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Olhar Olímpico

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Trabalho em home office transforma contador em homem mais rápido da Europa

Eugene Amo-Dadzie, velocista britânico - Sam Mellish/Getty Images
Eugene Amo-Dadzie, velocista britânico Imagem: Sam Mellish/Getty Images

Colunista do UOL

23/06/2023 04h00

Eugene Amo-Dadzie se descreve como "o contador mais rápido do mundo", mas o talento deste britânico de 30 anos não é fazer contas de forma veloz. É correr rápido. Este ano, mais rápido do que qualquer outro europeu.

Apesar de só ter começado a treinar atletismo aos 26 anos e de trabalhar em período integral como contador, Amo-Dadzie é uma das grandes revelações do esporte em 2023. Ele já correu os 100m rasos em 9s93 nesta temporada, sua primeira competindo internacionalmente, e já ameaça o recorde britânico.

"Nosso trabalho na vida é tentar provar que as pessoas que duvidam de você estão erradas. Qualquer um que já tenha feito algo grandioso acreditou que poderia fazê-lo. Não estou aqui dizendo que vou quebrar o recorde de Linford [Christie], mas se isso acontecer, será porque acreditei que poderia acontecer e trabalhei duro para isso", disse ele à revista Athletics Weekly, conhecida como WA.

Amo-Dadzie formou-se em finanças pela Universidade de Nottingham, em 2013. Trabalhou em grandes empresas, como a Warner Music, e atualmente é gerente sênior de contas do Berkeley Group, uma construtora listada na Bolsa de Valores de Londres.

Ele nunca havia treinado atletismo até o meio de 2018, quando foi jogar uma partida de várzea em um pequeno estádio no leste de Londres, onde também treinam duas equipes de atletismo. Assistindo ao treino dos velocistas, seu amigo comentou: "Se você colocar duas sapatilhas, você vence esses caras. Por que você não tentou isso ainda?"

O contador até já tinha disputado provas na escola, mas sem treinar, e sabia que era rápido. Decidiu voltar ao mesmo clube, e dizer que queria treinar. Estreou nos 100m em julho do ano seguinte e, em agosto, já era semifinalista do Campeonato Britânico.

A empresa, segundo ele, entendeu suas necessidades, a ponto de colocar em contrato que ele poderia se dedicar aos treinamentos paralelamente ao serviço. "Meu gerente e diretor financeiro têm sido fenomenais. Tirei férias em cima da hora para ir ao Europeu Indoor e eles ficaram felizes com isso. Me deixaram levar meu computador de trabalho para Houston para um camping de treinamento e trabalhar remotamente", contou à WA.

A entrevista à revista, aliás, aconteceu enquanto ele trabalhava, com um computador no colo, diretamente da pista do Lee Valley Sports Centre, em Londres, onde treina. "A maleta fica guardada ao lado da mesa de acupuntura", detalha a WA.

 Eugene Amo-Dadzie em prova do Europeu Indoor - Michael Steele/Getty Images - Michael Steele/Getty Images
Imagem: Michael Steele/Getty Images

"[Meus superiores] entendem o nível em que estou agora. Grande parte da minha satisfação no trabalho agora vem de poder perseguir meus sonhos no atletismo. Eles não querem tirar isso de mim", afirma Amo-Dadzie, que posta seus feitos no atletismo em seu perfil no LinkedIn e recebeu elogios dos chefes. "O diretor financeiro entrou em contato. Eles estão entusiasmados e dizem que sou um embaixador da empresa."

Em entrevista à BBC ele contou que só se deu conta de quão longe chegou no atletismo quando acordou às 6h45 com os oficiais antidoping batendo à porta dele. No entender o velocista, a preocupação é uma "validação de sua conquista".

Ele é o 11º homem britânico a correr abaixo de 10 segundos, algo que nenhum brasileiro nunca conseguiu. Amo-Dadzie é o 13º colocado do ranking mundial da temporada, já com índice para o Campeonato Mundial de Budapeste.