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Resultados da base indicam futuro turbulento para o vôlei brasileiro

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Desde o último ouro olímpico brasileiro no vôlei, em 2016, a modalidade já distribuiu medalhas para 48 equipes em Mundiais de categorias de base. E o Brasil, que historicamente é a grande potência do esporte, só foi ao pódio duas vezes, com dois bronzes.

A péssima fase está sendo explicitada nos Mundiais realizados este ano. No masculino sub21 (júnior), a equipe perdeu de Itália e Argentina e terminou em sexto. No sub19 (juvenil), derrotas para Itália, Bélgica e Bulgária, e um modesto nono lugar. O feminino da mesma faixa etária também perdeu de Itália, Bulgária, EUA e até Croácia, e terminou em sétimo.

Em qualquer outra modalidade olímpica coletiva, um sexto, um sétimo e um nono lugar seriam resultados comemorados — a seleção masculina de handebol ficou em 15º no Mundial Juvenl na semana passada e festejou. Mas, no vôlei, essas campanhas devem ser motivo de muita preocupação.

O Brasil só é a potência que (ainda) é no vôlei adulto porque, antes, ganhou de tudo na base. Considerando os Mundiais Júnior e Juvenil, que seguem no calendário, e os sub23, que só tiveram três edições, o Brasil tem 21 medalhas de ouro, 16 de prata, e um total de 46. A Itália, de quem todos os times perderam este ano, têm 27 pódios e sete títulos. A Rússia, segunda maior força, soma 33 medalhas e 14 ouros.

Esse domínio, porém, é passado. A última seleção juvenil feminina a jogar uma final, 14 anos atrás, tinha como um dos destaques a central Bia. No júnior masculino são 10 anos de jejum. Na última final, Douglas Souza estava no time. Ela e ele têm em comum o fato de já terem encerrado seus ciclos na seleção adulta.

As consequências já estão sendo sentidas nas equipes principais. No masculino, em cinco edições da VNL, a equipe só foi ao pódio uma vez — na Liga Mundial, que a antecedeu, haviam sido 19 medalhas nas 25 edições anteriores. A seleção feminina até tem ido melhor (ganhou três pratas VNL), mas vai chegar em 2024 estando há sete anos sem vencer títulos importantes.

O esporte brasileiro de forma geral, não só o vôlei, tem concentrado cada vez mais os recursos na ponta da pirâmide, o que gera uma maturação mais tardia dos atletas. Jovens com resultados intermediários na base recebem investimento direto (salários, patrocinadores) e indireto (infraestrutura, intercâmbio) e passam a brigar por posições melhores no adulto.

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Essa é uma roda, porém, que gira para trás. Para o time sétimo colocado na base brigar por medalhas no adulto, vai precisar atrair mais investimentos (financeiros e de energia). E como o cobertor é curto, a tendência é faltar para a base, que não vai conseguir repetir o sétimo lugar. O gap para o pódio aumenta, a necessidade de investimento também, e a geração seguinte sente ainda mais. É um ciclo sem fim.

A CBV precisa chamar federações, clubes, técnicos e patrocinadores para conversar e traçar uma estratégia conjunta. Obrigar quem joga a Superliga a ter times de base em xis categorias, impor uma cota de jovens nos elencos e nas rotações, algo que aumente o leque de atletas de 17, 18, 19, 20 anos, jogando em alto nível. O vôlei precisa dessa correção de rumos, antes que seja tarde demais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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