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Por que chegada de Fufuca ao Esporte anima cartolas 'olímpicos'

André Fufuca (PP-MA), deputado federal que toma posse hoje (13) à noite como ministro do Esporte, deve receber, na cerimônia de investidura no cargo, uma legião de cartolas que foram até Brasília com pressa de estreitarem laços com o novo dono da caneta mais poderosa do esporte.

Demitida, Ana Moser vinha sofrendo fortíssima pressão dos seis comitês que recebem recursos das loterias federais e que os distribuem para o movimento ollímpico e seus clubes, o movimento paralímpico e seus clubes, o esporte escolar e o esporte universitário.

Ela tinha até ontem (12) para apresentar uma solução legislativa para preencher as lacunas criadas pelos vetos à Lei Geral do Esporte. Nas últimas semanas, Ana Moser e a equipe dela vinham trabalhando nesse texto, que encontrava enorme resistência nos comitês.

Quando ela ainda estava na corda bamba, o grupo (com exceção do CPB) soltou dura nota criticando a regulamentação e ajudando a dar um empurrãozinho a mais para ela cair. Não à toa que nenhum comitê ou confederação, nem mesmo a de vôlei, lamentou publicamente a demissão de uma medalhista olímpica para que o ministério fosse entregue ao Centrão.

Também não houve lamentação nos bastidores, pelo contrário. Sem Ana Moser, cai quem defendia um maior controle sobre como esses comitês utilizam os recursos das Loterias. COB e CPB, especialmente, têm mecanismos elogiados de controle sobre a utilização desse dinheiro. Muitas vezes, são mais rígidos até do que exige o Tribunal de Contas da União (TCU).

Mas é preciso — e aqui é uma opinião pessoal deste colunista, compartilhada por quase todo mundo do movimento olímpico com quem converso — fiscalizar o que faz o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). Justamente o órgão do esporte brasileiro que mais tem acesso a gabinetes em Brasília e força para, por exemplo, ajudar a derrubar uma ministra que vá contra seus interesses.

Essa fiscalização, contudo, não era o único ponto de conflito entre cartolas e Ana Moser. Quando ainda era só uma ativista da ONG Atletas pela Cidadania (agora Atletas pelo Brasil), a ex-jogadora conseguiu que virasse lei que nenhum dirigente pode se reeleger mais de uma vez. Como já é com prefeituras, governo estaduais, e presidência da República.

Essa regra deveria já ter valido na leva de eleições de confederações de 2020/21, mas diversas delas reelegeram seus cartolas para mais um mandato, conseguindo pela Justiça a certificação do ministério do Esporte para seguirem recebendo as verbas das Loterias. Ana Moser pretendia barrar essa farra.

O assunto interessa principalmente à diretoria do COB. Paulo Wanderley passou de vice a presidente em 2017, foi reeleito em 2020, e quer mais uma reeleição, alegando que o primeiro mandato, que ele herdou de Nuzman, não vale para a conta. Com Ana Moser, essa tese não teria lugar. Com Fufuca, quem sabe?

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A primeira trincheira já está aberta. Ana Moser deixou uma portaria sobre a Lei Geral do Esporte pronta para ser publicada, mas Fufuca pode, se convencido pelos cartolas, puxar o texto de volta para o ministério e ceder à pressão que eles vinham exercendo sobre à ex-ministra. Seria uma derrota para o esporte brasileiro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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