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Cirurgia de Caio Souza faz ginástica perder porto seguro em busca de Paris

Revelada hoje (5), a ruptura total dos ligamentos do tendão de Aquiles esquerdo de Caio Souza é uma ducha de água fria na ginástica artística masculina do Brasil. Nenhum outro atleta é tão importante para a equipe e, sem o ginasta do Minas Tênis Clube, a chance de o time se classificar aos Jogos Olímpicos de Paris cai consideravelmente.

Eu havia entrevistado Caio na semana retrasada, durante o evento em que a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) apresentou a Nakal como nova fornecedora de uniformes. Na conversa, que o Olhar Olímpico ainda publicaria (e agora não faz mais sentido), Caio falou da busca por uma competição "perfeita".

Em franca evolução, ele foi 10º do Mundial do ano passado no individual geral, mesmo com erros visíveis e uma queda no cavalo com alças. Ainda assim, foi melhor do que a 13ª das três edições anteriores. Com os dois melhores do mundo (o japonês Daiki Hashimoto e o chinês Zhang Boheng) muito bem definidos, Caio achava que, com a competição perfeita, poderia brigar por um bronze no Mundial da Antuérpia, em setembro, e na Olimpíada de Paris.

Com a lesão séria, porém, não haverá competição perfeita na Bélgica nem para ele, nem para a equipe brasileira que, em um dia perfeito, poderia brigar por um quinto lugar e se classificaria à Olimpíada, no top12, sem grandes dificuldades. Sem Caio, o time fica na corda bamba.

Cada equipe tem cinco ginastas. Quatro se apresentam em cada aparelho nas eliminatórias, com a pior nota sendo descartada. Atleta regular e de alto nível, Caio costuma ter sua nota computada em todos os seis aparelhos. Arthur Zanetti (argolas, salto e solo) e Arthur Nory (solo, cavalo, barra fixa e assimétricas) se completam. Os outros dois da equipe, provavelmente dois generalistas, Diogo Soares e Yuri Guimarães, também se apresentariam em todos os aparelhos, com a melhor nota entre eles valendo para a classificação.

Sem Caio muda tudo, porque o Brasil perde seu ponto seguro, a nota certa. E também porque a ginasta brasileira, hoje, é dependente dos cinco titulares. Em tese o quarto generalista da equipe, que seria alçado a titular com a lesão de Caio, Lucas Bitencourt foi muito mal no Campeonato Pan-Americano deste ano. Se repetir uma apresentação deste nível no Mundial, provavelmente terá todas as notas descartadas. É como se o Brasil competisse com um atleta a menos, sem margem para erro.

Só que o Brasil não tem essa margem. Em 2022, terminou a eliminatória em sexto, com 245,3 pontos. E o 12º lugar, a Hungria, fez 242,6. Este ano, no Europeu, o patamar foi ainda mais alto. E, só de não contar com Caio Souza nas argolas, a equipe já sai com um ponto a menos.

A comissão técnica deve estar com a calculadora na mão para entender, desde já, qual é o cenário menos pior para repor a perda de Caio. Uma opção é Bernardo Actos, que, no Pan, teve boas notas nas barras fixa e paralelas, e também no salto. Mas o Campeonato Brasileiro, que começa em oito dias na Bahia, deve ser a grande oportunidade para todo mundo mostrar serviço.

Classificar a equipe completa é o melhor caminho até Paris. Se a vaga não vier, os ginastas ainda podem buscar vagas nominais, que dão direito a competir inclusive no individual geral. Por aparelho, como melhor do Mundial, excluindo aqueles de países classificados por equipes, ou como um dos dois melhores do circuito de Copas do Mundo de 2024, novamente excluindo os já classificados.

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Também ficando entre os oito melhores do Mundial no individual geral (como sempre excluindo os já classificados), ou como indicado das equipes que terminarem a competição em 13º, 14º e 15º lugares. Depois, o melhor dos Jogos Pan-Americanos no individual geral, entre os países não classificados, pega mais uma vaga. Como Caio não volta da cirurgia este ano, ele no máximo pode brigar pela vaga pelas Copas do Mundo.

Se esses critérios já valessem no Mundial do ano passado, o Brasil conseguiria vaga só com Diogo Soares, finalista do individual geral, e Arthur Nory, bronze na barra fixa. Zanetti também concorre nas argolas, mas o problema dele é que a Armênia não deve se classificar por equipes e teve dois finalistas no Mundial passado. Além disso, há sempre a concorrência do grego Petrounias, outro que briga só pela vaga de especialista.

Para Caio, resta torcer pela equipe. Se o time não se classificar, ele até poderia buscar a vaga pela Copa do Mundo, mas aí dependeria de o Brasil não ter, ainda, três classificados. Na hipótese de o Brasil ter direito a um indicado, Diogo (ou Yuri), e Nory e Zanetti, o Brasil já atingiria a cota máxima de vagas individuais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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