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Ana Moser precisa de outro milagre para seguir ministra

Ana Moser, ministra do Esporte - Lula Marques/ Agência Brasil
Ana Moser, ministra do Esporte Imagem: Lula Marques/ Agência Brasil

11/07/2023 13h00

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Às vésperas de assumir o Ministério do Esporte, no penúltimo dia do ano passado, Ana Moser concedeu entrevista a este colunista e analisou a sua escolha para o cargo como "um milagre". "O presidente Lula quer realmente algo especial para o esporte, ou senão eu não estaria aqui, seria outra pessoa", me disse a ex-jogadora.

Um semestre depois, aquelas palavras fazem mais sentido. Com a pressão do Centrão por cargos no governo - diversos colegas noticiam que o Republicanos indicou Sílvio Costa Filho ao Esporte - , a impressão é que Ana Moser precisa de outro milagre para ela virar o ano como ministra. Só se Lula quiser muito, mas muito mesmo, algo especial para o esporte - o que, em seis meses, ela não teve tempo de entregar.

Ana Moser parece ter se fiado demais na segurança de ter sido a 'escolha de Lula'. Não se movimentou para emplacar nomes próximos a ela no Esporte e foi atropelada pelo mundo político. Hoje comanda um ministério Frankestein, que não tem a cara dela.

Há grande influência de Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP), que indicou postos-chave, o petista José Luis Ferrarezi comanda a secretaria de Futebol, a que mais interessa pessoalmente a Lula, e o Centrão já comanda a pasta que cuida de projetos sociais e obras, a SNEALIS. É por ela que passa o grosso do dinheiro do ministério.

A SNEALIS é administrada por Thiago Milhim, do Podemos, partido de Deltan Dallagnol. O próprio Milhim foi antes secretário da gestão Bruno Covas (PSDB) e Ricardo Nunes (MDB) na prefeitura de São Paulo, e do governo tucano no estado paulista. Em Brasília, atende muito mais deputados do Centrão do que da base que elegeu Lula.

Encaixotada dentro do próprio ministério, Ana Moser ainda não brilhou como ministra. Na chance que teve, trocou os pés pelas mãos. Perante deputados e senadores, defendeu a aprovação da Lei Geral do Esporte. Ao governo, sugeriu em torno de 50 vetos. Se o texto era ruim, por que o defendeu? Se era bom, por que o destruiu?

O que mais incomodou congressistas e pessoas diretamente ligadas à pauta foi a forma como os vetos aconteceram. Um projeto de lei construído na base do diálogo, ao longo de anos, se tornou uma lei promulgada sem diálogo entre governo (leia-se Ministério do Esporte) e a comunidade que havia participado desse diálogo. Um grupo estava reunido em Brasília discutindo o futuro Plano Nacional do Desporto (PND), a convite do Ministério, quando soube que a lei havia sido sancionada e, o PND, vetado, por recomendação do Ministério.

Antes de ser ministra, Ana Moser foi figura preponderante para que a Lei Geral avançasse no Congresso. A promulgação da LGE deveria ter sido o ápice desse trabalho dela - a militante que se tornou ministra para sancionar a lei pela qual tanto trabalhou. Mas o projeto virou lei sem festa, nem por parte do governo, nem por parte do setor.

O Centrão, claro, farejou o cheiro de cadeira vazia. Outros ministros também são escolhas pessoais de Lula, sem vínculo partidário, mas nenhum se indispôs com o Congresso, nem perdeu apelo junto ao próprio setor. E o Esporte tem um atrativo a mais: um percentual de 1% do GGR das apostas esportivas, que deve entrar em vigor tão logo o governo solte a medida provisória para regulamentá-las, o que deve acontecer muito em breve.

Mas é bom o Centrão não se animar muito. Uma projeção otimista aponta que o GGR (a diferença entre o que as casas recolhem em aposta e o que pagam em prêmio) do setor em 2024 será de R$ 7,2 bilhões. Um porcento disso é R$ 72 milhões. Uma grana que não cobre nem metade do custo de reajustar o Bolsa Atleta, algo que não acontece há mais de uma década.

Ana Moser tem potencial (conhecimento, experiência, vontade, paixão) para ser a melhor ministra do Esporte que este país já teve. Para revolucionar o esporte no país. Mas precisa fazer sua parte para que o milagre aconteça. Até porque, a promessa de Lula de que o esporte não seria moeda de troca (bem lembrada pelo Juca Kfouri) é só uma promessa de campanha. No governo a banda toca outra música.

Kamilla Soares, MVP da Copa América de Basquete - Divulgação/Fiba - Divulgação/Fiba
Imagem: Divulgação/Fiba

A ótima notícia que vem do basquete

Desde que o Brasil chegou à semifinal do Mundial de 2006, em São Paulo, a seleção feminina de basquete não empolgava tanto. No domingo, conquistou o título da Copa América, no México, contra os Estados Unidos.

Em que se pese o fato de as americanas terem jogado com uma equipe jovem e sem estrelas da NCAA, fato é que o Brasil teve méritos de vencer duas vezes os EUA - algo que o Canadá desfalcado não conseguiu na semifinal - e de superar rivais diretos pelo posto de segunda ou terceiro força do continente, como Argentina e Porto Rico.

É inegável como a seleção evoluiu nas mãos de José Neto, desde o ouro no Pan de 2019. Nesses quatro anos, a equipe ficou mais forte, com os reforços da ótima Kamilla Soares, de 22 anos, pivô que foi eleita a MVP da Copa América, e da quase desconhecida Manu, ala formada no basquete norte-americano que só no ano passado jogou pela primeira vez no Brasil.

E ainda vai ficar mais forte quando tiver Stephanie Soares, pivô da NCCA que está machucada, Clarissa, afastada do basquete, e Thayná, inexplicavelmente preterida.

Liderado pela ótima Tainá, o Brasil estaria na Olimpíada se a Fiba levasse a sério o basquete feminino. Em qualquer modalidade o campeão do pré-olímpico continental tem vaga na Olimpíada. Mas a Fiba inventou um torneio extra, o "Pré-Olímpico Mundial' que tem como único objetivo tirar os países periféricos das Olimpíadas. São 16 participantes (dos quais dois, EUA e França, já classificados para a Olimpíada) e 10 vagas.

Dos 16, só quatro não vão à Olimpíada. O formato é tão bizarro que, no ano passado, quando o mesmo sistema foi adotado no 'Pré-Mundial', só o Brasil foi eliminado. Porto Rico e Mali até ficaram em último dos seus grupos, mas como Rússia e Nigéria não jogaram o Mundial por questões políticas, a vaga caiu no colo das lanternas. No outro grupo, Belarus não foi jogar o Pré-Mundial e todo mundo se classificou antes de entrar em quadra.

O Brasil também caiu, junto com Moçambique, Grã-Bretanha e Suécia, nessa fase do processo de classificação para Tóquio. Ou seja, são duas eliminações em duas tentativas. Pensando em Paris, a equipe precisa de sorte (no sorteio) e juízo. O ideal seria tentar sediar um grupo, até porque, como bem lembrou o Bert, do Painel do Basquete Feminino e referência na modalidade, faz seis anos que a seleção não joga uma partida em casa.

Para a vaga a Paris vir, a CBB vai ter que se planejar melhor do que fez nos anos anteriores, com ajuda do COB. Usar a próxima 'data Fiba' para amistosos e reunir o elenco o quanto antes no início de 2024. O Pré-Olímpico é em fevereiro de 2024, seis meses depois do fim da LBF. Ao menos as meninas que não fazem dobradinha com o basquete europeu precisam estar entrosadas e em plena forma.