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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Técnico pede, e presidente de clube da LBF atua também como jogadora

Natália Burian, presidente e armadora do Catanduva - Divulgação/LBF
Natália Burian, presidente e armadora do Catanduva Imagem: Divulgação/LBF

Colunista do UOL

29/03/2023 04h00

No futebol, dizem que pênalti é tão importante que o presidente do clube é quem deveria bater. No basquete, a presidente do Pax Catanduva também cobra seus arremessos livres. Natália Burian, de 38 anos, afinal, além de fundadora/gestora/presidente do clube, também é jogadora na LBF, torneio que está sendo transmitido pelo UOL. Hoje (29), ela entre em quadra às 19h30 para pegar o Santo André, fora de casa.

"Eu não ia jogar essa LBF. Mas por causa da segurança que eu passo o Cesamar (Fernandes, técnico da equipe) pediu para eu continuar, e eu não consegui falar 'não' para ele, da mesma forma que ele me disse 'sim' quando eu precisei. Eu consigo conciliar bem as duas funções, só não tenho tempo de descanso", contou Natália.

Quando viveu seu auge como jogadora, ainda antes da criação da LBF, Natália foi atleta de seleção e bicampeã brasileira. Chegou a fazer um ano de universidade nos EUA, mas voltou ao país para defender exatamente a equipe de Catanduva, que na época rivalizava com Ourinhos, outra cidade do interior de São Paulo, pelo posto de potência do basquete feminino.

"Tinha eu, Karla, Silvinha, Karina, Fabão, Gilmara, Joyce, Isis.... Teve anos que a gente era base da seleção brasileira", lembra Natália. O time acabou em 2012, junto com o segundo mandato do prefeito Afonso Macchione (PSB). Quando ele voltou à prefeitura, em 2016, procurou Natália, ídolo da cidade, para tocar o projeto.

"Eu já não queria mais jogar, mas alguns patrocinadores falaram que só patrocinariam se eu jogasse. Acabou que eu fiquei de presidente e jogadora", relembra.

Pelo basquete feminino

Na época, em 2016, a LBF não estava em seu melhor momento. Só seis equipes haviam disputado a edição anterior, e o basquete feminino encolhia no Brasil. Em Catanduva, Natália não podia retomar a velha equipe, cujo CNPJ estava cheio de dívidas. A solução foi assumir o controle de uma entidade que, até então, era um clube de xadrez.

Foi assim que surgiu o Bax Catanduva. "Eu sabia que o basquete de Catanduva precisava voltar a ter a vitrine que é o adulto, para estimular as categorias de base. Quando fui embora, em 2012, tinha cerca de 400 crianças nas escolinhas aqui. Daqui saíram atletas para o NBB, que tiveram bolsa universitária. E isso estava acabando", conta.

Além disso, Natália afirma que queria fazer mais pelo basquete. "Eu como jogadora tinha alcançado meus objetivos, mas queria ser uma gestora boa para poder ter o que a gente tem hoje, que era ter criança, projetos sociais, reconhecimento de Catanduva como polo do basquete feminino."

Presidente em quadra

Natália diz que, como dirigente, já precisou advertir e até multar colegas de equipe, e até o técnico Cesamar — que exagerou nos palavrões e se adiantou ao se auto multar. Mas, dentro de quadra, a dirigente diz que não impõe seu status de presidente.

"Não tenho coragem de abusar do poder que eu tenho fora das quatro linhas. Eu sei separar muito bem um lado do outro. Quando tenho que chamar atenção de uma jogadora, a gente senta e conversa, mas não consigo me privilegiar", diz.

Ao longo das últimas temporadas, Natália foi titular absoluta do Catanduva e pouco saía de quadra. Menos por vontade própria, mais por falta de recursos para contratar outra armadora do mesmo nível. Dentro do plano de o projeto evoluir um degrau por vez, para esta temporada o clube conseguiu contratar outra armadora, a cubana Casanova. Natália foi para o banco.

Há quase sete anos como cartola, ela já não tem dúvidas do que gosta mais de fazer: gerir. "Ser jogadora é mais fácil. Quando você é jogadora, só tem que se preocupar com treinar e jogar. Agora eu descobri outra paixão, que é brigar pelo basquete feminino fora das quatro linhas, estando fora dos holofotes. É uma coisa muito gostosa, não é fácil, mas é gostoso convencer as pessoas a investirem no basquete feminino."