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Polícia investiga técnico de basquete por tentativa de estupro de garoto
A Polícia Civil de Francisco Morato, na Grande São Paulo, investiga o técnico Raimundo Altieri da Costa por uma acusação de tentativa de estupro de um menor que, à época, tinha 14 anos. Altieri, como é conhecido, foi eleito pela Federação Paulista de Basquete o melhor técnico sub-12 e sub-14 do estado em 2020. Procurado pela coluna, ele disse que não poderia comentar o caso.
Dada a forma como Altieri agia, frequentemente convidando jovens atletas para ir ao cinema e dormir em sua casa, a polícia acredita que pode encontrar outras vítimas do treinador, que trabalhava em Barueri e atualmente tem seu projeto em Mauá, também cidade da região metropolitana.
"Acredito que não foi a primeira nem a última, e ele pode ter feito o mesmo com outros adolescentes", diz a delegada Marilda Romani, que conduz as investigações. "Quem tem esse comportamento pedófilo não fica em uma vez só. Já fez com alguém, nesses anos ninguém descobriu, e provavelmente teve outros", completa.
A suposta vítima que se apresentou à polícia no mês passado para denunciar Altieri tem mais de 20 anos atualmente e só recentemente tomou coragem de contar à mãe sobre o episódio ocorrido quando ele tinha 14 anos. Tomou a decisão quando soube que um irmão, ainda criança, estava sendo treinado por Altieri. O relato a seguir é da mãe:
"Eu e o pai do meu filho somos separados e, naquele dia, ele estava na casa do pai. O Altieri convidou ele para ir no aniversário dele, em Francisco Morato, e ele foi. Quando eu fiquei sabendo, exigi que às 20h ele estivesse em casa, com o celular, que eu ia ligar. Fazia uns dois anos que ele chamava o meu filho para dormir na casa dele, e eu não deixava. Nesse dia, deu 20h, eu liguei, e nada. Mandei mensagem para o Altieri, e nada. Comecei a fazer uma ligação atrás da outra para o Altieri, até que ele atendeu. Eu disse a ele que meu filho não tinha autorização para ficar lá, pedi para falar com meu filho, e como ele teria que voltar de trem, já era 23h, ele poderia dormir lá, mas que às 6h da manhã tinha de estar em casa no outro dia."
Quando o adolescente chegou em casa, participou de uma conversa séria. A mãe conta que explicou para o filho que o comportamento de Altieri não era normal, que aquilo era indício de que o técnico queria "alguma coisa a mais" com o garoto, e determinou que os dois se afastassem. O menino, então uma promessa do basquete, acolheu a determinação.
Só anos depois ele contou à mãe que, naquela noite em que dormiu na casa do treinador, em uma edícula nos fundos da residência, acordou com Altieri sobre ele, tentando beijá-lo. À polícia, o jovem disse que conseguiu se desvencilhar, expulsar o técnico, e ficou em vigília o restante da noite. Em casa, não teve coragem de contar que a mãe estava certa quanto às suspeitas. Ele só revelaria a tentativa de estupro anos depois, ao reencontrar Altieri e reviver o trauma.
Convites para o cinema
"Exemplo de formação: conheça Altieri, técnico referência da base paulista", diz o título de um perfil de Altieri publicado pela Federação Paulista de Basquete (FPB) em 2020, antes das acusações. Depois de começar a carreira em Francisco Morato, onde ganhou os Jogos Regionais, foi contratado para trabalhar no sub-11 e no sub-14 do clube municipal de Barueri.
Pelo investimento que a prefeitura de Barueri fazia à época e pela localização entre São Paulo e Sorocaba, a cidade atraía os melhores talentos da região em diversas modalidades, como vôlei (vide a equipe que joga a Superliga) e basquete. "Barueri tinha se tornado uma potência no basquete de base do Brasil de uma forma bem legal. Não precisamos chamar atletas, eles apareciam em busca do nosso trabalho e estrutura que poderíamos oferecer", contou Altieri ao site da FPB.
Em Barueri, Altieri buscava ganhar a confiança dos garotos para manter com eles uma relação também extra quadra, pelo que contou a vítima e pelo relato de testemunhas já chamadas a depor em Francisco Morato. Oferecia-se para pagar um sorvete, chamava para ir ao shopping, para acompanhá-lo no cinema.
"As testemunhas disseram que também desconfiavam, já tinham essa percepção desse comportamento dele, de ficar direcionado para alguns jovens, de ter mania de chamar os meninos para ir para casa, para o cinema, de pagar conta. Atitudes bem características de abusador", afirma a delegada.
À coluna, a mãe da vítima contou que, das primeiras vezes em que soube que o técnico pagou sorvete para o filho, fez questão que o dinheiro fosse devolvido. "Ele chamava para ir ao cinema, eu sempre perguntava quem ia, e ligava para as mães dos outros garotos para confirmar. Cheguei a ir atrás do meu filho no shopping, olhava o celular dele para ver as conversas com o Altieri. Era sempre combinando de fazer alguma coisa, ele falava 'eu te amo', eu achava muito estranho, mas não tinha nada que eu pudesse falar que havia uma segunda intenção naquilo."
Possíveis outras vítimas
A delegada deve ouvir o suspeito ainda na semana que vem, para concluir o inquérito e remetê-lo ao Ministério Público. Ela, porém, acredita que a publicidade do relato feito a ela pelo garoto pode incentivar outras eventuais vítimas a relatarem o que passaram.
"Quando a mídia noticia, as pessoas se identificam. O autor desse tipo de crime cria uma culpa na vítima, que não fala por medo ou receio. Isso acontece nos crimes sexuais, não só de criança e adolescente, mas também com mulher. Outras pessoas vão dizer: 'Nossa, aconteceu comigo, e eu tô guardando todo esse tempo, perguntando por que fui lá aquele dia'. Não vê o caso do Thiago Brennand? Aquele é outro. O quanto de culpa cada mulher dessa devia sentir e carregar. Até que teve uma que teve coragem."
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