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Tetracampeã brasileira de crossfit vira candidata a medalha olímpica no LPO
Bastou participar de uma única competição oficial de levantamento de peso no Brasil para Eduarda Souza, a Duda, uma jovem de 18 anos, se mostrar candidata real a uma medalha olímpica em Paris. Já em sua estreia, na semana passada, a tetracampeã brasileira de crossfit nas categorias de base alcançou marca que a faria ser a melhor brasileira do Mundial de LPO do ano passado, terminando na sétima colocação. E ela nem fez seu melhor.
Se dependesse do esporte brasileiro, Duda, que mora em Portugal e representa um clube da Espanha, defenderia qualquer outro país. O pai e técnico dela, Leonardo Souza, contou ao Olhar Olímpico que mandou inúmeros e-mails e deu dezenas de telefonemas à Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP), quando ela ainda era pré-adolescente, perguntando o que sua filha precisaria fazer para treinar e competir. Nunca teve resposta.
Natural de Brasília, ela também não tinha uma federação para competir, já que a CBLP só tem cinco estados filiados e há anos não aceita novas inscrições. Segundo a confederação em seu site, só há cinco locais de prática do esporte no Brasil. Leonardo, que era preparador físico de atletas do UFC e dono de um box de crossfit, tentou abrir uma federação no Distrito Federal com outros dois 'coachs', mas eles encontraram tantos empecilhos que desistiram.
Pai de cinco filhos aos 37 anos, preferiu arrumar as malas com a esposa e levar toda a família para Portugal, enquanto se especializava para ser treinador também de LPO. Duda continuou treinando, mas com foco no crossfit. Foi bicampeã brasileira sub-15 em 2019 e 2020, e repetiu a dose no sub-17 em 2021 e 2022. Poderia ter ido quatro vezes ao CrossFit Games, nos EUA, mas teve o visto negado nas quatro oportunidades.
"Da última vez eu falei para meu pai e minha mãe, que também é treinador: não quero mais o crossift, quero só o LPO", conta Duda. "A gente então começou a estruturar um trabalho diferente para ela, porque LPO é diferente de crossfit", completa o pai.
O problema é que, se é difícil ser atleta de LPO no Brasil, em Portugal é impossível. O país não tinha até muito recentemente uma federação reconhecida pela IWF e, por isso, sequer tem campeonatos da modalidade. A solução foi se associar a um clube de La Coruña e participar de torneios na Espanha, o que ela faz desde 2018.
Só que, para poder disputar um Mundial, ela precisaria participar antes de uma competição nacional. Pela Espanha, a naturalização levaria mais três anos, então o caminho para chegar a Paris passava por Sete Lagoas (MG), onde aconteceu o Campeonato Brasileiro. Contatado pelo Instagram, o técnico Carlos Aveiro ajudou Duda a se filiar à federação do Paraná, há anos uma federação de aluguel, o que permitiu a ela se inscrever no nacional sem precisar antes disputar um estadual. Uma vaquinha ajudou a pagar os custos da viagem dela e do pai ao Brasil.
Na estreia, o show. Competindo na categoria até 59 kg, levantou 95 kg no arranco e 119 kg no arremesso, em um total de 214 kg, exatamente o índice para o Mundial. E visivelmente ela podia mais, como confirmou ao Olhar Olímpico. "Em treinos, meu personal best é 100 kg no arranco e 120 kg no arremesso, o que dá 220 kg".
Essa é a marca que tem a sétima colocada do ranking mundial adulto. Na último Campeonato Mundial Júnior, ela seria campeã com impressionantes 17 quilos de vantagem sobre a medalhista de prata. Mais dois quilos e ela iria ao pódio até na categoria até 87 kg, para atletas 38 quilos mais pesadas.
"Meu plano é chegar no 230 kg, 231 kg para o Mundial", diz o técnico, planejando colocar mais cinco quilos de carga em cada exercício. A medalhista de bronze do Mundial do ano passado levantou exatamente 231 kg. Com a importante diferença que, no torneio deste ano, em setembro, na Arábia Saudita, Duda ainda terá somente 18 anos e uma grande margem de evolução em uma prova onde todas as medalhistas do último Mundial tinham ao menos 28 anos.
O pai e treinador não tem dúvida de que, daqui a um ano, sua filha será a primeira medalhista olímpica do LPO brasileiro. "Eu tenho certeza que a Duda sobe no pódio nas Olimpíadas. Isso é certeza absoluta. Meu trabalho com ela é a gente ser o melhor da categoria até 59 kg no Brasil e estar brigando no top 3 do mundo."
Apesar de todas as dificuldades encontradas até se mostrar uma atleta de ponta de LPO no Brasil, Duda se diz feliz com a oportunidade de defender o país onde nasceu. "Sempre tive vontade de representar meu país. Apesar de todos os problemas. Agora só aumentou. Conheci as pessoas envolvidas, e gostei muito de todo mundo", contou ela, que volta a Portugal este mês para apresentar o trabalho de conclusão do ensino médio.
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