Topo

Olhar Olímpico

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que rompimento de Ana Marcela com treinador caiu como bomba

Fernando Possenti e Ana Marcela Cunha - Satiro Sodré/SSPress
Fernando Possenti e Ana Marcela Cunha Imagem: Satiro Sodré/SSPress

Colunista do UOL

27/06/2023 04h00

Causou estranheza em todo mundo que conhece Ana Marcela Cunha o anúncio, já entrando na madrugada de domingo no Brasil, manhãzinha na Turquia, de que ela e o técnico Fernando Possenti agora seguem caminhos separados. Faltando 20 dias para o Mundial, competição-alvo da temporada, a postura é oposta ao perfil da campeã olímpica da maratona aquática.

Há anos Ana Marcela não dá entrevistas nos meses que se antecedem a uma competição importante. Na véspera dos eventos que a definem como melhor do mundo, nada mais importa, a não ser conseguir um bom resultado na prova. Concentração máxima não combina com ruptura, ainda mais a menos de três semanas de uma seletiva olímpica que só vai classificar ouro, prata e bronze.

De sábado para domingo, Ana Marcela e Possenti, seu técnico há 10 anos, tiveram uma conversa séria e definitiva, daquelas que antecedem a fins de casamento. Mas os motivos que levaram até ela e o que foi discutido ali são guardados a sete chaves, ainda que o COB, possivelmente na figura do diretor Ney Wilson, tenha tomado ciência. Possenti, afinal, é pago pelo COB para treiná-la.

Ainda no domingo, Ana informou à família que ela e a esposa Juliana, que era preparadora física do COB e havia sido incorporada ao "time" de Possenti, viajariam à Itália para se unir ao que mais se assemelha a uma "seleção brasileira" de maratona aquática, a um grupo que treina sob orientação de Kiko Klaser, treinador das irmãs gaúchas Viviane e Cibelle Jungblut.

O atento comentarista de natação 'Coach' Alex Pussieldi notou que, já na postagem anunciando a ruptura, Ana Marcela informou seu calendário no Mundial de Fukuoka e incluiu o revezamento misto, prova que ela não disputaria sob o comando de Possenti. No texto, ela também falou em "saúde mental", indicando que a questão entre ela e o seu agora ex-técnico não era meramente técnica.

Possenti é tido como um treinador duro, exigente, e que teve sucesso com Ana Marcela porque ela é uma atleta que cresce na pressão. Por causa da maratonista, ele ganhou autorização para ter como casa o CT do Time Brasil, no Rio, melhor piscina do país, onde incorporou outras atletas, que ele levou a ótimos resultados, incluindo Gabi Roncatto e Mafê Costa, as duas melhores da seletiva da natação para este Mundial.

Todos estavam na Turquia, para um camping de treinamento, quando Ana Marcela e Possenti romperam. A coluna apurou que nenhuma das outras atletas pretendem se afastar do treinador, mas é fato que ele perde a razão de ser um funcionário do COB.

O comitê tem um programa que dá muitos benefícios aos atletas do topo da pirâmide, incluindo a contratação de seus técnicos pelo COB. Se Ana decidir que outra pessoa será seu treinador a partir do Mundial ou, mais provavelmente, depois disso, o caminho natural é o COB pagar essa nova pessoa. Foi o que aconteceu com Thiago Braz e sua recente troca de técnico, por exemplo. Ótimos treinadores (como é o caso de Possenti) de atletas que não são do topo da pirâmide são remunerados por clubes e confederações, não pelo COB.

Mesmo ainda sem estar no auge da forma, seis meses depois de uma cirurgia no ombro, Ana Marcela tem plenas condições de ir ao pódio em Fukuoka, até ganhar seu primeiro título mundial na distância olímpica, e se classificar para as Olimpíadas de Paris. E, depois disso, tomara ela venha a público explicar uma decisão tão improvável.