Ana Moser é demitida de ministério que nunca foi 100% dela
Informada nesta quarta-feira (6) da sua demissão do cargo de ministra do Esporte, Ana Moser deixa uma função que nunca exerceu plenamente. Sentou na cadeira, mas não teve a caneta sequer para nomear seu time. Quando começava a temporada de entregas, perdeu o cargo.
Não é que o Centrão esteja chegando ao ministério do Esporte. O grupo está lá desde março, na figura de Thiago Milhim, secretário nacional de Esporte Amador, Educação, Lazer e Inclusão Social. O nome do cargo é longo, mas a função é breve: atender políticos e liberar emendas.
Millhim é do Podemos, partido que queria ter lançado Sergio Moro candidato a presidente contra Lula (PT). No ministério de Ana Moser, a distribuição de verbas, principal interesse do Centrão, já era feita pelo Centrão, beneficiando — nenhuma surpresa — especialmente o Centrão.
Quando foi nomeada ministra, a ex-jogadora esperava ter poder para montar equipe. Nomeou o ótimo Diogo Silva como assessor e assumiu como dela a indicação de Marta Sobral, campeã mundial basquete, militante do PT, para comandar a secretaria de alto rendimento. Mas as nomeações acabaram por aí.
Se o PP chega ao ministério já pedindo mais, Ana não teve nem o mínimo, e teve que disputar espaço com Edinho Silva, prefeito de Araraquara (SP), que estava por trás de determinadas nomeações.
O ministério do Esporte virou um cabide para atender interesses dos mais diversos. Para ficar em um exemplo: Edcarlos, ex-zagueiro do São Paulo, cuida da área de direitos do torcedor como indicado do Patriota, apesar de ter quase nenhuma experiência fora dos gramados.
Fosse uma política da profissão, Ana Moser teria sido mais ágil e assertiva nas indicações, buscado respaldo no Congresso e ampliado seu espaço dentro do ministério. Mas a ex-jogadora não só não tem esse perfil como parece ter acreditado que tinha mais apoio de Lula do que de fato tinha.
Tanto que, por meses, irritou deputados, senadores e autoridades do esporte comparecendo por poucos minutos às audiências pedidas por eles, sempre de máscara, para tirar fotos, deixando com assessores o papel de dialogar. A precaução se justificava: o filho dela pegou covid na cerimônia de posse, e ela redobrou os cuidados. Mas a máscara, combinada com a ausência, foi vista como sinal de desleixo político.
Quando o Centrão já estava de olho na cadeira dela, tentou construir um arco de apoio, mas — verdade seja dita — não conseguiu ampliar esse respaldo para além daqueles que já a cercavam. Quantos deputados, senadores, e atletas que não ativistas políticos saíram publicamente em defesa da permanência dela no cargo nos últimos dias? Pouquíssimos, se a resposta não for "nenhum".
As entidades que comandam o esporte de rendimento no país, pelo contrário, da última vez que se posicionaram, criticaram o trabalho de Ana Moser na regulamentação de tudo que ficou descoberto com os vetos à Lei Geral do Esporte, um serviço que ela tinha até a próxima segunda-feira para concluir.
Depois de diversos atropelos na época da sanção da lei, desta vez a ministra parecia estar aberta ao diálogo, mas os comitês (exceto o CPB) pensaram primeiro no deles. Ajudaram a fritar uma ministra que, como eles, respirava esporte. Agora terão André Fufuca.
Ana Moser cai antes das grandes entregas que prometia até o fim do ano. Alguém com perfil mais político talvez tivesse se apressado, pulado etapas, e mostrado serviço para se segurar no cargo quando os ventos mudassem. Ana Moser acreditou que só deixaria a Esplanada quando Lula também fosse embora. Foi enganada, como já havia sido quando recebeu a promessa de que comandaria o ministério do Esporte.
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