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OPINIÃO

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Senadores que votaram contra combate ao racismo agora defendem Vini Jr

Acompanhado de Militão e Rudiger, Vini Jr mostra manifestações racistas nas arquibancadas do Estádio Mestalla - Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images
Acompanhado de Militão e Rudiger, Vini Jr mostra manifestações racistas nas arquibancadas do Estádio Mestalla Imagem: Jose Breton/Pics Action/NurPhoto via Getty Images

Colunista do UOL

24/05/2023 04h00

"Toda minha solidariedade ao jogador Vini Jr pelo inconcebível ato racista de que foi vítima hoje. E infelizmente não foi a primeira vez. Racismo é crime", escreveu o senador Carlos Portinho (PL-RJ), domingo, no Twitter. Duas semanas antes, ele havia apresentado destaque para retirar da Lei Geral do Esporte o combate ao racismo.

Racismo é crime, é verdade. Mas, no esporte só ser crime não adianta. Basta pensar na situação vivida por Vini Jr.

Quanto tempo levaria para punir na Justiça comum brasileira os torcedores que ofenderam o atacante? O crime aconteceu no domingo, mas, se dependesse somente da Justiça, em primeira e segunda instância, no mínimo, quando seria fechado o estádio? Daqui três anos? Quatro? Imagine tirar pontos do Valencia daqui a cinco temporadas.

O combate ao racismo, e aos racistas, é urgente. Portanto, demanda ações urgentes. É isso que prevê a Lei Geral do Esporte, que foi aprovada com dispositivos para combater "racismo, xenofobia, homofobia e sexismo", seja a partir de proibição de permanência do torcedor que entoe cânticos desse caráter, da punição a torcidas que o fizerem, e da previsão de que o Plano Nacional do Desporto tenha mecanismo para erradicar essas manifestações.

A Lei Geral do Esporte tem 88 páginas, 218 artigos, mas o que incomodou o bolsonarismo foi o risco de se punir um racista, ou um homofóbico. Tanto que, quando o projeto de lei foi votado em plenário, o único destaque apresentado pelo líder do PL, Carlos Portinho, foi para rejeitar as três citações de "racismo, xenofobia, homofobia e sexismo". O bolsonarismo queria trocar tudo por "discriminação".

A ideia era do senador Magno Malta (PF-ES). "Destaco que racismo já é crime na Constituição, seria chover no molhado. [A mesma coisa com] a xenofobia, a homofobia e o sexismo", ele argumentou. A proposta dele não visava tirar a palavra "corrupção", também um crime previsto na Constituição, do trecho: "adotar as medidas necessárias para erradicar ou reduzir as manifestações antiesportivas, como a violência, a corrupção, o racismo...".

A relatora Leila do Vôlei (PDT-DF) tentou avisar sobre o que significaria tirar o racismo do texto, e citou exatamente Vini Jr. "Para quem não viu, eu posso citar um caso recente, do Vini Júnior, Vinícius Júnior. Diariamente ele é simplesmente humilhado, muitas vezes, nas arenas, não só pelo fato de ser negro, preto, mas também por ser estrangeiro", ela lembrou.

Mesmo assim, Republicanos e PL orientaram votos favoráveis à mudança no texto da lei, enquanto o União Brasil deixou seus senadores livres. A proposta foi rejeitada por 43 a 23, mas não deixa de ser assustador que 23 senadores acharam boa ideia tirar o racismo da lista de coisas a se combater dentro de uma praça esportiva.

Entre eles, Sergio Moro (União-PR), que votou para retirar o racismo da Lei Geral do Esporte, mas se solidarizou com Vini. "Inaceitáveis o racismo e a omissão da federação espanhola. Minha solidariedade à (sic) Vini Jr", tuitou.