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OPINIÃO

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Mulheres não têm o que celebrar no esporte olímpico brasileiro

Ana Carolina Côrte pediu demissão do COB, mas continua como médica do Corinthians - Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Ana Carolina Côrte pediu demissão do COB, mas continua como médica do Corinthians Imagem: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Colunista do UOL

06/03/2023 13h00

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Eu queria que a newsletter da semana do Dia Internacional das Mulheres (8 de março) fosse dedicada a contar a linda história de uma mulher que brilha no esporte. São várias as personagens que poderiam estar aqui. Mulheres e mães, mulheres que venceram sem nenhum apoio, que desafiaram o preconceito, que são arrimo de família, que têm ótimos projetos sociais, que são as melhores do mundo no que fazem.

Só que qualquer uma dessas histórias não seria fidedigna à forma como o esporte olímpico trata as mulheres. O tempo passa, o número de participantes homens e mulheres na Olimpíada finalmente está perto da equidade, por lei as raras premiações de eventos com os dois gêneros são equivalentes, e há cota por representatividade em comissões de atletas.

Mas a realidade ainda é de mulheres com pouquíssimo espaço nas esferas de poder, tendo que entregar o dobro para ter metade do reconhecimento.

Se há um ano me perguntassem quem eram as cinco mulheres com as posições mais importantes no esporte olímpico brasileiro, eu citaria: Magic Paula (vice-presidente da CBB), Maria Luciene Rezende (presidente da CBG), Adriana Behar (CEO da CBV), Julia Silva (gerente de seleções de vôlei) e Ana Carolina Côrte (médica chefe do COB).

Mas Paula renunciou, Adriana foi demitida e, na semana passada, tanto Julia quanto Ana Carolina deixaram seus cargos. Fossem homens, as duas estariam empregadas, ainda, reconhecidas e premiadas pelo ótimo trabalho que faziam.

O caso de Ana Carolina, para mim, é exemplar: não havia quem criticasse o trabalho dela, que liderava uma equipe de quase 30 médicos entre fixos e eventuais. Mestre, doutora, pós-doutora. Mas quem foi promovido foi um homem criticado por onze em cada dez pessoas que lidam com ele dentro do COB, e que nem sequer fez residência médica — ou seja, não é especialista em nenhuma área da medicina.

"Mas ele é homem de confiança do presidente". E é esse o problema. Os de confiança são todos homens.

O presidente é homem, o vice é homem, o diretor-geral é homem. Dos sete diretores, seis são homens — a exceção é Isabele Duran, do financeiro, no cargo mais burocrático.

Nas confederações olímpicas, só duas presidentes são mulheres: Magali Moreira, da combalida confederação de remo, e Luciene Resende, da ginástica, que cumpre papel muito mais político, perante as presidentes de federação que são quase todas mulheres, do que administrativo, que no passado coube ao marido e hoje cabe ao filho.

O CEO do basquete é homem. O CEO do vôlei é homem. O CEO do atletismo é homem. O CEO na natação é homem. A lista é longa e só tem uma única exceção: Mariana Miné, do rúgbi, contratada para substituir Eric Romano, demitido após denúncias de posts muito machistas, em uma tentativa de contenção de danos.

As exceções confirmam a regra: o esporte brasileiro é machista.

Avança aqui e ali, uma vez que tem mulheres como ministra (Ana Moser) e como presidente da comissão de ética do COB (Joanna Maranhão). Mas é uma caminhada que continua a passos de tartaruga.

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