Militar russo se naturaliza brasileiro em busca de Olimpíadas
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Amanhã (26) é dia de celebrar o marco de um ano, vulgo 366 dias — 2024 é ano bissexto —, para o início dos Jogos Olímpicos de Paris. E, para fugir do óbvio, ao invés de listar as muitas dezenas de chances de medalha do Brasil, quero falar de nacionalidades.
Há duas semanas, Sosruko Kodzokov estreou pelo Brasil. O nome denuncia que ele é descendente de russos, mas não só. É russo por completo. Nasceu na Rússia, foi campeão mundial militar pela Rússia, aparentemente segue morando na Rússia. Mas, para o wrestling, é brasileiro.
Tricampeão europeu da categoria até 87kg na luta greco-romana, ele estreou pelo Brasil chegando às oitavas de final de um torneio importante na Hungria. Competiu como brasileiro porque recebeu autorização da UWW, a federação internacional de wrestling, para tanto.
Mesmo sem nunca ter morado de forma contínua no país, exceto por uma breve passagem entre o fim do ano passado, quando pediu para treinar com a seleção no Rio, e o começo deste, quando se uniu à equipe de Praia Grande (SP). Sem falar português, se comunicava pelo Google Tradutor.
Ele pode participar de eventos internacionais, mas não das seletivas para os Jogos Olímpicos de Paris, ao menos não ainda, porque não tem passaporte brasileiro — ao menos, não ainda. Se conseguir (e aí depende do Ministério da Justiça), poderá se inscrever na seletiva nacional, ser convocado para a seleção, e brigar pela vaga olímpica. Provavelmente, porém, só terá essa oportunidade visando Los Angeles-2028.
Outros dois wrestlers brasileiros já passaram por isso. Marat Garipov, nascido no Cazaquistão, entrou com o pedido de naturalização em 2011, quando chegou por aqui. O passaporte só saiu, porém, no fim de 2016. Desde então, tem competido regularmente pelo Brasil, inclusive em Campeonatos Mundiais.
Eduard Soghomonyan foi mais bem sucedido, tanto na busca pelo passaporte quanto esportivamente. Nacido na Armênia, chegou a morar em São Paulo, com amigos da comunidade armena, e foi o primeiro atleta naturalizado pelo Brasil para a Rio-2016, no comecinho de 2015, quase três anos após entrar com o pedido de passaporte. Com duas Olimpíadas pelo Brasil, hoje mora em Los Angeles e busca vaga em Paris-2024.
Mais fácil é o processo de naturalização esportiva para quem já tem passaporte brasileiro. É o caso de Nick Albiero. Filho do treinador Arthur Albiero, brasileiro constantemente chamado para a seleção dos EUA, ele pediu a mudança de nacionalidade esportiva em 16 de junho, quando firmou residência em Belo Horizonte. Ele estará apto para representar o Brasil em Paris-2024.
Mesmo tendo crescido e se tornado atleta nos EUA, Nick, que acumula convocações para a seleção norte-americana, é brasileiro de sangue e nascimento. Por isso, terá vida facilitada pela World Aquatics, que só exigiu um ano morando no Brasil. Contratado pelo Minas depois de um teste no Troféu Brasil (contei na newsletter de 22 de maio), será autorizado a nadar a seletiva olímpica e, se conseguir a vaga, vai a Paris.
Não que ele possa transformar o Brasil em candidato a uma medalha olímpica, mas tem boas chances de estar na delegação. Seus melhores resultados o fazem ser o terceiro do ranking brasileiro de todos os tempos dos 200m costas (1min58s39), sexto nos 100m borboleta (51s96) e quarto nos 200m borboleta (1min55s85).
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No caminho contrário, Eduarda Souza, a Duda, brasileira que mora em Portugal, chegou a cogitar se naturalizar pelo país europeu, mas decidiu tentar vaga olímpica em Paris pelo Brasil no levantamento de peso. Contei essa história no começo de junho.
Acontece que, apesar dos ótimos resultados dela, que recentemente foi convocada para seu primeiro Mundial e tem potencial para brigar por medalha, Duda não poderá ir à Olimpíada de Paris. E a responsabilidade é toda dos dirigentes da menor modalidade do esporte brasileiro, que só tem federações em cinco estados e 10 locais de prática no Brasil todo.
Mesmo competindo bem na Europa, em nível bem acima da média brasileira, Duda não havia sido chamada para ser avaliada pela comissão técnica da seleção até ela se apresentar bem no Brasileiro, em maio. Por isso, a CBLP não a inscreveu para participar de um Grand Prix em Havana (Cuba), em junho.
É critério para um atleta ser convocado à Olimpíada que ele participe do Mundial deste ano (o que ela fará), de um torneio na Tailândia no que vem (poderá fazer) e de três outros eventos. Só que Duda só consegue participar de mais dois: o Campeonato Pan-Americano de 2024 e a um Grand Prix em Doha (Qatar). Como os demais são continentais (Africano, Asiático, etc), ela não tem como cumprir o critério de elegibilidade.
Mesmo sabendo da importância do Grand Prix de Havana dentro desse cenário, a CBLP marcou o Campeonato Brasileiro de 2023, única chance de surgir uma revelação, para duas semanas depois do fechamento do período de inscrições para o torneio em Cuba. Não adiantou nada descobrir Duda.
No começo de mês, em um torneio interclubes em La Coruña (Espanha), a garota de apenas 18 anos levantou um total de 217kg pela categoria até 59kg. Ela que já tinha um recorde pessoal de 100kg no arranco, alcançou 120kg no arremesso, um potencial de 220kg. Em Tóquio, isso daria medalha de prata.
Em qualquer lugar do mundo os dirigentes estariam com os olhos brilhando, fazendo de tudo para que Duda se encaixasse em uma das exceções previstas no regulamento e pudesse ir a Paris disputar uma medalha. No Brasil, ela já é dada como carta fora do baralho para a próxima Olimpíada.
Aliás, como ir ao Mundial é critério para ir a Paris, o Brasil não vai levar à Olimpíada mais do que três atletas no LPO. Amanda Schott e Laura Amaro e, mais dificilmente, Taiane Justino, jovem da categoria mais pesada que não fez índice, mas foi chamada ao Mundial mesmo assim. O número de brasileiras em Paris, porém, deverá ser maior, já que duas estão na seleção de refugiados que treina na Europa.
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