Arábia Saudita paga premiação recorde a olímpicos: 14h do salário de Neymar
O dinheiro pode comprar os melhores jogadores de futebol, os melhores golfistas, os carros mais rápidos, mas ainda não compra resultado esportivo, ao menos não diretamente. Se comprasse, a Arábia Saudita seria potência olímpica.
Realizado pela primeira vez no ano passado, o "Saudi Games", uma espécie de Olimpíada interna do país, pagou uma premiação de SR1 milhão (R$ 1,3 milhão) para cada campeão nacional. Ainda que o valor não pague 14 horas do salário noticiado de Neymar (R$ 70 milhões por mês), ele é muito fora da curva para a maior parte do esporte olímpico mundial.
No tênis de mesa, por exemplo, o principal evento do circuito mundial paga US$ 35 mil (R$ 175 mil) ao campeão. Na natação, o campeão mundial ganhou US$ 20 mil (R$ 100 mil) pelo ouro. O atletismo, desses, é quem pagará mais no Mundial deste ano: US$ 100 mil (R$ 500 mil) aos campeões. Mesmo assim, menos da metade do que ganha o melhor da Arábia Saudita em cada prova.
"Várias federações nacionais da Arábia Saudita acionaram o Guinness Book para terem reconhecido que o Saudi Games foi a maior premiação já paga naquela modalide no mundo todo", conta o brasileiro Marcelo Braga, que trabalha para o comitê olímpico saudita, organizador do torneio.
A ideia é, além de promover o esporte, uma das bandeiras da "Visão 2030', programa nacional que visa mudar a imagem e a economia da Arábia Saudita e identificar potenciais talentos para representar o país em competições que vão dos Jogos do Golfo às Olimpíadas.
Na principal competição poliesportiva do planeta, a Arábia Saudita tem uma modesta coleção de quatro medalhas. Ganhou uma prata no karatê em Tóquio-2020, outra no atletismo em Sydney-2000 e dois bronzes no hipismo, único esporte onde é possível comprar um atleta — no caso, o cavalo. E os sauditas não costumam economizar para ter os melhores animais do mundo à disposição de seus cavaleiros.
Quando o assunto é atleta, porém, não há para onde correr. Diferente dos vizinhos Bahrein e Qatar, que têm população nativa pequena e compensa isso com uma política de naturalizações, a Arábia Saudita tem regras rígidas para definir quem pode representar o país.
Até recentemente, esse direito era exclusivo dos cidadãos sauditas, filhos de famílias sauditas. Essa regra foi flexibilizada e, atualmente, quem nasceu na Arábia Saudita, mesmo que filho de estrangeiro, pode defender o país, ainda que o número de beneficiados por esta medida seja muito restrito.
Com uma população de 35 milhões de pessoas, o governo saudita entende que tem talentos para ser mais bem representado nos esportes. Só precisa encontrá-los e ajudá-los a chegar ao alto rendimento. Uma das ações neste sentido foi começar a pagar um salário a atletas de ponta, que antes viviam no amadorismo.
Além disso, o país tem planos para construir, nos próximos cinco anos, um grande centro de treinamento de alto rendimento, nos moldes da Aspire Academy, que existe no Qatar. Os melhores atletas do país serão direcionados a esta estrutura e lá terão melhores condições de brigarem entre os melhores do mundo.
O projeto do país passa ainda pela atração de grandes eventos internacionais — o Mundial de Skate, em fevereiro, foi em Riad -, e pela contratação de técnicos estrangeiros de ponta. Marcelo Braga diz que, consultado pelos colegas de comitê, já repassou o currículo de treinadores brasileiros, que podem vir a aceitar o bom salário oferecido pelos sauditas.
Para Paris, o objetivo é classificar pela primeira vez uma mulher, já que todas as vezes que competiu no feminino o país o fez por convite, e tentar ganhar ao menos uma medalha. O hipismo, como de costume, é a grande aposta.
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