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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Chefe da equipe médica do COB pede demissão e deve causar debandada

02/03/2023 13h00

Ana Carolina Côrte entregou anteontem (28) sua carta de demissão como gerente médica do Comitê Olímpico do Brasil (COB). O anúncio foi feito em reunião com toda a equipe de médicos do COB e das confederações, que se mobilizou para promover um abaixo-assinado elogiando ela e dizendo que as mudanças, "inoportunas", irão impactar a performance dos atletas. Já são mais de 240 assinaturas.

A coluna apurou que tendência é que muitos dos melhores profissionais do país na área de medicina do esporte a acompanhem.

O pedido de demissão de Ana Carolina, que tem doutorado e pós-doutorado em medicina do esporte e também médica da equipe de futebol masculino do Corinthians, tem muitas semelhanças com a saída, também conturbada, do diretor de Esporte Jorge Bichara, há um ano. A diferença é que ele foi demitido, e ela pediu demissão. A reportagem procurou o COB com questões sobre o caso, e a matéria será atualizada quando receber resposta.

A decisão da médica foi tomada depois que soube da promoção de Christian Trajano, então gerente de Educação e Prevenção ao Doping, a gerente-executivo de Ciências do Esporte. Trajano também é médico, mas não tem especialização e não atende atletas.

"Colocar uma pessoa acima de mim é um problema? Não seria. Eu só não acho correto. Tenho uma carreira, uma formação, um histórico dentro da medicina do esporte, dentro do COB, tenho pós-doutorado em medicina do esporte, e ser colocada embaixo de uma pessoa que, longe de ter a formação que eu tenho, muito pelo contrário, não tem nenhuma formação na medicina do esporte, e eu ter que responder a ela? Tenho valores e princípios, o que é o mais importante da minha vida. Conversei com os médicos, expliquei da minha saída, e tive o apoio incondicional deles", disse Ana Carolina à coluna.

Há um ano, Paulo Wanderley queria dividir a área de esportes em duas, deixando Bichara com o treinamento e Trajano com a parte de ciências do esporte — a coluna revelou isso em 22 de março de 2022. Bichara discordou da mudança e foi demitido — o que pegou muito mal entre atletas e dirigentes.

Mas Trajano não assumiu o cargo após acusação de assédio moral e, a divisão, então, mudou. Um lado ficou com o alto rendimento, controlado por Ney Wilson, ex-judô. O outro, sob o comando de Kenji Saito, que cuidava do "desenvolvimento" (atletas de base) e da parte de ciências do esporte.

Ana Carolina reclama de como vinha sendo conduzida a área nestes últimos 11 meses. Era ela quem respondia por toda área médica do COB perante ao Conselho Regional de Medicina, mas havia perdido a palavra final em algumas decisões médicas do comitê, que passaram a ser de Kenji.

"Enfrentei muitas dificuldades, muitas mesmo, que podaram algumas cosias. Muita dificuldade de trabalhar. Atitudes que eu não concordava, desrespeitosas. Achei que era prudente tentar me posicionar e fazer algumas coisas. Expliquei para alguns diretores o que eu estava passando, muitos concordaram comigo, entenderam que não podia acontecer, mas aí fui surpreendida com o anúncio de que o Christian seria meu chefe."

Agora, o esporte fica dividido em três áreas, todas comandadas por pessoas originárias do judô, como também é Rogério Sampaio, que tem o cargo de CEO.

Médicos reclamam

"A gestão da Dra. Ana Carolina Corte foi um divisor de águas dentro do COB visto que todas as áreas dentro da medicina esportiva tiveram significativa melhora com grande satisfação dos atletas, dirigentes e colaboradores possibilitando um ambiente agradável, estimulando o trabalho interdisciplinar, resolução dos casos, crescimento individual da equipe de saúde com a realização de cursos e reuniões periódicas", diz trecho do abaixo assinado

A carta foi produzida após reunião que deveria ter sido de rotina, ontem, entre os médicos que trabalham para o COB e para as confederações olímpicas. Era para ser um encontro de alinhamento do que será feito em 2023, mas Ana Carolina entrou na sala virtual emocionada e contou que havia acabado de entregar sua carta de demissão, sem dar maiores detalhes.

Ela vinha sendo muito elogiada pelo trabalho, tanto pela forma como liderava a equipe de médicos e outros profissionais de saúde, como pelo tratamento dispensado aos atletas. O trabalho dela também foi muito exaltado nos Jogos de Tóquio, quando o Time Brasil passou ileso a casos de covid.

"Acreditamos que mudanças na área médica são inoportunas e irão prejudicar os diversos projetos que estão em andamento e terão impacto direto na performance dos nossos atletas a curto e longo prazo", continuam os médicos.