

Esta é parte da versão online da newsletter Olhar Olímpico, enviada hoje (6). A newsletter completa traz também uma análise sobre o domínio do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) na realização de torneios interclubes e a expansão do projeto de polo aquático do Sesi-SP. Quer receber antes o pacote completo, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Clique aqui. Para conhecer outros boletins exclusivos, assine o UOL.

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Depois de seis anos deitado em berço esplêndido, o Rio de Janeiro quer voltar a ser um gigante do esporte mundial. A cidade, que recebeu, em uma década, o Pan, a final da Copa do Mundo, os Jogos Mundiais Militares e a dobradinha Olimpíada/Paralimpíada, vai voltar a pleitear receber os maiores eventos esportivos do calendário internacional.

É claro que nenhum desses eventos quadrianuais voltará à Cidade Maravilhosa tão cedo. Mas o setor turístico do Rio definiu como uma das suas duas prioridades para a próxima década atrair os melhores (e mais lucrativos) campeonatos mundiais. A outra é colocar o Rio como cenário de grandes produções audiovisuais — leia-se, de filmes e séries de Hollywood.

Na semana passada, a prefeitura e o Rio Convention & Visitors Bureau (Rio CVB) organizaram evento para apresentar as conclusões de um estudo, contratado pelo CVB com dinheiro municipal, e realizado por uma empresa suíça especializada em contratos com federações internacionais. Essa firma, a 2IS, apontou 73 grandes eventos que o Rio, com sua infraestrutura e expertise, pode pleitear.

O estudo cita como "evento mais relevante" o Mundial de Hipismo, o que é um problema. São muitos cavalos, que exigem muitos estábulos, e uma estrutura gigantesca para receber esses animais, que não existe no Rio. Se isso já é difícil na Europa e nos EUA, onde estão a enorme maioria dos animais e do mercado do cavalo, imagine no Brasil, onde o mercado é incipiente. Vide o gigantesco desafio logístico e biológico que foi fazer as provas de hipismo da Olimpíada.

Em resumo, é muito, muito improvável, que o Mundial de Hipismo venha ao Rio. E, mesmo assim, o evento foi apontado como prioritário no estudo, seguido pela ordem de Mundial de Ciclismo (de todas as 16 modalidades, que terá sua primeira edição em 2027), Copa do Mundo Feminina de Futebol, Mundial Masculino de Vôlei, Mundial Masculino de Basquete, Jogos Pan-Americanos (de novo?), Mundial Feminino de Basquete, Mundial de Atletismo, Mundial de Esportes Aquáticos e Presidents Cup de Golfe.

O Rio CVB promete ir atrás de cada um dos 73 eventos listados, com verba própria. Para quem não está familiarizado com CVBs, são instituições bancadas pelo "trade" de turismo para fomentar o setor naquela região. Vai ser esse trade (hotéis, restaurantes, shoppings, aeroportos, setor de transporte, agentes de viagem, etc) que vai bancar a prospecção de eventos e que trará os famosos cadernos de encargo para confederações brasileiras, prefeitura, governo do estado e governo federal, quando for o caso.

É raro um evento esportivo de grande porte que não dependa nem um pouco do poder público. Não somente ou necessariamente de repasse direto de recursos, mas especialmente com questões burocráticas e legais. Além disso, boa parte dos equipamentos que podem ser utilizados nesses torneios são públicos, ainda que em alguns casos sob concessão: Maracanãzinho, Arena da Barra, Maria Lenk, Arena Carioca, Velódromo, etc

O plano do Rio CVB é para 10 anos, e naturalmente vai depender da boa vontade do governante da ocasião. Marcelo Crivella (Republicanos) não tinha nenhum interesse em esporte. Eduardo Paes (PSD) parece ver como questão de honra colocar o legado olímpico para funcionar como se esperava quando o Rio aceitou fazer a Olimpíada. Jair Bolsonaro (PL) tratou o esporte como qualquer coisa. Lula (PT) quer dar protagonismo ao Ministério do Esporte, mas não mais a partir de grandes eventos.

Em um passado não tão distante, o governo federal petista pagou, por exemplo, pelo Mundial de Handebol Feminino que aconteceu em São Paulo em 2011. Com Lula, nada indica que o ministério tope pagar por eventos do tipo de novo. Se o Rio CVB quiser mesmo trazer os Mundiais de Atletismo, Esportes Aquáticos, Vôlei e Basquete para a cidade, terá que achar outra fonte de financiamento.

Pessoalmente, acho difícil, mas, como profissional do setor, torço muito para dar certo. O Rio, e o Brasil de forma geral, são coadjuvantes de segunda linha no calendário internacional. Mesmo com algum investimento do governo federal no ano passado para movimentar o Parque Olímpico, ainda é possível contar nos dedos os eventos internacionais realizados no país.

Depois de tanto investimento em estrutura no ciclo até a Rio-2016, é decepcionante que estejamos assim. Que os grandes ginásios, seja no Rio, em São Paulo ou em Belo Horizonte, quase não sejam utilizados, que o público raramente tenha oportunidade de assistir aos melhores atletas do mundo em suas modalidades. Já escrevi que, pessoalmente, minha trajetória foi moldada pela possibilidade de sentar na arquibancada e acompanhar competições de primeira linha.

Acho que o caminho, tanto para o Rio quanto para outras grandes cidades brasileiras, é recomeçar de baixo. Buscar campeonatos sul-americanos, pan-americanos, etapas de circuito mundial... voltar ao calendário, oferecer oportunidades à população, e só depois buscar as grandes competições de novo.

Natural que o setor turístico tenha suas prioridades e tente puxar a sardinha para os eventos que podem movimentar o setor turístico. Mas espero que o poder público, especialmente a prefeitura, leve em conta também os torneios menores e que têm enorme importância para o setor esportivo, que, afinal, é diretamente interessado no assunto.

Rayssa Leal e Marlon Zanotelli: maranhenses de Imperatriz brilham

O cavaleiro Marlon Zanotelli - Alkis Konstantinidis/Reuters - Alkis Konstantinidis/Reuters
O cavaleiro Marlon Zanotelli
Imagem: Alkis Konstantinidis/Reuters

Por um fim de semana, a capital do esporte brasileiro foi Imperatriz, cidade do interior do Maranhão. Vieram de lá os dois grandes resultados do esporte olímpico brasileiro.

A começar por Rayssa Leal, campeã mundial de skate street. Um resultado fantástico, mostrando que a brasileira está mais do que acompanhando, está puxando uma nítida evolução no nível técnico da modalidade. Escrevi mais sobre isso na coluna.

Também vem de Imperatriz o cavaleiro Marlon Zanotelli, que conquistou dois ótimos resultados no fim de semana em Bordeaux, na França. No sábado, ganhou a etapa de Copa do Mundo. Ontem, foi segundo colocado no Grand Prix, torneio que distribui maior premiação em dinheiro.

As duas conquistas vieram montando cavalos diferentes. Na Copa do Mundo, ele saltou com VDL Edgar M, animal de 14 anos que ele levou às Olimpíadas de Tóquio-2020. No Grand Prix, com Grand Slam VDL, de 12 anos. Não é qualquer cavaleiro que tem duas opções deste nível para chegar a Paris.

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