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Vôlei: Derrota histórica escancara que Renan precisa sair

Não existiria vôlei brasileiro tricampeão olímpico se, lá atrás, não tivesse existido Renan Dal Zotto. O gaúcho foi ídolo de gerações, colocou a modalidade em evidência no país, e foi protagonista de uma prata mundial e outra olímpica.

Renan é um gigante do vôlei brasileiro, mas não pode mais ocupar o cargo de treinador da seleção brasileira masculina. A derrota de ontem para a Argentina, que fez o Brasil pela primeira vez perder o título sul-americano, não foi um mero tropeço, um jogo abaixo da curva. Foi a consequência de um trabalho ruim há anos.

Vide a VNL, torneio que substituiu a Liga Mundial. Nas duas últimas temporadas o Brasil foi sexto, acumulando cinco derrotas em cada torneio. São números que mostram uma seleção que, hoje, ocupa esse patamar. Está ali entre a sexta do mundo, vendo Polônia, Itália, Japão, EUA, e agora indiscutivelmente a Argentina, à sua frente.

Os argentinos já haviam sido algozes no jogo da medalha em Tóquio-2020. Na VNL deste ano, o Brasil até os venceu, em junho, em um jogo em que o oposto Abouba foi o destaque, com 11 pontos. Melhor jogador da fase de grupos da Champions League (tal qual no futebol, o maior torneio interclubes do mundo), não foi mais convocado.

Há muito tempo é gritante que a seleção tem um "grupo de jogadores de confiança" (vulgo "panela"), que passa de geração para geração. Enquanto o grupo entregava resultado, até havia um forte argumento para mantê-lo. Só que a fonte de medalhas secou, e a panela continua lá, cada vez mais no fogo.

Renan parece disposto a se queimar abraçado com seu grupo, mas a CBV tem a obrigação de pensar prioritariamente no vôlei brasileiro. Radamés Lattari, agora presidente de fato da CBV, é amigo pessoal do treinador, mas o futuro da seleção não pode estar atrelado a dívidas de gratidão.

Que se pegue o próprio exemplo de Radamés: um quarto de século atrás, ele foi mantido como técnico da seleção apesar de ter passado em branco na Copa do Mundo de 1998 e no Mundial de 1999. Cair nas quartas de final das Olimpíadas de Sydney-2000 com um time que tinha Giba, Giovane, Gustavo, Maurício e Nalbert foi só consequência.

Agora, a seleção que perdeu de 3 a 0, ontem, no Geraldão lotado, em Recife (PE), para a Argentina, corre risco real de não ir à Olimpíada de Paris. O time joga o Pré-Olímpico daqui a um mês, novamente em casa, no Maracanãzinho. O torneio é um octogonal de todos contra todos, e a seleção brasileira enfrenta, além da favorita Itália, também Irã e Cuba, além de outras equipes menos cotadas.

Se o Brasil não conseguir a vaga (e é possível que não consiga), passaria a ficar dependente do ranking mundial. Serão cinco vagas, que priorizam continentes sem classificados, ainda que o mais provável seja só a África usar essa cota. Esses passaportes, porém, só serão distrubuídos após a VNL do ano que vem, o que aumentaria, e muito, a pressão em um período que deveria ser de preparação para Paris.

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Após o jogo de ontem, Bruninho afirmou que a Argentina "jogou mais solta", e isso diz muito sobre o Brasil, que jogava em casa. A seleção precisa de um novo ar, de um novo gás, de um novo horizonte. Precisa de alguém como Marcelo Mendez, treinador argentino de enorme sucesso no vôlei brasileiro, que deveria ter sido contratado para treinar a seleção verde-amarela em 2017.

Qualquer um que olhe o que aconteceu depois daquela decisão percebe o erro. Mendez levou a Argentina ao bronze olímpico e ao título de ontem, enquanto o Brasil, que tem mais tradição, liga mais forte, mais recursos, mais mão de obra, etc, patina sob o comando de Renan.

Não dá tempo de corrigir aquele erro — até porque o argentino não deixaria o cargo de técnico da seleção argentina, por supuesto — mas já é hora de evitar um novo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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