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Joanna assume presidência do Conselho de Ética e quer aproximar atletas
Com uma carreira marcada pela defesa de políticas de proteção a atletas, Joanna Maranhão se torna, nesta segunda-feira (13), a primeira ex-atleta a presidir o Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Eleita no ano passado para ser uma das cinco conselheiras do órgão, ela ficará na presidência por um ano, como parte do rodízio que começa a ser promovido agora.
Criado em 2018, o Conselho de Ética teve antes como presidentes os advogados Alberto Murray e Sami Arap. Joanna, assim, é também a primeira mulher no cargo.
"A gente entende é que minha posição como presidente vai ser muito importante para aproximar os atletas. Vai ser a primeira vez que eles vão estar vendo uma atleta, e uma atleta mulher. Eu vou buscar essa aproximação maior ainda com a Comissão de Atletas, que acho que tem muitas coisas em comum. Quero que os atletas entendam como o Conselho atua. A grande maioria não sabe o que é", disse Joanna, no UOL Entrevista.
No site do COB, o conselho é definido como órgão encarregado, entre outras coisas, por "investigar e julgar denúncias levantadas em relação ao não respeito de tais princípios éticos, incluindo violações do Código de Conduta Ética e, se necessário, sancionar ou propor sanções aos poderes competentes." Mas, em pouco mais de quatro anos, poucos casos chegaram ao Conselho, e poucas sanções foram aplicadas.
"Eu quero que os atletas entendam como o conselho atua. A grande maioria não sabe o que é. Até o que são violações de natureza ética, o que o regimento diz. Tem um seminário que eu e Sami fizemos ano passado para dizer o que é o Conselho, como ele atua, falar da minha pesquisa também."
Mestrado na Europa
Em sua dissertação de mestrado, sobre violências interpessoais, Joanna Maranhão entrevistou mais de mil atletas brasileiros a partir de um formulário virtual e descobriu que 93% deles disseram ter sofrido casos de violência psicológica, 64% de violência sexual e quase 50% de violência física.
A mesma pesquisa já havia sido aplicada em outros países, todos do Hemisfério Norte, e apontado taxas bem mais baixas. "É pânico. Quase a totalidade passou por alguma situação de violência interpessoal. Deu muito mais alto que qualquer outro país que tenha feito. A gente está muito mais alto, absurdamente mais alto. Com essa pesquisa a gente tem algumas informações da dimensão."
Os formulários eram anônimos e Joanna não tem como medir quanto o fato de ser ela a pesquisadora não influenciou mais vítimas a a responderem. Ela conta que violências físicas severas, como estupro e tentativa de estupro, muitas vezes têm o treinador como abusador. Mas que a pesquisa também mostrou alta incidência de casos em que a violência parte de outro atleta.
"Temos uma hipótese de ser um problema generalizado no esporte brasileiro É uma pesquisa faz com que a gente precise fazer muitas outras pesquisas, mas eu precisava desse número. É muito inocente da minha parte achar que uma pesquisa vai mudar alguma coisa, mas me traz mais bagagem para estar batendo nessa tecla."
Caso Wallace
Joanna chega à presidência uma semana depois de o órgão aplicar a mais emblemática punição de sua história, ao suspender provisoriamente o jogador de vôlei Wallace, que sugeriu um "tiro na cara" do presidente Lula (PT).
Ela defende que atleta se posicione politicamente, como ela faz há bastante tempo, mas deixa claro que é preciso estabelecer um limite entre o que é opinião política e o que é incitação à violência.
"A punição ao Wallace não é uma punição política, é uma punição ética. Eu não vou votar, eu me isentei nesse caso. Não achei que fosse chegar no Conselho de Ética e emiti opinião [nas redes sociais], então não posso fazer o Sergio Moro. Mas o entendimento que eu faço e vou defender até o fim é o direito do Wallace, da Ana Moser, se posicionarem politicamente, mas eu não tem como não analisar a incitação à violência. Em nenhum aspecto. Eu não gosto de Bolsonaro em nada, mas jamais vou falar que é para dar um tiro nele, jamais vou comemorar porque deram uma facada nele. Acho que esse é o limite que a gente precisa colocar".
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