Newsletter: Olimpíada nos EUA pode ter 'flag football', críquete e ninjas
Esta é parte da versão online da newsletter Olhar Olímpico enviada hoje (12). A newsletter completa ainda fala sobre os bons resultados de atletas brasileiros no final de semana no tiro com arco, ciclismo e atletismo, o título mundial de Filipe Toledo no surfe e a pressão sobre Renan Dal Zotto na seleção masculina de vôlei com o retorno de Bernardinho. Quer receber antes o pacote completo, com a coluna principal e mais informações, no seu e-mail, na semana que vem? Clique aqui e se inscreva na newsletter. Para conhecer outros boletins exclusivos, assine o UOL.
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Se coubesse ao Brasil decidir quais esportes entrariam no programa olímpico em 2016, a escolha talvez fosse por futsal, beach tênis e truco. Mas esse poder nunca esteve na mão dos dirigentes brasileiros como está agora no dos norte-americanos, que se preparam para realizar os Jogos de 2028 em Los Angeles.
E eles defendem um programa bastante peculiar, com a inclusão de flag football, críquete e uma prova de American Ninja Warrior. Isso sem contar o skate e o surfe, diretamente associados à Califórnia, já incluídos antes, e o breaking, que nasceu em Nova York, vai estrear na Olimpíada de Paris-2024 e depois será mantido.
Uma comissão do COI (Comitê Olímpico Internacional) deveria ter enviado uma recomendação final ao Conselho Executivo na sexta-feira passada (8), a partir de uma lista de oito finalistas. O conselho, por sua vez, tem que apresentar uma proposta na próxima sessão do COI.
Critérios
Duas diretrizes fundamentais são utilizadas na escolha:
- Uma é o limite de 10.500 atletas, somadas todas as modalidades, combinado entre COI e comitê organizador quando Los Angeles assinou o contrato da cidade-sede, em 2017. Desde então, skate, surfe e escalada foram adicionados ao programa, mas com uma cota, somada, de 204 atletas, que pode ser compensada cortando de outras modalidades.
- A outra é o apelo comercial e a possibilidade de atrair novos fãs. Daí o favoritismo de críquete e flag football, dois esportes que muito provavelmente você nunca assistiu. Já o Ninja Warrior é outra história. Já já chegamos lá.
Por que o críquete?
O críquete até já foi olímpico, em 1900, quando França e Grã-Bretanha fizeram um único jogo. O esporte é tido como o segundo mais popular do mundo, só atrás do futebol, com mais de 2 bilhões de fãs, especialmente no subcontinente indiano. A modalidade é o esporte nacional da Índia (1,4 bilhão de pessoas), do Paquistão (231 milhões) e de Bangladesh (169 milhões), ainda que praticamente só exista nos países que um dia foram dominados pela Inglaterra.
Mas sua inclusão no programa olímpico nunca havia sido discutida a sério, nas últimas décadas, pelo formato do jogo tradicional, o "test críket', em que cada partida dura ao menos seis horas. A final da última Copa do Mundo, por exemplo, começou às 10h45 e terminou 18h15, o que torna o jogo inviável para a televisão comercial do resto do mundo.
O pulo do gato foi a criação de um modelo mais compacto, o Twenty20 (T20), em que os jogos duram cerca de três horas. Guardadas as devidas proporções, é o mesmo movimento feito pelo rúgbi para virar esporte olímpico, com a promoção do rúgbi sevens, que tem jogos ágeis que duram minutos, e a manutenção do rúgbi XV em torneios como a Copa do Mundo (que está rolando na França, aliás).
O T20 levou o críquete aos EUA, com a criação da Major League Cricket, que estreou em julho passado, com duas franquias na Califórnia, uma delas em Los Angeles. O torneio tem como investidores alguns gigantes da tecnologia, muitos deles indianos, e um grande potencial para aproximar culturalmente os EUA do enorme mercado consumidor indiano.
Adicione à receita o interesse do COI, e dos patrocinadores do COI, no público indiano, que cada vez parece mais interessado nas Olimpíadas. Das 35 medalhas conquistadas pela Índia na história, 15 vieram nas últimas três edições.
Críquete na Olimpíada: é bom pro COI, é bom pros patrocinadores, é bom para uma enorme base de fãs e é bom para os interesses geopolíticos dos EUA. Logo, vai rolar.
Por que o flag football?
Considere que 1) o futebol americano demanda elencos gigantescos, que não cabem na Olimpíada; 2) o rúgbi deu o exemplo com a criação do sevens; 3) o flag football é uma versão reduzida e mais barata do futebol americano, com times de cinco jogadores e o contato substituído por arrancar a bandeira (flag) carregada na cintura pelo adversário que carrega a bola oval.
Pronto, você já entendeu por que vai ter flag football nas Olimpíadas em Los Angeles. É a chance de os EUA exportarem para o resto do mundo o esporte que só existe lá, com uma versão que pode ser jogada nas escolas, na rua, em ginásios, gramados, etc.
E a corrida de obstáculos?
Essa é um pouco mais complicada de explicar. Comece considerando que, para uma prova ser olímpica, antes o COI precisa criar uma relação com a respectiva federação internacional. O caminho é muito encurtado quando essa relação já existe. Vide a inclusão do vôlei de praia e basquete 3x3.
Em vários casos, um esporte é apresentado por uma federação que serve de barriga de aluguel, a pedido da nova modalidade, ou se impondo sobre ela. O breaking virou olímpico pela federação de dança. O skate, pela de patins — e reclama disso até hoje. A ginástica quer incluir o parkour — o que causou um racha na modalidade/atividade física. E o Stand Up Paddle é disputado por remo e surfe.
A corrida de obstáculos deve virar olímpica como prova do pentatlo moderno, e com apoio direto da NBC, que não só transmite as Olimpíadas por lá como é sócia dos Jogos de Los Angeles.
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