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OPINIÃO

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A 500 dias de Paris, Brasil nunca teve tantas chances de medalhas olímpicas

Duda e Ana Patrícia celebra o título da etapa de Gstaad (Suíça) do Circuito Mundial de Vôlei de Praia - Divulgação/FIVB
Duda e Ana Patrícia celebra o título da etapa de Gstaad (Suíça) do Circuito Mundial de Vôlei de Praia Imagem: Divulgação/FIVB

Colunista do UOL

14/03/2023 04h00

Faltando 500 dias para os Jogos Olímpicos de Paris, quem tentar acertar quantas medalhas o Brasil vai ganhar estará chutando. Mas uma coisa é certa: a menos de um ano e meio da competição, o Time Brasil olha para o presente, lista as possibilidades de medalha futura, e vê que a relação nunca foi tão grande.

Vide as campanhas nos Mundiais mais recentes dos esportes que atualmente são o "carro-chefe" do esporte olímpico brasileiro:

Sete confederações e 21 medalhas nos Mundiais mais recentes, sendo sete de ouro. Exatamente o que o Brasil conseguiu em Tóquio-2020.

Só que o país tem ao menos mais 50 chances. A maioria delas não vai se materializar em medalha, mas se tornar candidato ao pódio é passo importante para chegar lá. Quanto mais chances, mais medalhas.

A lista abaixo contabiliza as chances mais prováveis e pondera que, entre cada duas chances menos prováveis, uma vai se consolidar até Paris. A começar pelos mais tradicionais.

Só em dez modalidades em que o país tem alguma tradição são mais 30 chances de medalha, além daquelas conquistadas nos Mundiais mais recentes. Segue a lista, começando pelo enorme potencial da ginástica:

  • Ginástica Artística - Rebeca Andrade ganhou o individual geral do último Mundial, mas tinha tudo para fazer uma campanha melhor. É a melhor do mundo no salto, favorita ao ouro em Paris, e tem tudo para também subir ao pódio nas paralelas assimétricas. Sozinha, deve ganhar de três a quatro medalhas em Paris. Flávia Saraiva chegou ao último Mundial candidata à medalha no individual geral, no solo e na trave. Machucou-se e não levou nenhuma. Mas, se voltar ao nível que estava no meio do ano passado, vai brigar na Olimpíada em três provas. Com ela e Jade em forma, o Brasil é forte candidato ao pódio. Abaixo dos EUA, não deve nada a ninguém. No masculino, as chances, hoje menores, são com Caio Souza na trave e Arthur Zanetti nas argolas.
  • Judô - A fase é boa. Além do quarteto Rafaela/Mayra/Bia/Cargnin, o Brasil tem Guilherme Schmidt em quarto no ranking da categoria até 81 kg e Rafael Silva em sétimo no peso pesado. Além do próprio Baby, bronze no Grand Slam de Tel Aviv, o Brasil teve outros bons resultados recentes: Larissa Pimenta foi bronze em Tel Aviv, Rafael Macedo foi bronze no Masters do ano passado, Marcelo Gomes foi sétimo no último Mundial e Ellen Froner, voltando de lesão, foi bronze no Grand Slam de Paris.
  • Skate - Pedro Quintas e Luiz Francisco concorrem com Pedro Barros e Augusto Akio no park, mas um pódio completo brasileiro é improvável. Aqui, é briga direta entre brasileiros. No street, Kelvin Hoefler, prata em Tóquio, foi quarto no último Mundial e segue na briga. Lucas Rabelo, vice da SLS em 2021, voltou de lesão e também tem chances. No feminino, Pâmela Rosa foi duas vezes campeã mundial (2019 e 2021) e não pode ser descartada no street. No park, Raicca Ventura está chegando.
  • Surfe - As regras para a competição olímpica de surfe (que vai acontecer no Taiti) permitem que o Brasil classifique até três surfistas. No masculino, isso significa ampliar as possibilidades de pódio para três, já que, além de Filipinho e ítalo, o país tem Gabriel Medina. No feminino, Tatiana Weston-Webb foi quarta colocada da última WSL.
  • Vela - O Mundial 2022 foi exceção para Martine Grael e Kahena Kunze, que ficaram em sétimo. Mas elas são bicampeãs olímpicas e donas de seis medalhas mundiais. Tudo indica que vão brigar por pódio em Marselha.
  • Atletismo - Darlan Romani é o atual campeão mundial indoor no arremesso de peso, Thiago Braz vem de duas medalhas olímpicas no salto com vara, além da prata no último Mundial Indoor, e Caio Bonfim segue competindo bem na marcha atlética. Além deles, o Brasil tem se destacado com Rafael Pereira nos 110m com barreiras e Almir Junior no triplo. Ambos têm margem para evoluir, assim como Daniel Nascimento, maratonista que tem a melhor marca da história para um atleta não nascido na África e poderia ter ganhado a Maratona de NY se não fosse com sede demais ao pote. No feminino, Erica Sena volta depois de dar a luz.
  • Natação - Bruno Fratus foi ao pódio em quatro Mundiais seguidos, mas falhou em 2022. Não por isso deixa de ser candidato a mais um pódio olímpico. Também não pode ser descartado o potencial de Fernando Scheffer, terceiro em Tóquio-2020 nos 200m livre. Hoje o Brasil corre por fora nos revezamentos 4x200m livre (mais) e 4x100m livre (menos) masculino e sonha com o potencial de Guilherme Caribé para os 100m livre.
  • Tênis - Há menos de dois anos, ninguém acreditava em medalha do tênis feminino brasileiro. Mas Luisa Stefani e Laura Pigossi conseguiram. Agora, a aposta é alta. Bia Haddad é 13ª em simples e 26ª em duplas e Luisa Stefani, voltando de lesão, ganhou o Aberto da Austrália em duplas mistas com Rafael Matos. Dá para sonhar de novo.
  • Futebol - A seleção feminina passará por teste de fogo na Copa do Mundo deste ano. Por enquanto, não é favorita à medalha olímpica. O time masculino faturou o título do Sul-Americano Sub-20, liderado por Vitor Roque, e já começa a sonhar com o tri olímpico consecutivo. São selecionáveis nomes como Gabriel Martinelli, Rodrygo, Yuri Alberto, Danilo (ex-Palmeiras), Vanderson, João Gomes, Luiz Henrique, André (do Fluminense) e Morato.

E ainda tem as modalidades nas quais o Brasil nunca ganhou medalha olímpica e que podem estrear no pódio em Paris-2024:

Esgrima - Nathalie Moellhausen vem em ótima fase este ano. Venceu o Grand Prix de Doha, no Qatar, um dos eventos mais importantes do calendário, e em seguida ganhou também a Copa do Mundo de Barcelona, na Espanha. Aos 37 anos, nunca havia tido uma sequência dessas.

Ginástica rítmica - O conjunto brasileiro foi quinto colocado no Mundial do ano passado, apesar de falhas na prova que deveria ser seu forte, a mista, com bolas e fitas. Agora a análise dos árbitros tende a ser menos rígida, e, se Rússia e Belarus não puderem competir em Paris, as chances de medalha crescem.

Tênis de mesa - Hugo Calderano vai para a terceira Olimpíada como candidato à medalha. Ela ainda não veio nem em Mundiais, é verdade, mas isso só aumenta a obstinação do brasileiro, quinto do ranking mundial. É, sem dúvida, um candidato.

Triatlo - Manoel Messias abriu a temporada com o bronze na World Series de Abu Dhabi e aparece em oitavo no ranking mundial. No feminino, Vittoria Lopes foi sexta colocada no Mundial do ano passado. Não que os brasileiros sejam favoritos, mas uma medalha não seria surpreendente.

Saltos ornamentais - Ingrid Oliveira conquistou um histórico quarto lugar no Mundial do ano passado na plataforma e descobriu que pode, sim, brigar contra as melhores do mundo — exceto as chinesas, muito à frente. Kawan Pereira foi finalista em Tóquio, teve problemas na temporada passada, mas, se voltar ao ritmo que estava até 2021, também vira candidato.

Wrestling - Aline Silva ainda é a responsável pela única medalha do Brasil nos Mundiais de Wrestling, mas Laís Nunes tem batido na trave e pode quebrar o tabu na Olimpíada. Atualmente ela é a oitava do ranking.

Canoagem slalom - Em Paris, estreia no programa olímpico a prova "extreme", em que quatro atletas largam juntos e brigam por espaço no canal. Tanto Ana Sátila (quarta colocada no Mundial 2022) quanto Pepê (seis medalhas em Copas do Mundo) têm tido sucesso na prova, mas a competitividade deve aumentar até Paris.