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Babi conquista respeito e põe Brasil em novo patamar na ginástica rítmica

Bárbara Domingos embarca este fim de semana para a Europa e sonha em trazer na mala, no fim do mês, uma vaga inédita para os Jogos Olímpicos de Paris. Finalista do Mundial de 2021, feito inédito para o país, ela tentará repetir a dose em Valência (Espanha). Se terminar no top17, terá o passaporte carimbado para as Olimpíadas.

Hoje a meta é realista, mas Babi sabe que, em um passado recente, um feito do tipo nem estava no radar. "A gente nunca pensou numa possibilidade assim tão real, né? A gente só teve a vaga quando teve a Olimpíada no Rio, como país sede. Conquistar vaga para a gente vai ser muito gratificante. Eu vejo que é possível, por tudo que a gente vem fazendo este ano no individual", diz ela.

Aos 23 anos, Babi vive a melhor fase da carreira, e os resultados em Mundiais mostram esta evolução. Até ela estrear, o melhor resultado do país no individual geral (que soma as quatro apresentações por aparelhos) havia sido a 35ª posição. A capixaba foi 54ª em 2018, 31ª em 2019 e 17ª em 2021. No ano passado, voltando de 10 meses de afastamento por lesão no quadril, terminou em 41º.

Na atual temporada, fez dois Top10 em Copas do Mundo e fechou o circuito com o 12º lugar em Milão, em competição que contou com toda a elite da modalidade. "A gente vê que é possível sim estar entre as oito, dez melhores. Antes a ginástica era um bloco, com as europeias. A gente ia só para competir, mas mostrar essa ginástica diferente que o Brasil tem. Hoje em dia não, hoje em dia a ginástica tem espaço para todo mundo", avalia.

Esse movimento só foi possível por uma mudança de diretrizes do código de pontuação, que é alterado em cada uma das modalidades da ginástica, no início de um novo ciclo olímpico. Desta vez, ele valoriza mais os movimentos artísticos, dando espaço para o crescimento de países cujas ginastas têm características diferentes daquelas que usualmente se destacavam.

Não é coincidência que Bárbara e Geovanna Santos, a outra brasileira convocada para o Mundial, sejam as únicas negras competindo com regularidade nas Copas do Mundo. "Eu levanto a bandeira para pessoas negras como eu estarem no topo. Não digo no primeiro lugar, mas entre as primeiras. Isso dá uma força para as ginastinhas que estão começando agora", diz Babi, que afirma se sentir acolhida na ginástica.

Investimento e respeito dos árbitros

A mudança no código de pontuação, porém, não explica sozinha a evolução da GR brasileira, seja no individual ou no conjunto, que chega ao Mundial como uma das cinco equipes com maiores chances de ir ao pódio — junto com China, Israel, Itália e Bulgária.

"Eu acredito que esse resultado é um fator de várias coisas, de várias pessoas ajudando a gente faz anos. Nos últimos anos, o investimento na GR aumentou. A gente conseguiu fazer mais campings fora do país, trazer mais treinadores estrangeiros para cá, e pôde aperfeiçoar nossos treinos e nossas coreografias, além de poder competir mais também. Antigamente a gente ia a poucas competições internacionais, então os juízes só viam a gente antes do Mundial. De uns anos para cá, isso mudou", opina.

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Em esportes subjetivos, especialmente os coreografados, essa recorrência perante aos juízes internacionais é valiosa. O árbitro passa a conhecer a série da ginasta e tem um parâmetro de pontuação. Isso torna a nota menos subjetiva, e diminui o risco de uma subavaliação.

"Quando a gente entra na quadra, ele já conhece a nossa série. Então nada passa em branco. Tudo que a gente faz eles vão estar lá pontuando, então é muito bom", explica Babi.

Esse reconhecimento, porém, não vem só dos árbitros. A relação da elite da GR mundial também já é outra. "Desde 2021, quando eu fui finalista mundial pela primeira vez, os olhos mudaram para a gente, eu criei um respeito. O Brasil era só mais um país que ia participar, hoje não mais. Tem um olhar diferente. Eles veem que a gente tem medalhas em Copas do Mundo, pode ganhar em um Mundial, estar em uma final de Mundial. Mudou muito", diz.

No Mundial de Valência, além de Bárbara Domingos, campeã pan-americana, o Brasil também terá Geovanna Santos, a Jojô, que foi vice. A comissão técnica optou por valorizar os ótimos resultados das duas no ano e adiar a estreia de Maria Eduarda Alexandre, jovem de 16 anos que é apontada como a grande revelação da GR brasileira.

O Mundial dá 14 vagas, com limite de duas por país, mas como Itália, Bulgária e Alemanha já têm uma pelo torneio do ano passado, na prática até a 17ª colocada em Valência deve ir à Olimpíada. O Brasil tem chances reais de qualificar tanto Babi quanto Jojô. Se não atingir a cota máxima (se só uma ou nenhuma se classificar), terá nova oportunidade pelo Campeonato Pan-Americano do ano que vem, que dará mais uma vaga. Como cada país pode inscrever três atletas, a tendência é Maria Eduarda entrar na briga.

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