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Brasileira campeã mundial entra para time de refugiados buscando Olimpíadas

Aline Facciola é erguida por Monique Araújo - Reprodução/Instagram
Aline Facciola é erguida por Monique Araújo Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

12/04/2023 04h00

Um casal de brasileiras foi selecionado para fazer parte do time de refugiados acolhidos pela Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF, na sigla em inglês). As duas vivem nos Estados Unidos, onde trabalham como faxineiras, e são acompanhadas de perto por Fernando Reis Saraiva, que cumpre suspensão de oito anos por doping.

Elas não aceitaram dar entrevistas e não são públicas as informações que explicam por que as duas têm status de refugiadas. Oficialmente técnico delas, Carlos Aveiro, o Saul, disse que também não pode falar sobre o assunto.

Nos EUA, para ser considerado refugiado, uma pessoa deve demonstrar que "sofreu perseguição no passado ou tem um medo fundado de perseguição por causa de sua raça, religião ou nacionalidade, ou pertença a um determinado grupo social ou de opinião política."

Quem são as refugiadas

Aline Facciolla, de 23 anos, surgiu como grande revelação do esporte brasileiro em 2015, quando se tornou campeã mundial sub-17 na categoria até 48kg. Ela chegou a disputar os Jogos Pan-Americanos, mas ao fim daquele ano testou positivo para boldenona, um esteroide anabolizante utilizado em cavalos. Na época, ela treinava no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan) da Marinha.

Suspensa por quatro anos pela IWF, ela chegou a recorrer da punição à Corte Arbitral do Esporte (CAS), na Suíça, mas teve a pena mantida, para ser cumprida até o final de 2019. Quando a suspensão chegou ao fim, ela já estava morando nos Estados Unidos, em Miami, treinando no CT de Fernando Reis.

A outra atleta brasileira no time de refugiados é Monique Lima Araújo, 30, esposa de Aline, que também tem registro ativo no sistema da Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP) como sendo atleta do Cefan. Ela chegou a ser campeã sul-americana adulta em 2015 e teve sua última participação na seleção brasileira em 2017, quando foi 11ª colocada no Mundial.

Nas redes sociais, as duas compartilham que trabalham como faxineiras em Miami, sendo proprietárias de uma empresa que atende casas na Flórida. Os treinos são sempre na academia de Fernando Reis, suspenso do esporte após testar positivo para o hormônio do crescimento. Ele abriu mão de se defender.

Refugiados

O time de refugiados foi proposto pelo Comitê Olímpico Internacional em 2015, fazendo sua estreia na Rio-2016. Em 2017, o COI criou uma fundação para apoiar atletas refugiados e manter o "time olímpico de refugiados" como uma delegação fixa nos Jogos Olímpicos. Em Tóquio-2020, a equipe teve 46 atletas.

Federações Internacionais então também passaram a criar suas próprias equipes de refugiados, dando suporte à participação em suas competições. O Mundial de Atletismo do ano passado, por exemplo, teve um time de refugiados com três atletas.

Por padrão, porém, as delegações espalham as estatísticas de refugiados da ACNUR, a agência da ONU para refugiados. Em Tóquio, compunham o time olímpico atletas de países em guerra como Síria, Afeganistão, Eritreia e Sudão do Sul, ou que perseguem opositores, como o Irã. Havia um único sul-americano, o venezuelano Eldric Sella, que vivia em asilo político na vizinha Trinidad & Tobago.

Aline e Monique são as primeiras atletas de um país democrático e sem guerra a serem aceitas para uma equipe de refugiados. Elas se inscreveram em um processo seletivo aberto pela IWF que exigia reconhecimento do status de refugiado por parte da ACNUR. A agência disse à coluna, porém, que não teve participação no processo.

De acordo com este órgão da ONU, 1.612 brasileiros foram reconhecidos como refugiados entre 2017 e 2022, entre mais de 15 mil pedidos. Especificamente nos Estados Unidos, foram 773 reconhecimentos, para 8 mil pedidos.