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Olhar Olímpico

OPINIÃO

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Seleção de vôlei repete futebol e deixa número 24 de fora das camisas

Colunista do UOL

16/05/2023 04h00

Pode ser que seja só coincidência? Pode. Mas nada indica que seja mero acaso o fato de nenhum jogador ter escolhido usar a camisa 24 na seleção brasileira masculina de vôlei na Liga das Nações, exatamente como acontece nos clubes de futebol que têm numeração fixa.

São 30 inscritos pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) no torneio e o padrão é que os números escolhidos sejam de 1 a 30, como é na equipe feminina. Só há um caso que foge da regra na masculina: Oppenkoski, um dos novatos, escolheu a 31. Assim, a única vaga é a 24.

A distribuição de camisas nas seleções de vôlei é feita por antiguidade. William Arjona, por exemplo, era o dono da camisa 7. Agora que ele se aposentou, quem vai jogar com ela será Abouba. Os novatos podem indicar dois números de preferência, para um deles ser escolhido.

É um processo de anos que culmina com a opção, coletiva, feita a partir da soma de desejos individuais, de ninguém usar a camisa de número 24. Já foi assim no ano passado, quando a lista de 25 inscritos pulava somente o 24, para Darlan usar a 28. No feminino, o time tinha de 1 a 25, normalmente.

No futebol, esse é um problema conhecido. Na Libertadores, em que cada clube tem opção de inscrever 50 jogadores, o 24 ficou de fora das listas de Atlético-MG, Fluminense e Athletico. No Flamengo, no Palmeiras e no Inter, a camisa foi para o quinto goleiro da relação — isso em tese, porque na prática a chance de o quinto goleiro vestir a camisa e ir para um jogo é quase nula. No Corinthians, o 24 é um gringo.

O motivo do preconceito no Brasil é conhecido: o 24, no jogo do bicho, é o número do veado. Uma piada idiota, homofóbica, que parece amedrontar atletas homens. Não só do futebol, um ambiente notadamente homofóbico (sugiro o texto de ontem da Milly Lacombe), mas também o vôlei, que tem a opção de não ser.

Diferente do futebol, onde são raríssimos os atletas declaradamente gays ou bissexuais, no vôlei eles são em bem maior número. Há gays na maioria dos clubes da Superliga, inclusive na seleção brasileira, onde Maique é o camisa 15. Antes, Douglas foi o 14. "Ah, mas por que eles não usavam a 24, então?". Porque eles repetem os números que usam nos clubes, onde os elencos são bem menores, e a numeração não chega no 24. Na seleção, chega.

A escolha, deliberada, para que ninguém vista a 24, é uma afronta à boa parte da comunidade que acompanha o esporte diariamente. O mais triste é que os jogadores sabem disso, e parecem não se importar.