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CBBoxe fica na berlinda após COI enxotar federação internacional
A decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) de expulsar a Federação Internacional de Boxe Amador (IBA, antiga AIBA) pode ter reflexo na gestão da modalidade no Brasil. Por aqui, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) estuda se será obrigado a fazer o mesmo com a Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe). A vontade do COB, porém, é mantê-la como filiada.
Para entender a confusão, é necessário entender duas siglas: uma federação internacional reconhecida pelo COI é uma IF, e a confederação nacional abaixo dela, uma NF.
O COB prevê, em seu estatuto, que sejam filiadas a ele somente as federações "filiadas às respectivas IFs, reconhecidas pelo COI, que representem as modalidades integrantes do programa dos Jogos Olímpicos". Isso significa que o COB segue o que determinam o COI, ao escolher que entidade é a IF de uma modalidade, e esta indicar que entidade é a NF brasileira.
Ontem (22), a assembleia geral do COI expulsou a IBA, fazendo com que ela deixe de ser a IF do boxe. Até que outra entidade seja escolhida para fazer esse papel, quem administrará o boxe olímpico será uma força tarefa do próprio COI. E, se a IBA não é mais uma IF, a CBBoxe deixa de ser filiada a uma IF. Logo, perde, em tese, a condição mínima para ser filiada ao COB.
E isso representa dinheiro. Para 2023, o COB tem a previsão de repassar R$ 8,2 milhões à CBBoxe em recursos das Loterias. O valor é expressivo para o movimento olímpico brasileiro, e impulsionado pelos ótimos resultados recentes da modalidade. É mais do que tem direito a CBJ, do judô, por exemplo, e até mais do que vão receber o skate e o surfe.
A situação, porém, é inédita, e tanto o COB quanto a CBBoxe ainda estudam o que deve ser feito. O estatuto do comitê até prevê que a filiação ou desfiliação depende da assembleia geral, mas quando "uma modalidade passar a integrar ou deixar de integrar o programa olímpico", o que não é o caso. O boxe não deixa de ser esporte olímpico. Quem sai do movimento olímpico é só a IBA.
Em carta aos comitês olímpicos, o COI pediu que eles não deixem de apoiar nem o boxe, nem as federações nacionais, e o COB não tem essa pretensão. Mas como que norteia o comitê é seu estatuto, a expulsão da CBBoxe pode ser necessária neste momento.
O presidente do COB, Paulo Wanderley, está em Cingapura para o evento de jogos eletrônicos promovido pelo COI, e só volta ao país na semana que vem, quando deve se encontrar com Marcos Brito, presidente da CBBoxe. A pauta será, naturalmente, essa complexa situação. "Vamos buscar um caminho que a gente possa manter as preparações dos atletas sem interrupções", afirma Brito.
Logo depois da decisão tomada pelo COI, ele soltou uma carta em que justificou a presença do presidente da IBA, Umar Kremlev, no Brasil, na semana passada. "Temos buscado um bom convívio com a comunidade do boxe e temos tratado nossos irmãos internacionais com toda cortesia e respeito que eles sempre nos trataram", escreveu, explicando que recebeu o russo "com respeito e acolhimento que a IBA sempre nos concedeu."
A visita gerou repercussão internacional. Em Brasília, falando aos presidentes de federações do continente, Kremlev subiu o tom, afirmou que pessoas ligadas ao movimento olímpico roubaram o boxe e deveriam ser fuziladas. A declaração mereceu até uma rara resposta pública do COI, que tratou a fala como "inaceitável", "altamente difamatória" e com uma linguagem que "não tem lugar no esporte ou em qualquer debate civilizado normal." No mesmo dia, ele foi recebido pelo Ministério do Esporte brasileiro.
Kremlev até está recorrendo à Corte Arbitral do Esporte (CAS), mas ele já é dado como carta fora do baralho. Em algum momento no futuro, provavelmente depois de Paris-2024, o COI vai indicar uma nova IF para o boxe, e ela deverá ser a World Boxing, uma federação internacional criada pelos EUA este ano, já com o objetivo de substituir a IBA.
Aí, caberá a ela indicar que entidade será a NF do boxe no Brasil. A CBBoxe já é candidata e deixou claro que vai para onde o vento soprar. "Caso haja uma nova entidade que vá ser a responsável por liderar a jornada olímpica do boxe, nós vamos aderir. É isso que importa para nosso caminhar: obter o rumo necessário para o boxe seguir olímpico e para que nós continuemos obtendo bons resultados e orgulhando nosso povo", afirmou Brito na carta.
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