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Olhar Olímpico

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Calor de Cuiabá vira trunfo para velocistas no Troféu Brasil de Atletismo

Paulo André compete no desafio CPB/CBAt, em São Paulo - Wagner Carmo/CBAt
Paulo André compete no desafio CPB/CBAt, em São Paulo Imagem: Wagner Carmo/CBAt

Colunista do UOL

05/07/2023 04h00

A previsão do tempo indica que os termômetros vão estar marcando 34°C quando os melhores velocistas do país largarem para a final masculina dos 100m no Troféu Brasil de Atletismo, amanhã (6), em Cuiabá (MT), em um fim de tarde de inverno, com transmissão do UOL. Será a primeira vez que a competição será realizada na cidade conhecida pelo calor, e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) entende que isso poderá beneficiar os corredores de provas rápidas e de potência.

"Nós fizemos uma espécie de piloto aqui no ano passado, o Brasileiro Sub-23, e tivemos excelentes resultados. Havia expectativa de como seria o comportamento em uma condição bem adversa, de muito calor, era fim de ano, e tivemos excelentes desempenhos especialmente nas provas de velocidade e potência. Isso fez com que colocássemos Cuiabá na rota de outros eventos", explica o diretor-geral da CBAt, Cláudio Castilho.

Ele diz que, quando a CBAt recebeu o convite para realizar o Troféu Brasil em Cuiabá, com facilidades oferecidas pelo governo do Estado, colocou na balança não só os 'prós', mas também os 'contras'. Se para os velocistas o calor pode ser bom, para os fundistas é muito ruim.

"Tem uma grande expectativa porque nossos atletas de velocidade atravessam bom momento. No meio-fundo vai ter influência bem menor do calor. Já no fundo a gente sabe do prejuízo. Para amenizar isso, marcamos a marcha bem no começo da manhã [às 6h] e as provas de 5.000m e 10.000m para muito tarde [depois das 19h]. Mas hoje não temos atletas para quem isso poderia trazer grande prejuízo técnico nos 5 mil e 10 mil", avalia.

Se na marcha três atletas fizeram índice para o Mundial de Budapeste (Caio Bonfim, Erica Sena e Viviane Lyra), nas provas de estádio a realidade é que um número pequeno de brasileiros pode alcançar a forte marca mínima exigida pela World Athletics. Em todo o primeiro semestre, ninguém fez índice. Os únicos classificados, por enquanto, são Renan Gallina, pela ótima prova de 200m no Brasileiro Sub-23 de Cuiabá no ano passado, e Alison 'Piu', campeão mundial dos 400m com barreiras no ano passado.

Para a realidade do atletismo brasileiro, o caminho mais viável para o Mundial é pelo ranking de pontos da World Athletics, que pondera a marca alcançada, a posição na prova, e o nível da competição. E, no caminho até Budapeste, o melhor atalho é vencer o Troféu Brasil com uma boa marca.

Até porque a competição classifica para o Campeonato Sul-Americano, no fim do mês, em São Paulo, outro torneio que distribui um caminhão de pontos que serão decisivos para determinar o tamanho da delegação do Brasil no Mundial. "São duas competições em três semanas que vão definir a vida de muita gente. Os que pretendem chegar por pontos vão ter de correr boas marcas, performar bem, para chegar nos pontos necessários", explica Castilho.

Expectativas

Castilho reconhece que a luz amarela está acesa na CBAt depois de um primeiro semestre em que a elite brasileira da modalidade quase não competiu nas provas de estádio e em que o 'segundo escalão' falhou na tentativa de se aproximar do primeiro. O Troféu Brasil é a chance de começar a reverter esse cenário.

Piu está se recuperando de lesão e só vai estrear na temporada na Diamond League de Mônaco, no fim do mês. Thiago Braz também não vem ao Brasil, porque trocou de treinador, mudou-se para a Grécia e só abriu a temporada do salto com cara no fim de semana passado.

Outro que ainda não competiu, Darlan Romani, do arremesso de peso, vai enfim estrear. "Tive uma reunião com o Justo [Navarro, técnico de Darlan] esta semana e ele garante que o Darlan vai fazer ao menos o 21,60m que precisa para o índice. Ele é um dos que mais gera expectativa, porque eu acho que está tarde para começar a competir. O Darlan está até ansioso. Mas é o Justo, e ele sabe como conduzir", avalia Castilho.

Também estão inscritos Letícia Oro Melo, bronze no Mundial de 2022 no salto em distância, e que ainda não competiu bem na temporada (até abriu mão de estrear em uma Diamond League por causa disso), e Almir Junior, do triplo, que se lesionou logo na primeira competição do ano e que volta agora às pistas. Outro brasileiro com espaço nos principais meetings internacionais, Rafael Pereira ficou na Europa e não vai correr os 110m com barreiras, prova que no Troféu Brasil do ano passado foi a mais forte da competição.

A confederação não sabe o que esperar de Paulo André, que está inscrito só para correr os 100m, nesta quinta, com eliminatória, semifinal e final. Ele ficou um ano e meio sem correr, voltou em abril, fez 10s18, e se machucou na sequência. Segundo o estafe dele, o ex-BBB vem rápido para o Troféu Brasil.

O torneio pode selar uma vaga para ele no revezamento 4x100m que já está classificado para o Mundial. Serão convocados os atletas com índice nos 100m e 200m (só Renan Gallina por enquanto), o campeão do Troféu Brasil ou o vice (se o campeão tiver índice), e os demais cinco primeiros colocados do ranking nacional. Paulo André hoje é o quinto, com 10s18. A sexta vaga será do melhor do ranking dos 200m, entre os demais velocistas.

No feminino o Brasil por enquanto está em 19º do ranking mundial por tempos e precisa fazer boa marca no Sul-Americano para entrar no top 16 e se classificar a Budapeste. Na única tomada de tempo este ano, no GP Brasil, Vitória Rosa, melhor velocista do país, optou por não fazer parte da equipe. A CBAt vai conversar com ela em Cuiabá para saber se poderá contar com ela no Sul-Americano. Se a resposta for negativa, a chance de uma vaga no Mundial cai enormemente.