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Bronze olímpico, Augusto Akio brilha no skate e traz lições do malabarismo
Augusto Akio tem um plano B para a aposentadoria. Vai colocar os malabares na mochila e ir de cidade em cidade conhecendo novos lugares, novas pessoas, novas culturas. Mas isso só depois de encerrar uma das mais meteóricas carreiras do skate brasileiro. Ele há abriu com malabarismo as voltas na final do Campeonato Mundial de Skate Park que lhe valeram o título de vice-campeão, logo à frente do ídolo e amigo Pedro Barros. Agora, nos Jogos Olímpicos de Paris, leva o malabarismo para o pódio olímpico, com a conquista da medalha de bronze.
Dono de corpo e mente inquietos, Augusto, de 22 anos, conheceu o malabarismo quando não conseguia pôr nenhum dos dois em atividade. Havia trancado a faculdade para estender uma viagem aos Estados Unidos, mas machucou o quadril entre uma competição e outra, e precisou voltar ao Brasil. Não podia andar de skate, nem o compromisso com os estudos. Resolveu jogar coisas para cima.
"Pegava as coisas e jogava elas para cima tentando pegar de volta e derrubar cada vez menos", contou à coluna. Autodidata, começou a aprender a fazer malabarismo sozinho e, só depois, foi trocar conhecimento com outras pessoas. Descobriu um mundo, ou uma "cena", muito parecida com a do skate.
"É muito frustrante ficar errando várias vezes. Se você não quer realmente acertar, você desiste antes de conseguir. É legal também a empatia que quem pratica tem tanto com quem está aprendendo quanto com quem já é bom. É sempre um querer ajudar o outro", relata.
Promessa de Curitiba
Augusto começou a se destacar na cena nacional do skate quando tinha apenas 11 anos. Muitos o chamam de Japinha, por causa da origem, e o fato de ser relativamente baixo. Mas ele mesmo se apresenta como Augusto e, ainda que não se incomode com o apelido, prefere ser visto como um curitibano.
Ele, afinal, é fruto e semente do skate de Curitiba, que ele conta, de forma didática, ter sido construído pelos que vieram antes dele. "Isso remete aos tempos da velha guarda curitibana, onde os próprios skatistas de vertical, Miguel Catarina, Franco, irmãos Simão, Marcelo Kosake, se reuniam para construir pistas."
Essa tradição segue fazendo a diferença no skate brasileiro. O próprio Augusto tinha uma mini rampa nos fundos de casa e, quando deixou de ser eficiente para seu treinamento, ela foi doada. "Até poderia procurar alguém que tivesse interesse em comprar, mas o gasto é tão grande em montar e desmontar que não compensa. Quem aceitou a doação não tinha condição financeira para desmontar e transportar, então quem assumiu a bronca foi a família da Erica Leguizamon, que também é da seleção".
Da mesma forma que os fundos da casa de Augusto serviram muitas vezes de local de treinamento para os amigos, hoje é ele quem treina diariamente na pista própria de Luigi Cini e, eventualmente, na Green Box, estrutura que fica na casa da avó de Gui Khury. Os três são concorrentes diretos por uma vaga olímpica, por posições no pódio das principais competições do mundo, mas, acima de tudo, companheiros.
"No skate a gente não tem rival. Nós mesmos somos os nossos rivais, porque depende do que a gente vai fazer na pista. Tenho certeza de que, independente de quem for ganhar, vai dar um show de skate, vai estar representando bem o skate brasileiro."
No auge
Sem ter conseguido se classificar para os Jogos de Tóquio, Augusto não estava na turma que "furou a bolha" e apresentou o skate para o grande público brasileiro: Pedro Barros, Luiz Francisco, Pedro Quintas, etc. Não que faltassem resultados, mas eles vieram primeiro no vert, também uma modalidade de skate de transição, mas disputada em half pipe, não em bowl, como é o park. Em 2019, ele foi bronze no Mundial de Vert, mas não passou nem das eliminatórias do de Park, em São Paulo.
O desabrochar veio no Mundial disputado nos Emirados Árabes Unidos, em 2023. Augusto fez uma competição quase perfeita: foi o terceiro melhor das eliminatórias, o quarto melhor das quartas de final, o melhor da semi e vice-campeão na final, entre os astros Jagger Eaton, dos EUA, e Pedro Barros.
O curitibano não contava com um desempenho tão bom. "Para ser bem sincero, eu fui lá para andar de skate. Eu não estava muito preocupado com resultado. Queria estar passando as linhas de corte, sempre performando no evento. Foi maior que o esperado. Foi uma bela campanha, muito consiste", reconhece.
Além de se divertir, Augusto queria que o Mundial fosse uma oportunidade para mostrar a força do skate de Curitiba e, talvez, sensibilizar os políticos locais que têm nas mãos a possibilidade de fazer mais, construindo pistas e oferecendo condições de os jovens skatistas se manterem no esporte.
"Eu fui para Sharjah ciente do impacto que poderia ter meu retorno para casa com uma conquista. A forma como eu poderia estar influenciando de forma positiva para que as próximas gerações que viessem a andar de skate em Curitiba pudessem ter oportunidade melhores do que as que eu tive", diz ele, que lamenta a falta de apoio ao skate na cidade.
"A cidade tenta abraçar o esporte, só que não consegue. É muito complicado. A relação de skate e sociedade é muito próxima, porque muitos dos praticantes são da massa, muitos não têm condição de estar viajando, comprando peças novas. Então não adianta acontecer só uma coisa se várias outras coisas continuarem ruins. Para evolução do skate é necessária evolução sócio-ambiental, de muitas pessoas estarem bem para o skate de forma geral evoluir."
Em Paris, ele deu seu voo mais alto no park: bronze olímpico, mais uma vez superando Pedro Barros e se juntando ao amigo na lista de medalhistas olímpicos do Brasil na prova.
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