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A 0s02 de feito histórico, Gallina não tem pressa para quebrar tabu do 100m
Quem corre os 100m em 10s01 também pode correr em 9s99. Renan Gallina sabe disso, mas não tem pressa para correr a prova mais rápida do atletismo em menos de 10 segundos, barreira que incomoda o atletismo brasileiro. Aos 19 anos, ele pensa a carreira a longo prazo. Se alguém quebrar o tabu antes dele, ótimo para o país. Se não, logo logo ele chega lá.
"Gosto de manter os pés no chão, ainda que eu sempre queira melhorar, e trabalho para melhorar. Pode vir esse ano, mas não coloco muita expectativa. Não é porque eu fiz 10s01 que quer dizer que vá sair toda hora. Não coloco marcas ou metas a serem batidas, isso me deixa mais leve, e o resultado vem de forma mais natural", disse ele ao Olhar Olímpico.
Renan, que é apontado como a grande promessa das provas de velocidade do Brasil há pelo menos dois anos, furou a bolha quando correu os 100m em 10s01 no Sul-Americano Sub-20, no mês passado, em Bogotá (Colômbia). Não só bateu o recorde de categoria que pertencia a Paulo André como se tornou o sexto melhor corredor júnior da história. Nem Usain Bolt correu tão rápido aos 19 anos.
É um feito e tanto, mas que precisa ser visto de forma mais ampla. Renan tinha um cenário perfeito, que dificilmente vai se repetir. A começar pela altitude de Bogotá, que atrapalha provas de longa distância, mas ajuda nas curtas, passando pelo vento favorável de 1,9 m/s, no limite do permitido para se auferir marcas. Para ajudar, o colombiano Ronal Longa correu ombro a ombro com ele. "Aquela sensação de 'não vou deixar esse cara passar' me puxou, me forçou a correr mais", admite.
"Ele tem a chegada muito forte. Quando ele corre com gente forte, ele fica mais forte. É só ver quando ele fez o índice nos 200m. Tinha o Erik [Cardoso] e o Lucas [Rodrigues] na prova, ele foi buscar os meninos e fez o índice para o Mundial. Ele é atleta de chegada", diz Sandra Regina Crul, técnica dele, citando o Brasileiro Sub-23 que ele ganhou em setembro do ano passado com 20s12. A marca o deixou em 30º no ranking mundial.
Pandemia mudou carreira
Se pessoas fossem divididas entre provas do atletismo somente pelo biotipo, Renan iria para o grupo dos saltadores em altura, com seu corpo fino de 1,87m e pernas longas. E, de início, foi assim mesmo. Tanto que o único recorde brasileiro dele até o sub20 era no salto em altura, no sub16.
Na época, em 2019, Renan já se destacava nos 100m, mas tinha um programa incomum em Maringá (PR), misturando velocidade e altura. Quando veio a pandemia e os centros de treinamento foram fechados, ele não tinha como treinar a prova de salto, só a de pista. E acabou incorporando também os 200m ao seu programa.
"Eu corri meu primeiro 200m em março, dias antes da pandemia. Quando voltei, os 200m era mais fácil de manter e treinar. Altura e 100m têm técnicas muito distintas, treinamentos muito diferentes. E me adaptei bem aos 200m. No ano passado, comecei com 21s44 e terminei com 20s12", conta. Em seis meses, ele saiu do tempo que seria 12º colocado do Troféu Brasil para um que seria 10º lugar do Mundial. Em todos os tempos, entre os brasileiros, só o medalhista mundial Claudinei Quirino (19s89) e o medalhista olímpico e mundial Robson Caetano (19s96) foram mais rápidos.
Falta só um passo para Renan correr os 200m abaixo dos 20 segundos e se juntar a eles, e, depois da corrida impressionante nos 100m em Bogotá, esperava-se que o feito viesse ainda no Sul-Americano Sub-20. A expectativa era tanta que Renan caiu na pilha errada.
"Eu não deveria nem ter pensado em correr. Acordei gripado, muito frio, mas todo mundo ficava me botando pilha para correr, e eu fui", lembra Renan, que deixou a prova com uma lesão muscular. Por sorte, de grau 1, o que não vai atrapalhar toda a temporada, ainda que ele só deva voltar a competir em agosto, no Pan Sub-20.
"Eu foco muito na minha categoria. Já tenho o recorde sul-americano sub20 e quero melhorar. Quero competir muito bem o Pan Sub20 e depois pensar no Mundial adulto", ele explica. Em Budapeste, no fim de agosto, a meta é ousada: ser finalista. "Se Deus quiser, medalhista também, mas não vou acelerar o processo". Em 2022, o bronze saiu em 19s80.
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