Olhar Olímpico

Olhar Olímpico

Siga nas redes
OpiniãoEsporte

A um ano para Olimpíada, natação joga ducha de água fria nas expectativas

Encerrado o quarto dia de finais da natação no Mundial de Fukuoka (Japão) já dá para dizer que o desempenho do Brasil preocupa muito para Paris. Com duas exceções — Guilherme Costa e Beatriz Dizotti — todo mundo nadou pior na mais importante competição do ano, nas melhores condições possíveis, do que na seletiva, que já não tinha tido resutlados expressivos.

Realizado em Recife no fim de maio, o Troféu Brasil foi marcado por queixas públicas dos atletas, que atrás da comissão que os representa perante à confederação, reclamaram da água quente, de falhas no telão e até da piscina de soltura. Eles têm toda razão de reclamar do que acham que os prejudica.

Mas precisam explicar por que, apesar de todo o investimento feito na natação, com recursos públicos do COB, do CBC e captados pelos clubes, e também de patrocinadores, estão rendendo tão mal.

É verdade que tanto Cachorrão quanto Bia fizeram finais em provas olímpicas. Ele foi quarto nos 400m livre e sétimo nos 800m, e ela sétima nos 1.500m. Só na primeira, porém, o país disputa medalha diretamente. Nas demais há uma boa desvantagem do pódio para se tirar até Paris. É difícil, mas os dois têm melhorado suas marcas.

Mas os dois são exceção. Até poderiam ser acompanhados de Guilherme Caribé, que fez parcial na casa de 46s no revezamento 4x100m livre, a segunda melhor de toda a prova, mas não foi bem nos 100m livre. Parou na semifinal, nesta quarta (26), com 48s18, acima dos 48s11 que fez na água quente da seletiva e dos 47s82 do Julio De Lamare do ano passado.

"Ah, mas ele é jovem". É verdade, tem 20 anos, e ficou em 12º no Mundial. À frente dele terminaram cinco mais jovens que ele, e dois de 21, incluindo Matthew Richards, britânico que liderou as eliminatórias e as semifinais e venceu os 200m livre. Caribé pode evoluir até Paris, e esses outros garotos também. A realidade é essa: o jovem mais promissor da natação brasileira está a nove posições do pódio.

Outros estão muito mais longe. Acostumado a fazer finais nas provas rápidas masculinas, o Brasil teve quase todos os seus melhores resultados da década passada vindo desse grupo. No ano passado, já não fez nenhuma final. Agora, vai repetindo isso. Caribé parou na semifinal, assim como Fernando Scheffer, medalhista olímpico que ficou só em 16º nos 200m livre, e João Luiz Gomes Jr, veterano de 37 anos que foi 15º nos 100m peito.

Guilherme Basseto foi ainda pior, terminando em 23º nos 100m costas. Até Leo de Deus, um dos mais regulares da natação brasileira, foi só 17º nos 200m borboleta e nem se classificou à semifinal. Absurdo, saiu dizendo que o foco está nos Jogos Pan-Americanos.

No feminino, Stephanie Balduccini foi de semifinalista no Mundial do ano passado nos 100m livre a 13ª colocada agora, confirmando uma temporada ruim dela, a última antes de se mudar para os EUA. Claro que ela é jovem, nascida em 2004 (tem 18 anos), mas a campeã e recordista mundial Mollie O'Callaghan também é.

Continua após a publicidade

Ninguém espera que Stephanie seja campeã olímpica. Estamos falando de um país que, na natação feminina, conta nos dedos de uma mão as finais olímpicas. Mas a relação expectativa (final) x realidade (23º) tem sido muito frustrante.

Até aqui, o Mundial tem servido principalmente para classificar os revezamentos brasileiros a Paris. O 4x100m livre masculino, sexto do mundo (provavelmente seria sétimo se a Grã-Bretanha não tivesse sido desclassificada), está, na prática, garantido. O 4x100m feminino tem a vaga encaminhada.

Já o 4x100m medley misto abriu mão da vaga, hoje (26), ao permitir que João Luiz Gomes Jr se poupasse para a final dos 50m peito, uma prova que não é olímpica. Sem ele, o Brasil fez o 16º tempo das eliminatórias. Como o critério é classificar os 16 melhores tempos dos Mundiais de 2023 ou 2024, há grande risco de algum país que não foi top16 agora fizer tempo melhor que 3min48s00 em Doha.

E nem adiantou poupar João. Ele foi só sétimo na final.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • A atleta Stephanie Balduccini foi 13ª colocada nos 100m livre no Mundial deste ano, e não 26ª colocada, como informado anteriormente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.